Modelos de coroas não circulares

Atualizado em 03 de maio de 2016
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Na edição de fevereiro da revista VO2 Bike (número 101), você ficou sabendo mais sobre as coroas não circulares. Confira agora mais detalhes sobre os três modelos conhecidos e dicas para quem quer usá-las.

Rotor Q-Ring

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Preço: aproximadamente US$ 220 (o par)

Conceito: Coroas elípticas com o propósito de aumentar a geração de potência, reduzir a fadiga e prevenir lesões. Com cinco posições de ajuste na aranha da pedivela, a “ponta” de maior largura da Q-Ring pode ser posicionada pouco depois do braço, oferecendo mais tração na corrente no ponto de maior incidência de força do ciclista, reduzindo o tempo de passagem pelos pontos mortos e tornando a pedalada mais constante. Uma coroa 53 da Rotor equivale a uma 54 convencional.

Histórico: Elas ganharam atenção de vez quando Carlos Sastre venceu o Tour de France em 2008. Aos poucos, outros nomes de peso passaram a usar o equipamento, incluindo muitos triatletas e mountain bikers. A equipe World Tour Garmin é patrocinada pela Rotor, mas apenas alguns nomes da equipe optam pelas coroas ovais. No ano passado, a marca lançou um modelo ainda mais oval, o QXL, com foco nos sprints e subidas.

Resultado: A Rotor anuncia em seu site oficial uma série de benefícios, como um ganho de 4s por quilômetro. No artigo publicado por Rodrigo Bini, comparando com uma coroa convencional, estudos apontam até 14% de economia de energia. 

Osymetric

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Preço: aproximadamente US$ 290 (o par)

Histórico: O francês Jean-Louis Talo desenvolveu sua coroa revolucionária no sul da França nos anos 90 e, desde então, trabalha nos arredores de Mônaco, mostrando sua criação para nomes de respeito, como Alexander Vinokourov e Bobby Julich, o primeiro grande ciclista a usar o equipamento e a conquistar a medalha de bronze (depois herdou a prata) nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. Atualmente, segue sem patrocinar ciclistas profissionais, mas já não precisa mais correr atrás de atletas. Por dois anos consecutivos, a coroa Osymetric foi usada pelo campeão do Tour de France, Brad Wiggins e o atual campeão, Chris Froome. No Mundial de Ironman, no Havaí, foi utilizada pelo campeão da prova Frederik Van Lierde.

Conceito: A Osymetric utiliza o termo twincan como a definição do seu formato. Uma figura com lados opostos simétricos e cantos arredondados. A ideia é aumentar o momento — e o tempo de tração — nos pontos de força e reduzir nos pontos mortos. Em tese, uma coroa Osymetric de 54 dentes representa o mesmo que uma coroa 58 na área maior e 50 na menor.

Resultado: A pedalada não chega a ser quadrada, mas qualquer vídeo de Froome no Tour de France 2013 deixa clara a diferença de esforço entre a tração e a recuperação nos pedais, principalmente em comparação aos rivais. A semelhança com o movimento de um pistão é nítida. Mas há poucos resultados científicos sobre a eficiência desse mecanismo — ou seja, não há evidências de que o atleta britânico não teria o mesmo desempenho com a coroa tradicional.

Shimano Biopace

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Preço: Disponível apenas de segunda mão.

Histórico: Comercializado entre 1983 e 1993, o Biopace é um dos mitos do ciclismo recente. Com o suporte da japonesa Shimano, foi utilizado em grande escala por ciclistas profissionais e amadores, com o aval de nomes consagrados, como o falecido Sheldon Brown. Atualmente, persiste no universo das bikes fixas.

Conceito: O formato ovaloide pretendia melhorar a inércia do ciclo de pedalada, para a redução do gasto energético e do esforço muscular. O ponto de maior “raio” coincide com o braço da pedivela.

Resultado: O Biopace não é lembrado com muita saudade. Um dos principais motivos é que a pedalada ficava muito irregular, causando um grande incômodo ao ciclista. Outro problema era a dificuldade de ajuste na aranha da pedivela. Com apenas uma posição, a coroa sobrecarregava demais o passo do ciclista — em muitos casos foram atribuídos a ela inúmeros problemas de joelho. O desgaste foi tão grande que duas coisas chamam a atenção no marketing das concorrentes: a ênfase em uma pedalada sem saltos e a ausência de riscos ao joelho.

DICAS

A primeira pedalada sempre causa estranheza. É normal. Insista ao menos em três sessões de treino.

As coroas não circulares trabalham musculaturas diferentes, por isso é recorrente sentir um cansaço muscular atípico nas primeiras sessões.

Todas as coroas não circulares exigem ajustes na bicicleta, como a posição do câmbio dianteiro, para ter a amplitude aumentada.

Corrente e polias do câmbio traseiro, em alguns casos, também exigem substituição.

Em geral, as coroas não circulares são compatíveis com todos os grupos, mas a ausência de câmbios específicos torna a troca de marchas menos eficiente do que os conjuntos tradicionais.

Um protetor de corrente é bem-vindo.

Não faz muito sentido ter coroas diferentes na mesma bike. Caso opte por um modelo, utilize o prato maior e o menor dele.

A furação da sua pedivela não foi feita para aquela coroa, por isso cuidado ao parafusá-la para que o encaixe fique bom e não danifique as duas peças.

A mudança das coroas tradicionais para as não circulares pode alterar o bike fit do ciclista. Consulte um especialista.

Posicionamento

“Nas experiências que tive com atletas utilizando as coroas não circulares, sempre foi necessária a realização de algum tipo de correção anteroposterior no selim após a mudança das coroas tradicionais para as não circulares na mesma bicicleta. Entre as articulações envolvidas na pedalada, aquela em que sempre notei uma maior diferença de trabalho foi a do tornozelo. Realizando a análise tridimensional, também percebi uma dificuldade em entender se as mudanças encontradas no trabalho das articulações e nos músculos durante o movimento da pedalada com esse tipo de coroa eram positivas ou não, em termos fisiológicos, ganho de eficiência ou mesmo ganho de potência. E nem se podiam ser estendidas a diversos ciclistas. Claro que temos ciclistas que apresentam algum tipo de ganho significativo com o uso dessas coroas, mesmo que na mudança da técnica de pedalada ou na sensação de uma pedalada mais suave. Ainda temos campo para estudos que demonstrem mais do que os fabricantes prometem. Da minha parte, a indicação ao uso dessas coroas ainda é bem difícil, pois já vi ciclistas que se adaptaram perfeitamente, como ciclistas que não conseguiram utilizar em mais do que um treino.”

Por Marcelo Rocha, profissional de educação física, Master Fitter e instrutor oficial certificado pela Retul