Como é ser ciclista em uma cidade australiana

Atualizado em 20 de setembro de 2016

Não há expressão melhor do que “bike friendly” para descrever Perth, cidade localizada na costa oeste da Austrália. A região possui uma excelente infraestrutura para ciclistas, que inclui extensas ciclofaixas, bicicletários e, o mais importante, educação e respeito no trânsito. Morando há quase um ano por lá, a ciclista Marília Duarte dá detalhes sobre as facilidades de usar a bike como meio de transporte na cidade. Confira:

“Praticamente todos os estabelecimentos estão preparados para receber ciclistas – isto porque elas são um importante meio de locomoção da cidade. Além disso, há uma grande oferta de estacionamento para bikes nas ruas e em empresas. Trabalhei por um tempo em uma grande companhia em que cada andar do prédio possuía pelo menos um chuveiro com toalhas limpas disponíveis para os funcionários.

Aqui não há vagão e dia específico para entrar nos trens com sua bike, apenas nos horários de pico que não é permitido, mas mesmo assim o serviço facilita a vida daqueles que vão para o trabalho pedalando. É comum ver, portanto, pessoas vestidas de roupa social e de bicicleta dentro do trem.

Mas não pense que são apenas adultos que pedalam em Perth. Diariamente, vejo muitas crianças pedalando para ir e voltar de suas escolas. E a segurança é tão boa que elas vão sozinhas. O que garante essa tranquilidade é a excelente infraestrutura que o local oferece. Em todo trajeto há sempre uma ciclofaixa muito bem sinalizada.

Mas, mais importante do que isso, é o trabalho de conscientização feito pelo Governo – e a rigorosa legislação de trânsito. É proibido pedalar sem capacete, falando no celular e depois de ter bebido. E as pessoas respeitam as leis.

Vivenciei duas situações que foram muito interessantes para mim e que me ajudaram a entender como essa convivência entre motoristas, ciclistas e pedestres funciona tão bem. Certa vez, à noite, no caminho para casa, fui abordada por um policial por causa da minha lanterna, que estava apagada, sem bateria. Ele foi dirigindo ao meu lado bem devagar e explicando a importância de usar a lanterna para que os motoristas consigam me enxergar. No final, ele ainda me perguntou se eu achava que tudo aquilo fazia sentido. Fiquei tão envergonhada que quase terminei o trajeto empurrando a bike.

A outra situação foi quando eu estava no papel inverso, ou seja, de motorista. Parei em um farol no qual a conversão à direita era obrigatória e, portanto, não havia outra opção. Percebi que todos os motoristas estavam com a seta ligada. Então eu perguntei a um amigo o porquê das pessoas ligarem a seta, se não havia outra opção além de virar à direita. Ele me respondeu dizendo que os motoristas atrás de mim sabiam disso, mas os pedestres e ciclistas poderiam não perceber – e, por isso, eu deveria sempre utilizar a seta para evitar acidentes. Fiquei surpresa e chocada pela obviedade do que ele me disse, apesar de eu nunca ter pensado assim. Essas situações mostram bem a educação e respeito que os australianos têm no trânsito, sejam eles motoristas, pedestres ou ciclistas”.