De bike pelas gargantas do cânion do Itaimbezinho

Atualizado em 24 de janeiro de 2018
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>> Parte 1 da nossa aventura pelos cânions do Itaimbezinho <<

 

É possível que mais brasileiros já tenham ouvido falar do Gran Canyon, nos Estados Unidos, do que dos cânions do Itaimbezinho e Fortaleza.Encravados na divisa entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina, os imensos gigantes ostentam paredões de até mil metros.

Para completar, cachoeiras imensas desfilam abismo abaixo. Lá em baixo, pequeninos, rios correm em direção ao mar. E o melhor: dá para percorrer boa parte disso de bike. Durante a virada do ano, fui até lá participar de um pedal em grupo pelo lugar, com a agência Caminhos do Sertão.

 

O cânion do Itaimbezinho

Na chegada, a sensação é de pequenez e deslumbramento. Ao dar de cara com aquelas gargantas com centenas de metros de profundidade muita gente se faz a pergunta: por que não vim aqui antes? Os cânions se formaram há cerca de 130 milhões de anos após uma forte explosão subterrânea ter levantado um derrame de lavas basálticas que se esparramaram em forma de crosta e depois racharam. As bordas afiadas davam a sensação de terem sido aparadas à faca, o que deu ao lugar o nome de Aparados da Serra. Bem depois disso surgiu a cobertura de mata atlântica e araucárias que dá o charme singular desses cânions nadas desérticos.

O pedal dentro do parque de Aparados da Serra

Dentro do Parque de Aparados da Serra, o centro de visitantes é um bom ponto de partida. Da portaria até lá, cerca de 4 km de ótimo asfalto. Após aprender mais sobre a formação geológica que ainda se mantém oculta na paisagem, a fauna e a flora do parque, é hora de pedalar. Mas antes, observe (e escute) as lindas gralhas-azuis que vivem nas árvores ao lado do centro.

 

Tremendo visual (Foto: Felipe Mortara)

 

A trilha básica

Duas opções principais de trilha saem do centro de visitantes. Recomendo começar com a mais simples para guardar a vista mais incrível para o gran finaleSendo assim, siga as placas para a Trilha do Vértice, com apenas 1,5km – uma barbada. O mirante diante da Cachoeira Véu de Noiva é surreal. Durante os meses quentes a chuva impulsiona ainda mais os 300 metros de queda. E já dá uma ótima ideia do que é o lugar.

A trilha especial

Outros famosos pontos turísticos brasileiros ficariam com inveja diante da absurda vista do Mirante do Cotovelo. Para chegar até lá, 6km de um pedal tranquilo e plano em meio à mata atlântica. A sensação ao ver o penhasco logo ali e pedalar bem pertinho do abismo é única. Tanto para a direta, como para a esquerda – com a Véu de Noiva e outras duas cachoeiras menores, a vista é absurda. Confesso que vale a pena deixar a bike de lado e percorrer a pé alguns cantinhos – e achar o melhor ângulo para a sua foto memorável.

(Foto de Fernando Torrezan)

Pedalar fora do parque

A Estrada do Crespo é uma graça de percurso de terra com uma altimetria bastante gentil. No entanto, há trechos mais agudos de aclive e dá para suar bem a camisa. O roteiro da Caminhos do Sertão propôs um almoço com piquenique sob eucaliptos – uma santa sombra. Neste dia, a pedalada estava particularmente ardida e o sol castigava a pele. Por conta disso, boa parte do grupo desistiu do trecho mais pesado, de cerca de 23 km, sendo a maioria morro acima.

Pelo chão

Majoritariamente de terra, as estradas têm longos trechos com pedras soltas e é preciso tomar muito cuidado nas descidas. Alguns pontos acumulam águas das chuvas e é possível que haja barro em dias mais úmidos. Espere por inusitados trechos de grama, que são uma delícia de pedalar.

Tome cuidado com…

O horário e a cerração. Pela manhã é sempre mais fácil encontrar tempo bom dentro dos cânions. Mas, localizados a menos de 100 km do mar, eles estão sujeitos a massas de ar que vêm rapidamente do oceano Atlântico. Resultado: tudo pode nublar em minutos. São frequentes as neblinas muito espontâneas.

Uma vez na entrada do parque, uma surpresa. Sem repasses do governo Federal, o ICMBio, órgão responsável por cuidar dos parques nacionais pelo País, ameaçou fechar tanto o de Aparados da Serra como o da Serra Geral. Sendo assim, a Associação dos Empreendedores Turísticos de Cambará do Sul (AETURCS) resolveu criar uma escala de plantões voluntários para manter o parque funcionando. E, mais do que isso, promoveram melhorias, como nova sinalização.

A melhor época

Para evitar a possibilidade de não ver os cânions, a melhor época são os meses de inverno, entre junho e agosto. O frio é garantido – Cambará do Sul registra algumas das menores temperaturas mínimas do país – mas o visual costuma estar bem desobstruído também.

O resto do ano o clima é mais confortável, mas há o risco de não ver os cânions em toda sua beleza. A dica, nesses casos é acompanhar a previsão do tempo, conversar com operadores locais e tentar visitar nas primeiras horas da manhã.

A região

Áreas de preservação permanente, o Parque Nacional de Aparados da Serra e o vizinho Parque Nacional da Serra Geral abrigam os maiores cânions do Brasil. Além dos famosos Itaimbezinho e Fortaleza, outros menos festejados, como o Malcara, o Leão, Churriado e Corujão fazem parte do emaranhado de penhascos lindíssimos. A principal cidade-base para explorar a região é Cambará do Sul, a 204 km de Porto Alegre.

 

>>> Serviço:

Embora seja o melhor jeito de cobrir boas extensões dentro dos parques nacionais, a bike não é a favorita dos visitantes. Isso porque o parque nacional recebe muitas famílias de férias e tem grande parte dos seus principais pontos acessíveis a curtas caminhadas. A maior parte dos tours é a partir de Cambará do Sul, geralmente em jipe.

Agências como a Caminhos do Sertão se dedicam mais ao cicloturismo em áreas que extrapolam a área de 30 mil hectares dos parques.

Já a Cambike se dedica a roteiros de bike mais puxados, para quem mais busca aventura e perrengues.