Quem é quem na prova masculina de estrada do Rio 2016

Atualizado em 20 de setembro de 2016
Mais em Ciclismo

As emoções do ciclismo dos Jogos Olímpicos do Rio começam logo neste sábado, dia seguinte à cerimônia de abertura. E uma das provas mais aguardadas, a masculina de resistência do ciclismo de estrada, inaugura o calendário de disputas. Nomes que acostumamos a acompanhar nas Grandes Voltas estarão novamente em evidência.

Por isso, nada melhor do que bater um papo com Celso Anderson, ciclista que comenta o Tour de France na ESPN há mais de dez anos, para ter uma dimensão melhor do que nos aguarda a partir das 9h30, quando terá início a batalha de 256,4km num circuito com largada no Forte de Copacabana. A prova terá quase seis horas de duração.

O percurso é maravilhoso no aspecto visual e ao mesmo tempo brutal. Apresenta subidas curtas e duras, paralelepípedos e uma subida final longa e desafiadora. Os paralelepípedos, conhecidos como pavé na Europa, oferecem riscos mais elevados de quedas, furos de pneus e quedas de correntes, elevando o nível de imponderabilidade da prova. A proximidade do mar e o clima jogam na mesa outros fatores, como o vento, a umidade e o calor.

Antes das considerações do especialista, algumas ponderações gerais para os leitores mais leigos no assunto: a prova de resistência olímpica apresenta características únicas que tornam mais difícil a análise em comparação aos prognósticos das Grandes Voltas europeias, por exemplo.

É difícil obter uma medalha sem contar com o apoio de parceiros de equipe – mas não impossível. Nas Voltas, o que se tem são equipes profissionais, com ciclistas muito bem pagos, contratados para realizar esse trabalho. Na Olimpíada, temos equipes formadas por ciclistas de mesma nacionalidade, muitas vezes rivais entre si. Assim, é difícil avaliar, de antemão, o grau de coesão e a disposição de grandes estrelas para trabalhar por uma outra. Qualquer semelhança com o relacionamento entre companheiros de equipes de F-1 não é mera coincidência.

Isto posto, Celso Anderson aponta as equipes da Espanha, Colômbia, Itália e Grã-Bretanha como qualificadas para empurrar o ciclista escolhido rumo à vitória. Analisando a qualidade dos capitães, Anderson diz que as chances de o espanhol Alejandro Valverde conquistar ouro são bem mais do que consideráveis.

“Fui fazer um levantamento do circuito do Rio, e é muito duro. Eles vão percorrer esse circuito quatro vezes. Acho que, mais importante do que subir a Montanha das Canoas, será a habilidade de descer, com a melhor técnica. Dos favoritos ao ouro, sem dúvida aquele que desce melhor é o Valverde. Ele é capaz de arregaçar os outros na descida.”

“Lo Squalo” (o tubarão), o italiano Vincenzo Nibali, deverá se sentir bem pedalando com a brisa do mar. Anderson viu o campeão do Giro d’Italia deste ano nitidamente utilizando etapas do Tour de France para treinar tendo em mente seu grande objetivo na temporada, os Jogos Olímpicos. “Ele claramente deu alguns ataques no Tour para avaliar como está”.

 

 

O comentarista, no entanto, não apostaria alto no astro siciliano. A seu ver, ele ganhou o Giro deste ano muito mais por falha do holandês Steven Kruijswijk, que levou um tombo fenomenal, do que por méritos próprios.

A Colômbia, com seu “Dream Team” do ciclismo, é favorita ao ouro no BMX, com Mariana Pajón, e tem muitas chances na Omnium, no velódromo, com Fernando Gaviria. Na resistência masculina, Esteban Chaves, o Chavito, é a aposta de um dos países mais apaixonados pelo ciclismo no mundo.

Vice-campeão do Giro, Chavito se manifestou otimista em entrevista ao Coldeportes, organismo oficial do esporte colombiano. “Temos cinco corredores, o máximo para uma seleção, e o percurso é muito compatível com nossas características (de escaladores).”

O britânico Chris Froome, que estabeleceu como grandes objetivos nesta temporada o Tour e os Jogos Olímpicos, já alcançou sucesso na primeira empreitada e desfilou com a camisa amarela na Champs Élysées. No entanto, ele não tem nenhuma vitória em provas de um dia só. Talvez suas chances maiores residam no contrarrelógio, prova na qual obteve o bronze em Londres, com “Sir” Bradley Wiggins no degrau mais alto do pódio.

“Ele pode vencer, é claro, basta vermos a forma como ele ganhou o Tour. Aquela forma física não vai se perder em duas semanas. Se alguém pode vencer, entre todas as pessoas do Tour, é ele [Froome]”, diz Wiggins, que vai lutar, na perseguição por equipes, por seu quinto ouro olímpico.

Os brasileiros

Como estão nossos representantes? O paraibano Kleber Ramos, o Bozó, admite que provas com mais de 200km, distância incomum em competições no Brasil, são para ele um desafio. Já o catarinense Murilo Fischer, que pedala desde 2002 por equipes europeias, não tem esse problema. Coadjuvante na equipe FDJ, vai enfrentar capitães bem qualificados.

Mesmo assim, Anderson acredita que Fischer poderia ter aprontado uma surpresa nos Jogos de Londres se tivesse apostado e se engajado na escapada que acabou resultando na vitória da zebra cazaque Alexandr Vinokurov, seguido pelo colombiano Rigobert Uran Uran e pelo norueguês Alexander Kristoff.

“A equipe da Grã Bretanha cometeu um erro tático tremendo ao não acompanhar aquela fuga. Eles quiseram segurar para não forçar o Mark Cavendish. O Murilo me contou que a fuga se deu na frente dele, mas não quis apostar nela. Se tivesse apostado, correria o risco de ganhar um bronze”, diz o comentarista da ESPN. Coisas da Olimpíada.