O Ciclismo no olho do furacão

Atualizado em 03 de agosto de 2016
Mais em Ciclismo

O ciclista paranaense Luciano Pagliarini, que mora na Itália e compete pela equipe espanhola Saunier Duval, conversou com exclusividade com o ativo.com sobre os recentes acontecimentos que colocaram o ciclismo no centro das discussões esportivas e dos noticiários, o escândalo do doping na Espanha e o tumultuado início do Tour de France 2006, com a suspensão dos favoritos, Ivan Basso e Jan Ullrich, às vésperas da competição.

Pagliarini era um dos atletas pré-escalados da Saunier Duval para participar este ano do Tour de France, mas um acidente na Volta da Geórgia, nos Estados Unidos, há cerca de dois meses, alterou os planos da equipe e do atleta, que não conseguiu se recuperar a tempo, o que o deixou bastante chateado.

Um dos maiores nomes do ciclismo brasileiro também está descontente com a maneira como o possível envolvimento de ciclistas com doping vem sendo tratado. Ele diz que o escândalo e a lista de atletas o surpreenderam, bem como o fato de apenas os nomes dos ciclistas terem sido divulgados na imprensa, embora existam na relação pilotos, jogadores de futebol, tenistas, entre outros.

Ele acredita que apesar dos danos à imagem, o ciclismo continuará sendo um dos esportes mais limpos, pois sempre há uma punição forte nesses casos. E também faz suas apostas para o campeão do Tour de France este ano. Confira abaixo a entrevista exclusiva de Pagliarini para o ativo.com.

Em primeiro lugar, como está sua recuperação da lesão sofrida no acidente na Volta da Geórgia?
Pagliarini: Já estou melhor, tenho feito séries regulares de fisioterapia, acupuntura e massagens, tive até que dar um tempo da bicicleta, acabei ficando no total 10 dias sem pedalar, isso è o pior de tudo, ficar sem treinar nesta época da temporada nao é a melhor coisa para um ciclista. Para recuperar o nível de forma fisica que eu estava antes da decisão de não participar do Tour de France será difícil, treinei muito para isso e acabei tendo que abrir mão da minha participação, isso acabou sendo frustrante, mas é assim mesmo, o esporte nos reserva sempre muitas surpresas, agora já estou voltando aos treinos para o final da temporada e com certeza meus bons momentos voltarão!

O escândalo do doping espanhol e a suspensão de última hora de equipe e atletas tomaram conta das notícias sobre o Tour de France este ano, qual sua avaliação sobre os danos na imagem da prova, e claro, para o ciclismo em geral?
Pagliarini: Na verdade, a organização do Tour de France se recusou a deixar esses atletas participarem da prova justamente pela acusação de estarem envolvidos no escândalo do doping espanhol, isso no meu ponto de vista não foi justo, pois ainda não existem provas concretas de nada e o Tour acabou virando as costas para esses atletas somente para evitar problemas com sua imagem. Lógico que a Operação Porto foi algo chocante dentro do esporte internacional, mas aí também tem uma grandíssima injustiça, pois a lista dos envolvidos era de de 200 atletas, entre eles, tenistas, pilotos, jogadores de futebol da série A espanhola, maratonistas e ciclistas. A injustiça foi a publicação de somente os nomes dos atletas do ciclismo, não entendi o porquê não se falaram ainda dos grandes tenistas e pilotos, imagino que o interece dos patrocinadores e a força que têm são maiores que as forças do ciclismo. Mas continuo com a opinião que não é justo.

Em entrevista no início do ano para o ativo.com você comentou que o ciclismo era um dos esportes mais limpos, devido principalmente ao trabalho de punição aos casos de doping, o escândalo espanhol te surpreendeu?
Pagliarini: Lógico! Fiquei realmente chocado, pois somos muito controlados o tempo todo. Temos controle antidoping em todas as provas, exames regulares em laboratórios credenciados pela UCI e mais, até grampos telefônicos. É impressionante a estrutura que tinham armado e os riscos que corriam essas pessoas. Continuo afirmando que o ciclismo é o esporte mais limpo de todos, pois casos como esses acabam limpando pessoas desse tipo, o que não acontece com os outros esportes. Precisamos abrir o olho e parar de pensar que um jogador de bola pode jogar três partidas decisivas em uma semana num nível surpreendente de prestação fisica, ou que um tenista pode jogar por cinco horas sem perder o ritmo do jogo, é injusto! Isso para o ciclismo é mais um dos casos que criam danos à imagem, mas considero que é um mal que vem para o bem, os benefícios disso virão no futuro, espero. E quando forem provados os nomes do reais envolvidos nesse caso é mais que justo que sejam punidos e paguem pelo que fizeram.

A lista de ciclistas suspeitos de envolvimento com doping é extensa e regularmente a imprensa espanhola tem publicado alguns nomes de possíveis envolvidos. Você está agora justamente em uma equipe espanhola, como a Saunier Duval tem lidado com o problema? Você sentiu reflexos ou teve mudanças no gerenciamento da equipe?
Pagliarini: As coisas continuam como sempre foram. É lógico que a equipe fica sempre muito apreensiva, pois cada atleta tem a liberdade de fazer o que quiser de sua vida profissional. No fim tem sempre o medo por parte da equipe que algum dos seus atletas esteja envolvido em um caso deste sem o consenso do grupo e, caso isso aconteça, temos em contrato que se houver o envolvimento com o doping automaticamente o atleta sera desligado do grupo.

No caso dos ex-favoritos ao título do Tour este ano, Ivan Basso e Jan Ullrich, suspensos pelas próprias equipes à véspera da prova, você acredita na inocência alegada pelos dois? No meio ciclístico havia a expectativa de suspensão dos dois?
Pagliarini: Não acredito em mais nada, só acho que é lamentável tudo isso, e será justo punir quem for culpado.

Qual sua aposta para o campeão do Tour de France este ano?
Pagliarini: Acho que agora o grande favorito passa a ser o americano Floyd Landis, mas o espanhol Iban Mayo também pode surpreender.

Quais seus próximos desafios?
Pagliarini: A partir do mês de agosto meu calendário está repleto. Participarei das voltas da Alemanha, Holanda e Polônia, além de provas de 1 dia em território italiano e o Campeonato do Mundo na Áustria.