Copa VO2: de volta à Serra Velha de Campos

Atualizado em 29 de novembro de 2016
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Por Leandro Bittar

No ano em que completa dez anos de história, a Copa VO2 retorna ao seu palco principal: a Serra Velha de Campos do Jordão. Mais do que isso, no dia 15 de maio, sem as infindáveis restrições dos últimos anos, retoma o seu trajeto consagrado, com os 48 km entre Santo Antônio do Pinhal e Campos do Jordão que ajudaram o Desafio da Serra de Campos a revolucionar o cenário das provas amadoras do esporte no País. Com milhares de participantes em 15 edições, a prova construiu sua imagem baseada na superação individual e na celebração do ciclismo entre amigos, tornando-se o contexto perfeito para o encontro das mais diversas tribos do ciclismo, que não hesitam em levar a família para uma das regiões turísticas mais atraentes do Brasil.

Em seus pelotões, que chegam a reunir até 1.500 participantes oriundos de todos os cantos do País, misturam-se ciclistas dos mais variados níveis técnicos, desde os que disputam sua primeira prova de bicicleta aos melhores da elite nacional, como Alex Diniz, José Benoni, Renato Ruiz, Otavio Bulgarelli e Jean Coloca, entre outros grandes nomes que já venceram a prova. O maior diferencial é, sem dúvida, a montanha. A Serra Velha de Campos tem 12,6 km de subida ininterrupta e 5% de inclinação média (baseado no segmento do Strava), o que lhe classifica como uma subida categoria 1 (uma abaixo do nível de dificuldade máximo). A grande média do público participante passa em torno de 50 min/1 hora subindo até o seu topo, sem refresco.

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“Provas de montanha são sempre as mais desafiadoras. Nelas, todo o seu conhecimento e técnica de ciclismo são postos à prova, além, é claro, de possibilitar uma excelente avaliação de desempenho individual. A Copa VO2 construiu a imagem de um dos eventos mais esperados da temporada, e retomar essa tradição é um dos pontos mais importantes. Ela é instigante para todos os níveis de ciclistas, dos profissionais aos iniciantes”, diz Carlos Gustavo Araújo do Carmo, personagem conhecido pelos leitores da VO2Bike como o Rei da Copa, por ter sido personagem de uma reportagem feita pela revista em 2011, em razão de ele ter participado de todas as edições do evento até então.

Palco de conquistas

Assim como as principais provas diletantes do mundo, no entanto, a Copa VO2 não tem as classificações secundárias, focando apenas o desafio pessoal de participar. Mesmo que não seja o grande objetivo do encontro, sobem ao pódio os três primeiros no masculino e no feminino em duas categorias, amador e elite, além dos melhores tempos de serra, os Reis da Montanha. Conquistas relevantes na carreira de todo ciclista, como reconhece o bicampeão da prova Kleber Bahia. Vencedor da oitava e da nona edições, ele faturou o título amador tanto na Serra Velha quanto na temida subida do Paiol. Em 2012, já na elite, Bahia disputou a vitória até o fim, mas um pneu furado após a serra principal o tirou do pódio. Naquela edição, o título ficou com ninguém menos que Otavio Bulgarelli, que chegou ao centro de Capivari ostentando a camisa de campeão brasileiro de estrada. “Foi uma pena”, lamenta Bahia.

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Transpor a barreira do amador para a elite no Desafio da Serra de Campos também está no repertório da ciclista Paula Proença, que fez sua estreia na Serra em 2005, como amadora. “Era meu primeiro ano de pedal! Nunca tinha subido a Serra Velha de Campos e a expectativa era gigante. Não conhecia muitas meninas ciclistas e não tinha ideia de como seria minha performance na subida. A distância não me impressionava, mas os quase 13 km de serra, sim. Resolvi largar na frente e aproveitar bem os momentos do pelotão. Se não me engano, terminei na 12ª colocação no feminino, percebendo que ainda tinha muito que melhorar!”. E melhorou. Após o terceiro lugar na última edição, no Paiol, Proença detém o QOM (Queen of the Mountain, melhor marca feminina do Strava) da Serra Velha, com 39min57s. Aliás, ela recomenda uma boa análise do aplicativo para quem não puder fazer um reconhecimento da subida antes da prova. “Saber como é a subida e quais serão os trechos de maior dificuldade trará maior tranquilidade no dia da prova”, explica a ciclista, que integra a equipe Funvic Soul Cycles & Carrefour.

Um dos ciclistas mais vitoriosos do País, Jean Coloca hesitou em acreditar que seria competitivo na Copa VO2. Contudo, a dúvida logo foi dirimida. Em cinco participações, o pior resultado do ciclista foi um quarto lugar. “Eu sempre acompanhava por revistas e internet e ficava tentado ao desafio. Algumas vezes ficava de fora por competir fora do País, outras por não ser um escalador nato, achava que não conseguiria subir com os ponteiros. Porém, em 2008, eu estava fazendo uma temporada muito boa e senti confiança de que era possível buscar um resultado positivo. A Serra Velha não é uma montanha fora de categoria e isso me dava chances de subir entre os primeiros. E foi assim a minha estreia, com uma vitória inesquecível e uma das mais importantes da minha carreira, sem dúvida”, diz Coloca, que ainda ganhou outra edição e foi vice em mais duas.

Desafie a serra

1)O Desafio da Serra de Campos começa em Santo Antônio do Pinhal e termina em Campos do Jordão. As duas cidades apresentam possibilidades de hospedagem e entretenimento para todos os gostos, mas isso exige uma logística de deslocamento. Ficar em Campos tende a ser mais caro, mais badalado e exige uma locomoção até o local da largada (e acordar mais cedo). Pinhal é uma cidade charmosa e mais simples, e quem optar por lá precisa pensar no retorno pós-prova.

2)Tentar acompanhar o ritmo dos ponteiros pode ser a pior forma de encarar o início da prova. Com todo mundo cheio de energia, é necessário concentração para evitar acidentes bobos (atente-se aos avisos) e queimar energia à toa, pois não há trechos planos o suficiente para se valer do vácuo.

3)Logo com 10 km de prova há uma primeira subida de 2 km que muitos pensam já ser a principal. É apenas um aperitivo, que fará a primeira seleção do grupo.

4)Antes da serra famosa, há um trecho bem técnico, com curvas rápidas e declives leves. Os trechos mais perigosos são sempre bem sinalizados, mas mantenha a cautela. Não é ali que a prova se decide.

5)Depois de passar o tapete de cronometragem, por volta do km 26, começa oficialmente a serra, que pode ser dividida em dois trechos quase simétricos. Entre os dois blocos, um alívio de cerca de 400 metros para soltar as pernas, próximo ao totem do gato, no km 32.

6)Prepare-se para subir durante muito tempo. Não são muitos locais de treinamento com subidas tão longas pelo País. Por isso, mais do que força nas pernas, esteja mentalmente preparado para usá-las por cerca de uma hora.

7)O tapete de cronometragem ao final da serra, no km 37, é sempre um alívio, mas não relaxe demais. Ainda faltam 10 km para a chegada ao centro da cidade. E, claro, haja subida.

8)No trecho final estão as duas subidas mais duras. É o único ponto onde uma pedivela compacta é realmente recomendada. A famosa Subida do Palácio não é longa, mas dura. Vale dizer que muito ciclista já subiu ali em zigue-zague.

9)Se você conseguir se planejar, leve uma caramanhola que não seja de grande estima. A garotada sempre incentiva as subidas dentro da cidade e pede a caramanhola de presente. É diversão garantida para quem pedala e quem assiste.

10)A chegada ao km 50, no centro de Campos, é um convite para comemorar em grande estilo. Os bares e restaurantes lotam de ciclistas e bikes por todos os lados e a região se transforma na casa do ciclismo. É hora de comemorar mais uma grande vitória.