Ciclismo de pista está fora da Olimpíada

Atualizado em 02 de maio de 2016
Mais em Ciclismo

Por Daniel Balsa

Apesar de distribuir diversas medalhas durante as competições e o Brasil ter o melhor velódromo da América – localizado no Rio de Janeiro –, a pista é a modalidade do ciclismo que menos recebe incentivo no país. Prova disso é que é comum haver um hiato de meses sem provas nos velódromos. Para se ter uma idéia, após os Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro, realizados no ano passado, o velódromo local ficou mais de 240 dias sem nenhuma competição.

Reflexo dessa falta de incentivo é que o Brasil não terá nenhuma vaga para a pista nos Jogos Olímpicos de Pequim. “É uma pena. Teremos ciclistas em todas as modalidades, menos na pista”, disse o experiente Hernandes Quadri Júnior, que participou de duas Olimpíadas, ao Prólogo.

De acordo com a União Ciclística Internacional (UCI), era necessário que o Brasil disputasse ao menos uma das quatro etapas da Copa do Mundo de Pista para alcançar uma vaga para o Mundial de Manchester (ING), que teve início nesta quarta-feira, 26 de março e que vai até o domingo, dia 30. A competição decidirá as vagas olímpicas.

Para Hernandes Quadri Júnior, falta iniciativa por parte das federações estaduais e da Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC). “Você não ganha ritmo só com os treinos. As federações e a CBC precisam se juntar para que mais competições sejam realizadas. Nosso ciclismo de pista é bom, mas faltam mais provas e mais intercâmbio”, falou o ciclista, que disputou duas Olimpíadas.

Mauro Ribeiro, treinador da Seleção Brasileira de estrada e que já representou o Brasil em provas de pista, também compartilha com a opinião de Hernandes. “Com mais campeonatos, você desenvolve um espírito maior de competição no ciclista. Ele ganha mais aprendizagem e o país ganha um novo talento”, declarou o treinador ao Prólogo.

Hernandes ainda sugeriu que um fosse implantado na pista um ranking similar ao que é usado no ciclismo de estrada nacional, que premia as dez melhores equipes com transportes e hospedagens para disputar as principais competições. “Com uma classificação dessas, os times se interessariam mais.”

Sem competições de pista, as atividades dos velódromos ficam despercebidas pelo grande público, enquanto uma prova poderia atrair novos adeptos à modalidade. Quem deu este exemplo foi Adir Romeo, técnico da Seleção Brasileira de pista. Durante a preparação para os Jogos Pan-americanos, o treinador organizou algumas provas no velódromo de Curitiba. Apenas seis competidores compareceram na primeira delas, mas o número subiu para 56 às vésperas do Pan.

“Podemos alcançar o triplo ainda este ano”, apontou Adir, com exclusividade ao Prólogo. “É necessário movimentar os velódromos, como o de Americana, de São Paulo e de Caieiras. Maringá terá um novo nos próximos meses, Curitiba terá rumos melhores a partir de agora e o do Rio de Janeiro está reativado. Precisamos garimpar novos garotos. Não podemos mais gastar cartuchos com os ciclistas ‘velhos’”, completou.

O treinador ainda faz uma sugestão de um trabalho mesclando os atletas experientes e os mais novos. “Poderiam pegar o Hernandes, por exemplo, para pedalar algumas baterias com uns garotos. Ele, dentro da pista, faria uma boa análise das características do ciclista”, destacou.

Para chegarmos em Londres

Adir Romeo pretende nos próximos dias se reunir com o presidente da CBC, Luis Vasconcellos, para definir um projeto visando às Olimpíadas de Londres-2012. A meta dele é definir um processo preparatório até a competição, assinado pelo mandatário da principal entidade ciclística do país. “Quero trabalhar com o que estiver escrito. Para correr fora do Brasil, é necessário ter algo muito bem planificado, disputar campeonatos na Argentina, Colômbia e também as etapas da Copa do Mundo”, apontou.

O planejamento de Adir é inspirado no que ele vivenciou em 2005 no Centro Mundial de Ciclismo, localizado em Aigle, na Suíça. O treinador ainda mostrou um exemplo de sucesso. “Eu conheci um jamaicano chamado Ricardo Linch, que começou a treinar lá. O tempo dele era ruim na época, mas, hoje em dia, ele tem grandes resultados. Inclusive, foi vice-campeão no keirin em uma etapa da Copa do Mundo deste ano.”

Aliás, no Pan do Rio do ano passado, Linch disputou uma eliminatória do keirin contra Davi Romeo. O confronto foi muito acirrado, mas o brasileiro levou a melhor e prosseguiu na disputa, alcançando a quarta posição no geral, resultado de maior expressão do país nos Jogos Pan-americanos.

Davi Romeo é uma das grandes apostas do Brasil para o futuro. Com apenas 21 anos e um Pan já no currículo, ele pode ser um dos líderes da Seleção Brasileira em Londres. Recentemente, o ciclista atingiu 1min06s37 no quilômetro, uma das melhores marcas da história no país.

Em decorrência da preparação que está sendo planejada por Adir Romeo, pela evolução dos ciclistas e pelas projeções atuais sobre o futuro do Velódromo do Rio, que será administrado pelo Comitê Olímpico Brasileiro, Mauro Ribeiro é um dos mais otimistas quanto ao desempenho do Brasil na Olimpíada de Londres.

“A geração de agora é para 2012. Com um trabalho dedicado e pontual e com mais cinco ou seis garotos, teremos uma equipe muito competitiva na Inglaterra”, disse.

Adir Romeo também se mostrou otimista, mas ponderou: "temos de separar o estradeiro do velocista e fazer os ciclistas virarem profissionais. Existem ciclistas com um grande potencial, mas se tiverem de conciliar o ciclismo com o trabalho, não vai dar."

Ele também revelou que um dos projetos do COB é criar uma espécie de seleção permanente no velódromo. Um dos principais exemplos de sucesso desta fórmula é a ginástica artística do Brasil, que passou de coadjuvante a uma das principais nações no esporte mundial.

“A intenção é pegar alguns garotos para treinar uns 15 dias, analisar o treinamento, saber para quais provas ele tem aptidão, ver seus tempos e outras coisas mais. O que tiver realmente muito potencial, fica mais um tempo por lá”, comentou. “Mas se todos os velódromos do Brasil fizerem isso, seria muito melhor”, encerrou.