Um melhora o outro

Atualizado em 04 de setembro de 2007
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Por Rodrigo Gerhardt

Corrida e sexo estão interligados desde a origem do homem, literalmente. A própria concepção promove uma disputa de espermatozóides “bem condicio­nados” em busca do óvulo. Chega na frente quem tem mais energia e toma o caminho certo. Da mesma forma, durante a vida sexual do indivíduo, o trabalho de condicionamento aeróbico pode ser um aliado não só para manter o desejo vivo, mas para promover um bom desempenho.

A medicina já prova que indivíduos que praticam atividade física regular são melhores parceiros no sexo, em função das inter-relações que existem entre as práticas.“A relação sexual com penetração exige movimentos pélvicos que consomem energia e força muscular. É comum a descrição de casais com mais de 50 anos e sedentários que interrompem a caminhada rumo ao orgasmo por cansaço. Além disso, o cansaço pode, no homem, desin­flar a ereção. Portanto, um bom condicionamento físico é essencial para uma relação sexual satisfatória”, diz o médico neurologista e autor do livro “Inteligência Sexual”, Martin Portner.

Na associação entre sexo e corrida, sem dúvida o coração é um dos mais impor­tantes elos de ligação. Um sistema cardiovascular sadio atua não só na ereção como também no trans­porte eficaz de hormônios e oxigênio para as células do organismo.

A corrida, pelos seus processos adaptativos no organismo, protege contra a arterios­clerose – o acúmulo de gordura dentro dos vasos sangüíneos –, promove a formação de novos microvasos (neovascularização) e melhora a eficiência do coração, que passa a bombear mais sangue com menor esforço, intensificando a nutrição muscular. Não à toa, os cardiopatas são os que mais se beneficiam das recomendações e da atenção médica antes da atividade sexual.

Boa capacidade aeróbica
“Quanto maior for a capacidade aeróbica do indivíduo, menor será o risco de ter problemas sexuais, pois a atividade física regular é capaz, entre outras coisas, de reduzir o trabalho cardíaco requerido durante o sexo”, diz Ricardo Stein.

Da mesma forma, a corrida regular também aumenta a capacidade pul­monar de absorver oxigênio para a produção de energia no organismo. Essa capacidade também é importante na atividade sexual. Ela contribui para tornar o indivíduo menos ofegante e mais resistente ao esforço, por mais tempo.

Hormônios correm soltos
A atividade física não estimula uma produção maior de testosterona, no homem, ou estradiol, na mulher, como muitos pensam. Ao contrário, os exercícios físicos extenuantes podem derrubar os níveis destas substâncias no organismo e prejudicar a libido. No entanto, se feita de forma moderada, a atividade pode dar a impressão de estimular mais o desejo.

O indivíduo que corre ou faz outra atividade regular elimina uma série de fatores e influências do estresse que prejudicam a produção dos hormônios sexuais e estabilizam o cortisol que, em níveis altos, atrapalha a ereção.

Quando a liberação ocorre normalmente, a vontade parece ficar maior”, explica o fisiologista do Cemafe (Centro de Medicina da Atividade Física e do Esporte), da Unifesp (Universidade Federal de SP), Turíbio Leite de Barros.

Segundo ele, também não é preciso abrir mão do sexo em função do exercício. “A menos que o indivíduo esteja fadigado, o sexo não costuma levar a um desgaste físico muito significativo”, afirma.

Portanto, nada impede que um corredor faça um “aquecimento” na noite anterior a uma prova. Ao contrário, quanto maior a freqüência sexual, maior será a produção de testosterona, como efeito adaptativo, proporcionando mais pique e disposição para o exercício, além de favorecer o desenvolvimento muscular.

Vários outros hormônios requisitados para uma boa relação sexual também são estimulados com a atividade física, como a adrenalina, a noradrenalina, o GH (sigla, em inglês, para hormônio da juventude) e as endorfinas. Segundo o endocrinologista da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica) Márcio Mancini, a adrenalina, responsável por ativar a circulação e deixar os sentidos mais “despertos”, atua tanto no momento do sprint da corrida quanto na excitação.

Mas é a endorfina, hormônio liberado por meio da atividade física e responsável pela sensação de prazer, quem vai garantir o trabalho psicológico necessário para promover uma maior disposição sexual.

O autor do livro “Inteligência Sexual”, Martin Portner, define: “sexo pode até dar falta de ar, mas isso só acontece com as pessoas que não se preparam. Para as preparadas, sexo é tão importante quanto o ar”, finaliza.