Sonho de triatletas: de Rondônia para o Ironman

Atualizado em 04 de dezembro de 2011
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Situados na Amazônia Ocidental, um pequeno grupo de apaixonados pelo triathlon se uniu em busca de uma vontade e um sonho em comum: tornar a modalidade acessível em Rondônia, onde não há um calendário de provas, técnicos, federação, condições adequadas para treinos e, até o momento, nem mesmo um número considerável de atletas interessados na prática do esporte. 

Para reverter essa situação e fomentar o triathlon em Rondônia, cinco amigos estão unindo forças para formatar um projeto que contempla condições para se estabelecerem como triatletas e, a partir disso, trabalharem na divulgação do triathlon para os esportistas da região, carente de todo tipo de estrutura para prática da modalidade.

“Aqui em Rondônia a vivência esportiva é muito fraca e praticante zero quando se trata de triathlon, e quem ama o esporte sabe que as histórias de superação que fazem parte do universo esportivo têm o poder de encantar outras pessoas e, com isso, vão aumentando a base de praticantes. A ideia geral do projeto é igual ao slogan do ativo.com: pratique esporte”, conta Alexsander Cunha, de 34 anos, fisioterapeuta formado no Rio de Janeiro, e que voltou para Rondônia faz cinco anos e hoje atua como instrutor de Pilates.

Há grandes histórias de superação no triathlon e Alexsander acha que criar um “case” com atletas locais é uma ótima maneira de começar divulgar o esporte no Estado, por isso, a ideia do grupo é treinar nos próximos meses para conseguir terminar o Ironman Brasil 2012, em Florianópolis, uma prova mítica para todos os atletas. Apesar de todos terem relação com alguma das modalidades do triathlon, nem todos podem ser considerados triatletas no momento.

Alexsander conta que o Estado tem passado por uma fase de desenvolvimento, principalmente por conta da construção de duas usinas, que estão levando a Rondônia muitas pessoas de outros estados, como alguns dos outros integrantes do grupo que quer ir para o Ironman Brasil 2012. Um deles é o paulista Ivan Silveira, maratonista de 56 anos, o mais velho no time, que trabalha numa dessas usinas. O médico paulista Luciano Zago, tem experiência com natação; O também fisioterapeuta Helton Carlos é mais dedicado à corrida, e o quinto integrante da equipe, Augusto Pellucio, já tem história para contar: foi o primeiro atleta de Rondônia a completar um Ironman, em 2010.       
Alexsander fala por experiência própria quando diz que histórias de superação podem inspirar as pessoas para o esporte, e conta a maneira engraçada como descobriu o triathlon e o ironman. “Há uns 10 anos eu ganhei um relógio da Timex no qual estava escrito Triathlon Ironman, e eu não sabia o que era isso, fui pesquisar e comecei a ler muitas histórias de superação dos atletas para participar e concluir a prova e, desde então, coloquei na minha cabeça que um dia iria fazer um ironman, e com o tempo, e como o meu trabalho estava relacionado com atividade física e saúde, isso foi ficando cada vez mais próximo, até que decidi me inscrever para a prova deste ano, mesmo sem ter feito nenhuma prova de triathlon antes, e terminei com o tempo de 13h27min50s”, conta.

“Há dois anos comecei efetivamente no triathlon e isso mudou minha vida, gostava de balada e de cerveja e hoje meu estilo de vida mudou completamente, curto mais o dia do que a noite, foi a vivência esportiva me possibilitou essa qualidade de vida melhor”, acrescenta.

Autodidatas nos treinamentos, o grupo está tentando fechar uma parceria com o triatleta Santiago Ascenço, que reside em Brasília, para atuar como treinador à distância da equipe, além de fazer em Porto Velho alguns training camps com o grupo. Além do desconhecimento sobre a modalidade, a estrutura local para treinar também é precária.

“Há poucos locais para nadar, apenas alguns centros de natação, para a prática em piscina. Às vezes nadamos em lagoas ‘bem aconchegantes’, com jacaré, piranha”, relata Alexsander. A prática do ciclismo também não é muito fácil. “A questão da segurança nas estradas aqui é crítica, e se elas já não são uma maravilha em locais desenvolvidos, imagina por aqui, não há pista dupla e para conseguirmos atingir as distâncias necessárias temos que fazer mais de 20 voltas num mesmo circuito”. Outra opção que eles têm explorado, conforme conta Alexsander, é gastar 30 minutos em uma balsa – 1h ida e volta – para pedalarem em outra estrada melhor, que liga Porto Velho a Manaus. “Não há tanto carros e não precisamos ficar pedalando em círculos, mas a logística não é das mais fáceis”.

O acesso aos equipamentos também é difícil. “Temos apenas duas lojas de bike em Porto Velho e faltam informações sobre os equipamentos adequados para o triathlon, não temos uma estrutura que nos favoreça. Quando fazemos alguma prova em outro estado fica muito clara a diferença de nível dos triatletas para nós, tanto técnico como de equipamentos”.

“O que queremos com o projeto é fomentar e implantar a cultura esportiva em Rondônia e, para isso, precisamos de todo o apoio que pudermos ter. Queremos contar nossa história de superação por meio do esporte, de Rondônia para o Ironman 2012”, diz Alexander. “Somos atletas amadores e lutamos para treinarmos diariamente, transformando a atividade física no nosso lazer. Se tivermos apoio para essa equipe, conseguiremos levar adiante a ideia. Temos aqui ciclistas, corredores, nadadores, muitos com vontade de ser triatleta, só precisamos criar as condições”.