Síndrome da mudança de fuso horário

Atualizado em 31 de março de 2020
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Por Fátima Martin

Três horas a mais ou a menos de diferença no fuso horário já são suficientes para desregular significativamente as funções comportamentais e biológicas de um atleta. Pode ocorrer alteração nos horários de comer e de dormir ou até de humor.

Essa mudança no relógio biológico, que causa dificuldade de adaptação das funções do organismo, é conhecida como Síndrome de Mudança de Fuso Horário e pode prejudicar o desempenho de atletas amadores que saem de sua cidade natal para disputar provas em outras regiões ou países.

A síndrome, conhecida também como jetlag, tem origem no ciclo de exposição à luz e à escuridão. “O que determina o ajuste do relógio é a regulação do metabolismo. Para que isso aconteça, o atleta deve equilibrar o tempo de exposição adequado à luz e à escuridão para que o ciclo de noite e dia possa sincronizar as funções do organismo, como a rotina de horário o qual o atleta costuma se alimentar”, explicou o fisiologista e médico do esporte Turíbio Leite, organizador e atual coordenador do curso de especialização em Medicina Desportiva da Universidade Federal de São Paulo e coordenador do Centro de Medicina da Atividade Física e do Esporte – Cemafe da Unifesp.

Logo após a viagem, alguns sintomas como perda de disposição, sono que chega mais cedo ou mais tarde e o horário da fome alternado, causas mais comuns do jetlag, podem pegar o atleta desprevenido, se ele não ajustar a hora de dormir ao fuso horário do local de destino. “O ciclo de sono é o maior adversário da síndrome. Por isso, a adaptação deve ser feita no trajeto da viagem, ou seja, se ele for chegar à noite no local da competição, não é recomendado que ele durma no avião para que o corpo comece a se acostumar ao novo fuso horário”, aconselhou o especialista Turíbio.

Como prevenir o jetlag
Para que o corpo tenha energia suficiente no momento da prova, o atleta deve fazer uma adaptação do seu relógio biológico antes da viagem se o novo fuso horário for superior a três horas. “O primeiro passo é saber se será necessário atrasar ou adiantar o relógio biológico. A partir daí, ele pode adaptar o horário de dormir em uma hora a mais ou a menos. O mesmo acontece com o horário das refeições”, sugeriu Turíbio.

O ajuste pode ser feito de três a sete dias antes da viagem. Essa mudança atenua o impacto no organismo causado pelo fuso horário. “Se o atleta tiver uma viagem marcada para a China, por exemplo, em que a diferença de fuso horário é de quase 11 horas, a alteração no horário deve começar a ser feita uma semana antes da viagem”, disse o especialista.

O engenheiro e corredor Victor Domite Nicolau, 31, não levou em conta às cinco horas de diferença no fuso horário ao viajar à Europa para participar da Maratona de Paris. “Cheguei dois dias antes da prova e, ao chegar em Paris, fiquei muito cansado e com sono incontrolável, principalmente no primeiro dia. Até o último dia do evento, acordava cedo e dormia à tarde. A noite perdia o sono e só de madrugada conseguia fechar os olhos novamente. No dia da prova, estava tão cansado, que tive de diminuir o ritmo para terminar o percurso me sentindo razoavelmente bem fisicamente. O resultado da exaustão foi um tempo maior do que previ e, logo após a corrida, voltei ao hotel para dormir mais um pouco”, contou.

A sócia proprietária do Personal Life, Camila Hirsch, disse que chegar dias antes ao local da competição realmente evita o cansaço no dia da disputa. “O ideal é chegar entre três e quatro dias de antecedência para adequar o sono ao fuso horário logo no primeiro dia”, afirmou.