Segunda etapa

Atualizado em 24 de março de 2009
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Por Leandro Bittar e Felipe Vilasanchez

Reeleito presidente da Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC) no dia 28 de janeiro por 15 votos a 12, José Luiz Vasconcellos já foi um ícone do ciclismo brasileiro: competiu pela seleção brasileira e representou o Brasil em 22 países. Conquistou o título de Campeão Brasileiro, campeão do GP Fórmula 1 de Ciclismo em 1992, foi campeão da Volta do Perú, da Volta de Porto Rico e da Volta de Mendoza, na Argentina..

Em 2000, assumiu a CBC como vice de Bruno Caloi, que em 2005 foi reeleito. Chegou à presidência da instituição após a morte de Bruno, em agosto do mesmo ano, quando uma nova assembléia foi feita para eleger um novo dirigente.

Nesta entrevista, ele fala sobre seus mandatos, o velódromo do Rio de Janeiro e também sobre os esforços para popularizar o ciclismo no Brasil.

Prólogo: Principal assunto após sua eleição, o acordo com o Banco do Brasil está finalizado?
José Luiz Vasconcellos: Estamos em negociações. Ele já aceitou o projeto apresentado e vai se posicionar oficialmente em abril. Mostramos aos diretores do banco que o ciclismo está sendo desenvolvido, apesar dos resultados ainda não serem expressivos. Apresentamos o cenário atual do ciclismo nacional, da CBC, o que nós temos, nossos objetivos. O ciclismo envolve quatro modalidades bem distintas. São 4 orçamentos e hoje só temos a Lei Piva para controlar tudo isso. Acredito muito que eles aceitarão a proposta de serem parceiros do ciclismo.

Prológo: Vocês já sabem como essa verba será utilizada?
JLV: É preciso ter claro que esse é um projeto da CBC, não será o milagre salvador do ciclismo nacional. É uma parceria importante, mas que não nos tornará uma potência da noite para o dia. Todos podem ficar tranquilos que seremos claros e objetivos em nosso planejamento e na forma que o investimento será utilizado. Quando for o momento, esses planos serão divulgados oficialmente.

Prólogo: Como você avalia seu mandato anterior? Em que você acha que acertou, e o que você acha que deveria ter sido diferente?
JLV:Assumimos uma entidade desacreditada juntamente com o presidente Bruno Caloi no ano de 2000. Em 2005, Bruno foi reeleito, mas com seu falecimento em agosto do mesmo ano, a CBC teve que fazer uma nova Assembléia eletiva para escolher um novo presidente para um mandato de três anos. Na ocasião, concorri ao pleito da CBC com outro candidato, João Carlos de Andrade, de Santa Catarina. Fui eleito e fiz com que o ciclismo brasileiro tivesse credibilidade internacional na UCI, e nos órgãos governamentais como o Ministério do Esporte (ME) e o Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Também regularizei a situação do BMX no Brasil, criamos um sistema de cadastramento on-line entre as federações. Enfim, preparamos a CBC administrativamente dentro das normas internacionais buscando a credibilidade para que no futuro ciclo olímpico tivesse condições suficientes de ter um bom produto a ser apresentado a uma empresa governamental buscando uma parceria de investimento. Haja vista que entre as 27 federações, apenas cinco têm patrocínios. As outras vivem de recursos oriundos da lei Piva. Diante de todas as dificuldades em administrar uma entidade com quatro disciplinas olímpicas, vivendo apenas dos recursos lei Piva, conseguimos colocar o ciclismo na mídia, e fechamos o ciclo olímpico como o melhor ciclo olímpico de todos os tempos.

Prólogo: Sua reeleição foi apertada. Algo que significa que o senhor não foi uma unanimidade. Quais serão os principais objetivos do seu próximo mandato para que ele seja melhor avaliado?
JLV: A minha grande meta é consolidar um ciclo olímpico programado e que leve o Brasil aos Jogos Olímpicos de Londres em todas as disciplinas do ciclismo. A Olimpíada é um evento seleto. Apenas os melhores marcam presença e estar lá já será uma vitória. Segundo, pretendo trabalhar na renovação dos atletas investindo na base. Terceiro, ampliar a representação do ciclismo brasileiro nos quadros de medalhas dos Jogos Pan-Americanos, visando já os Jogos de Guadalajara, em 2011. Por fim, e não menos importante, espero que a bicicleta seja aceita no meio social como um veículo de transporte ecologicamente correto. Que o governo entenda a necessidade de incentivar o uso de um meio não poluente. Almejo um plano de desenvolvimento que trabalhe a cultura da bicicleta.

Prólogo: Sua primeira administração foi marcada por polêmicas na modalidade de pista. Como você pretende superar os problemas passados e desenvolver essa modalidade?
JLV: Todo mundo fala que a pista é a que dá mais medalhas e que o Brasil erra em não focar nela. Mas a pista também exige muito mais. São bicicletas específicas, jogos de volantes (coroas), pinhões, rodas fechadas. Exige muitos equipamentos exclusivos e isso exige dinheiro. Não é simples. Os trabalhos na pista demandam anos. É fácil falar que a Argentina ganhou um ouro olímpico, mas foram 16 anos de trabalho do Juan Curuchet (campeão na categoria Madison com Walter Pérez) até esse ápice. Temos total consciência que o ciclismo de pista é dominado por grande potências. A Grã-Bretanha, sensação dos últimos Jogos, investiu 54 milhões no ciclo olímpico da seleção de ciclismo. O resultado foram sete medalhas de ouro, mas esse investimento representa três vezes mais do que a Lei Piva distribui para todas as modalidades no Brasil.

Prólogo: E como o Brasil pretende reagir na pista?
JLV: Primeiro coma formação de uma seleção que disputará o Pan de Ciclismo este ano, no México. Isso dará uma base que deverá trabalhar nos velódromos locais, como o de Curitiba, de Caieiras e o do Rio. Incentivaremos um trabalho de base, principalmente no Rio, com um lado social, formador de novos talentos. Isso, não só na esfera da CBC e dentro de um calendário, com provas marcadas com antecedência. Estamos pensando no ciclo olímpico e isso exige participar das etapas da Copa do Mundo (classificatórias para os Jogos). O que nos retorna ao tema dos recursos financeiros.

Sobre o velódromo do Rio, qual será a sua política de utilização da estrutura, que é uma das melhores de toda a América Latina?
JLV –A CBC, junto com o COB e o ME, vai programar uma forma de desenvolvimento visando aos jogos Pan-americanos de 2011, que acontecerão no México.

Prólogo: Aproveitar os talentos da estrada reduziria os custos?
JLV: O fomento da pista no Brasil precisa de um ciclismo de estrada forte. Os fundistas e meio fundistas fazem mais da metade de suas provas na estrada. Eles começam um trabalho específico já com uma base. Isso deixando de fora a os velocistas, esses sim, passam a maior parte do tempo trabalhando especificamente.

Prólogo: Como aspecto positivo, sua gestão fortaleceu o calendário nacional. Algo que caiu um pouco no último ano com vários cancelamentos de provas e proporcionou a surpreendente ausência do time masculino no Mundial Elite. Como retomar aquele embalo e não repetir esse erro?
JLV: Preparamos um calendário nacional forte, para dar sustentabilidade ao ciclismo nacional e fornecer aqui os pontos necessários para disputar eventos internacionais, como os Mundiais. Proporcionamos a criação da Volta do Rio, da Volta de Porto Alegre, de São Paulo e do Paraná. Essas provas eram a base do ranking. Ano passado, com a preocupação da CBC com os Jogos Olímpicos, em garantir sobretudo a presença brasileira no BMX e no MTB, os eventos não aconteceram. Esse foi o grande problema: as provas dependem muito do apoio (muitas vezes financeiro) da CBC. Esse ano vamos tomar o cuidado e isto pode ser visto agora com a realização das Voltas Internacionais de Gravataí e Santa Catarina. Hoje, vamos ter que trabalhar e não deixar tudo na mão dos organizadores. A médio prazo, desejamos que eles se tornem mais independentes.

Prólogo: Por último, o senhor deve estar acompanhando de perto os problemas envolvendo a equipe do velocista Luciano Pagliarini, que não conseguiu filiar-se aos rankings UCI. Sendo o Pagliarini um grande ídolo nacional, o que a CBC pode fazer para não deixá-lo de fora do ciclismo profissional?
JLV: Falo como o Pagliarini constantemente e tentei ao máximo ajudá-lo. O time não obteve os documentos no prazo e foi impedido de competir. O pior foi quando o time não obteve a licença ProTour e os principais parceiros pularam fora. Esse é um problema comum no ciclismo, recorrente no início de qualquer ciclo. Procurei diretamente os dirigentes da UCI, buscando até tornar a equipe filiada pelo Brasil. Eles se sensibilizaram, mas disseram que uma exceção como está causaria muitos problemas no futuro. Vamos tentar colaborar no que for preciso para apoiá-lo e temos certeza que haverá uma saída para ele.