Salto alto

Atualizado em 13 de agosto de 2008
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Por Redação O2

A elegância feminina está praticamente associada com a expressão “subir no salto”. Mas como quase tudo na vida de uma mulher preocupada com a aparência, ficar com as pernas bonitas e a postura mais alinhada tem seu preço. “O uso excessivo causa um encurtamento do Tendão de Aquiles e da musculatura isquiotibial”, explicou o dr. José Marques Neto, especialista em ortopedia e traumatologia e pós-graduado em fisiologia do exercício. Além disso, o aparecimento de joanetes e dedos em garras também é comum em mulheres que abusam dos saltos.

Esses efeitos atingem diretamente a vida da mulher corredora, uma vez que o Tendão de Aquiles é o ligamento que reveste o calcanhar. Já a musculatura isquiotibial é aquela que vai da coluna lombar ao pé, ou seja, ambos são muito exigidos durante a corrida. “Entre os problemas que um corredor pode ter estão: dores no pé, rigidez na planta dos pés e perda da capacidade do movimento de propulsão”, falou o especialista.

Em contrapartida, aquelas que praticam corrida rotineiramente têm menos chances de apresentar esses problemas. De acordo com a ortopedista especialista em pé e tornozelo Cibele Réssio, da Unifesp, quem pratica atividades físicas de impacto constantemente tem tendões, ligamentos e ossos muito mais resistentes a eventuais lesões. “Esses exercícios induzem à produção de massa óssea e aumentam a resistência da estrutura do esqueleto. Além disso, melhoram a vascularização nos tendões e na membrana que recobre o osso”, falou.

Outra vantagem das corredoras em relação às sedentárias é a rotina de alongamentos, que são os exercícios mais indicados para evitar dores e relaxar a musculatura. “Vale dar uma atenção maior ao músculo posterior da coxa e aos isquiotibiais da perna e do pé na hora de alongar”, falou Cibele.

Joelhos e coluna também sofrem
A principal articulação do corpo também tem prejuízo com o uso constante desse tipo de calçado. “O calcanhar elevado pelo salto faz com que a mulher ande com os joelhos mais dobrados. Essa mudança traz uma sobrecarga na região logo abaixo da patela, o que pode causar uma rachadura na cartilagem, chamada condromalácia, ou até mesmo tendinite patelar, uma inflamação dos tendões dessa região”, explicou Ari Zekcer, ortopedista, cirurgião de joelho e médico do esporte pala Unifesp.

Além dos joelhos, as mulheres podem ainda apresentar problemas de postura por atingir diretamente a coluna. “A retração de toda a cadeia muscular posterior pode gerar um aumento da lordose lombar”, alertou José Marques Neto.

Altura ideal
A ortopedista Cibele Réssio realizou testes para analisar 400 passos de dez mulheres descalças e com saltos de 3 cm a 9,6 cm, para descobrir as alterações causadas na marcha. A conclusão foi que todos os saltos são maléficos. “Acima dos 3 cm, os saltos trazem os mesmos problemas que os de 9 ou 10 cm”, afirmou.

O ortopedista Ricardo Munir Nahas concorda com a tese de que o desnível entre a parte da frente do pé e o calcanhar não pode passar de 3 cm. “Aquelas que usam saltos diariamente devem preferir os chamados anabela”, indicou. “Até mesmo as plataformas, que distribuem melhor a pressão na planta do pé, devem deixar a sola mais paralela ao chão possível”, sugeriu Cibele Réssio.

Apaixonada por salto e pela corrida
Carolina Kauffmann sempre usou saltos muito altos. Aos 16 anos trabalhava em uma boutique e ficava mais de seis horas em pé sobre eles. Aos 22 anos, começou a praticar corrida e não passava de meia hora de exercício. Mas foi no momento em que resolveu treinar mais forte que todo o tempo em cima dos saltos fez a diferença. “Comecei a sentir muitas dores no joanete, que me impossibilitavam de correr”, contou.

Além de gostar de usar os saltos, Carolina é design de sapatos e sempre foi muito ligada a moda. Mas quando precisou ficar três meses fora das pistas percebeu que a paixão pela corrida era maior. “Por causa da inflamação no joanete não pude participar da Meia do Rio. Por isso, tive que praticamente abolir o uso desses sapatos”, falou a corredora de 34 anos. Atualmente, ela usa saltos apenas aos fins de semana, mas evita em períodos pré-prova, e faz fisioterapia semanalmente para aliviar a tensão nos tendões e musculatura da perna. “Tive um problema de pisada, por jogar o peso do corpo para um lado só. O que gerou uma fratura por estresse na tíbia também”, contou. Mas ela superou o problema e está treinando para a Meia do Rio deste ano, que será realizada em 12 de outubro. “Trabalho com moda e existem alguns protocolos sobre o uso de saltos que precisei quebrar por causa da minha paixão pela corrida”, completou.