Saiz depõe e sai da prisão em Madri

Atualizado em 24 de maio de 2006
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POR ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ

Cerca de 24 horas depois de ter sido preso por suposto envolvimento com substâncias dopantes, Manolo Saiz – diretor esportivo da equipe espanhola Liberty Seguros – foi solto na tarde desta quarta-feira depois de prestar depoimento. O médico Eufemiano Fuentes, que trabalhou nas equipes Kelme e ONCE; José Luis Merino, médico responsável por um laboratório de análises clínicas da capital espanhola; Alberto León, ciclista profissional de MTB; e José Ignácio Labarta, diretor esportivo adjunto da equipe Comunidad Valenciana, que também foram detidos na terça não foram liberados. As investigações continuam e Saiz pode ser chamado a prestar novos esclarecimentos.

Fuentes, Merino e Saiz foram presos quando saíam de um café na capital espanhola. Saiz portava uma sacola, que lhe teria sido entregue por Fuentes. Na sacola foram encontrados medicamentos que estão sendo analisados pela polícia. Saiz também portava o equivalente a 60 mil euros em espécie, entre euros e francos suíços.

Depois de buscas em apartamentos vinculados aos médicos, a polícia apreendeu grande quantidade de anabolizantes, hormônios de crescimento, EPO (eritropoietina) e mais de cem doses de sangue congelado, entre outras substâncias, além de farto material para realizar auto transfusões. A polícia suspeita que o dinheiro encontrado com Saiz – que voltara a pouco da Itália, onde trabalhara no Giro – resultaria da venda desses produtos. Os investigadores suspeitam também que Saiz estava fechando algum negócio com Fuentes e Merino, quando foram surpreendidos pela polícia.

No editorial da edição desta quarta-feira, o diário esportivo francês “L’Equipe” festeja a operação, “que marca a entrada da Espanha na luta contra o doping, unindo-se aos países que combatem esta chaga”. Segundo o jornal, “Durante muito tempo a Espanha foi a única das quatro grandes nações de cultura ciclística [as outras são França, Itália e Bélgica] em que embusteiros sem vergonha, preparadores sem escrúpulos e médicos sem fé podiam atuar na mais perfeita impunidade”.

Três meses depois de impugnar a vitória de Roberto Heras na Vuelta a España do ano passado por uso de substâncias dopantes, a operação policial que levou Saiz à prisão mostra que a Espanha se recupera de seu atraso na luta contra o doping. O governo espanhol resolveu agir e lançar mão dos mesmos meios coercitivos empregados durante anos na Itália, França e Bélgica.

O ciclista italiano Ivan Basso (CSC), líder do Giro d´Italia, negou nesta quarta ter trabalhado com médicos ligados a Manolo Saiz. Um dos médicos de Basso, Luigi Cecchini, tem excelentes relações com Eufemiano Fuentes, um dos pivôs do escândalo.

O diretor geral do Tour de France, Jean-Marie Leblanc, afirmou ser prematuro comentar o caso, preferindo esperar a evolução das investigações. Da mesma forma, Leblanc não quis se pronunciar a respeito de um eventual afastamento da equipe Liberty Seguros do Tour, cuja largada acontece no dia 1º de julho.