Respirar corrida

Atualizado em 22 de junho de 2011
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Enquanto para alguns o inverno é uma temporada agradável, para outros a estação mais fria do ano está sempre associada ao aparecimento de certas doenças que envolvem o sistema respiratório, como gripes, resfriados, rinite e asma. Longe de ser mera coincidência, isso acontece porque o tempo seco e frio propicia a proliferação de ácaros e o consequente desenvolvimento de tais males. No caso da asma, as práticas esportivas realizadas durante o período podem desencadear alguns de seus sintomas em pessoas que já possuíam a doença, mesmo que de maneira assintomática (sem apresentar sintomas).

“Com a atividade física, ocorre a perda de água e de calor nas vias aéreas, levando à liberação de algumas substâncias que provocam a broncoconstrição (contração dos brônquios que resulta na menor passagem de ar)”, explica Maria Helena Mattos Porter, alergista do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos. Com o frio e a baixa umidade do ar, o problema aumenta. Mas como diferenciar uma falta de ar por condicionamento físico dos sintomas da asma? É preciso estar atento aos sinais. “Na falta de ar causada por asma, habitualmente temos como sintomas associados a tosse seca, o chiado e a dor no peito, o que normalmente não ocorre na falta de ar por condicionamento físico insuficiente”, ensina Maria Helena.

Caso desconfie da existência da doença, não há caminho melhor do que procurar um especialista e fazer os exames necessários para a sua detecção. Mas não pense que o diagnóstico positivo da asma afastará você dos esportes.
Muito pelo contrário. Estudos científicos encontram a cada dia novas provas de que a atividade física, quando realizada da maneira correta e com acompanhamento médico, pode ser muito benéfica à saúde dos asmáticos, diminuindo o número de crises da doença e promovendo maior qualidade de vida. Uma boa pedida para o clima frio é a natação, “principalmente se for praticada em piscinas aquecidas, devido ao ar quente e úmido”, destaca Maria Helena. Já a corrida, especificamente, “melhora o condicionamento físico e a ventilação, diminuindo os sintomas da asma. Além disso, ela promove melhor integração dos pacientes, principalmente quando realizada em parques”, completa.

Benefícios comprovados
Uma pesquisa realizada pelo fisioterapeuta Felipe Mendes, do Serviço de Fisioterapia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), concluiu que — aliada à medicação correta — a prática esportiva diminui em até 60% os sintomas das crises de asma. Além disso, o orientador do estudo, Celso Carvalho, que é professor da FMUSP, educador físico e fisioterapeuta do Hospital das Clínicas, afirma que “os pacientes relataram melhoras na qualidade de vida e nas questões emocionais, como ansiedade e depressão”. O estudo foi feito com 101 pacientes com diagnóstico de asma, com idades entre 20 e 50 anos. Eles foram divididos em dois grupos: um recebia apenas a medicação e o outro recebia a medicação e fazia exercícios físicos aeróbios (na esteira ergométrica).

Para que os pacientes com asma não tenham problemas durante a prática esportiva, a especialista Maria Helena destaca a importância de a doença estar controlada, do “aquecimento corporal prévio ao exercício e da realização de exercícios intermitentes (marcados pelo aumento e pela diminuição de ritmo)”. Tanto no caso da asma quanto de tantas outras doenças, desde que sejam realizados com cautela e assistência adequadas, os esportes podem funcionar como um ótimo remédio. E o melhor: sem nenhuma química.

*Por Anna Ligia Souza Machado