Periodização mental

Atualizado em 29 de janeiro de 2009
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Por Cesar Candido dos Santos

Quando um corredor estabelece uma meta, seja ela disputar uma prova de 5 km, 10 km ou completar uma meia-maratona ou uma maratona, o primeiro passo é cuidar do treinamento físico. Porém, atentar para a preparação psicológica também é muito importante para se ter um bom rendimento, principalmente se partirmos da idéia de que o ser humano é um elemento único formado pela relação mente e corpo.

“A periodização mental consiste em estruturar em diversas fases o treinamento mental, que atua sobre os pensamentos e a imaginação do atleta, por meio de estratégias de visualização e auto-falas. Isto facilita e otimiza o treinamento esportivo”, explicou a psicóloga do esporte do Instituto Vita Carla Di Pierro. “A literatura especializada chama este trabalho de periodização da preparação psicológica. Ela segue a periodização do treinamento físico, técnico e tático”, completou Sâmia Hallage, psicóloga do esporte do Instituto Vita, que trabalhou com a seleção brasileira feminina de vôlei durante a conquista da medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Pequim.

Por partes
A periodização da preparação mental deve estar alinhada com as fases de periodização do treinamento físico. Assim, ela se torna eficaz e contribui para que o atleta tenha um melhor rendimento. “Cada fase de treinamento requer habilidades psicológicas diferentes. Para se obter bons resultados, é necessário que se treine em cada fase as habilidades psicológicas paralelamente com as físicas”, afirmou Sâmia. “O trabalho mental deve estar alinhado com as demandas do treinamento e de cada atleta. Por exemplo, no momento pré-competitivo, é comum que exista ansiedade. Portanto, esta é uma habilidade que deve ser desenvolvida nesta fase”, disse Carla.

Para todos
Apesar de nos dias de hoje ser cada vez mais evidente a importância de acompanhamentos paralelos aos treinos de corrida, não só por psicólogos, mas também por nutricionistas, fisioterapeutas entre outros, muitos atletas amadores ainda resistem a este tipo de trabalho, ou por vergonha, ou por não saberem que isto é algo que pode contribuir para seu bom rendimento.

“Sempre que falava para meus amigos que estava fazendo um acompanhamento psicológico ouvia algumas piadinhas ou era questionado se estava maluco. No começo, cheguei a ter vergonha e achava que a psicologia só influenciava os profissionais. Mas com o tempo vi o quanto era importante este trabalho. Diminuí muito a ansiedade que tinha antes das provas e aumentei minha autoconfiança”, revelou Marcelo Cardoso Seabra, 39, engenheiro civil.

“Não importa se o atleta é amador ou de elite. Os pensamentos influenciam nossos comportamentos esportivos. Portanto, se existe a possibilidade de treiná-los ao seu favor, o corredor pode garantir a melhora da performance e da saúde física e mental”, declarou Carla. “Todo atleta deveria fazer sua preparação psicológica. Tanto o amador como o profissional. A preparação global do atleta é composta pela parte física, técnica, tática e psicológica. O bom rendimento é resultado desse conjunto”, explicou Sâmia.

Quando não está bem mentalmente, um corredor pode sofrer diversos problemas que atrapalharão seus treinos e o rendimento na corrida, como ficar desmotivado ou até mesmo obcecado pelo treinamento, exagerar na dose e se lesionar porque foi além do próprio limite.

“Falta de motivação é muito comum, principalmente em fases mais pesadas do treinamento. Quando um atleta não está preparado mentalmente, ele também pode ter um déficit de concentração, maior probabilidade de lesões, overtraining e até desistência, tanto em fases do treino como em provas”, disse Sâmia.