Pagliarini pedala por novas conquistas

Atualizado em 19 de setembro de 2007
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Ele já é consagrado como um dos principais nomes do ciclismo nacional de todos os tempos, ao título de melhor ciclista do país dado pelo Comitê Olímpico Brasileiro em 2001, une-se uma extensa lista de conquistas ao longo de sua carreira, e proezas, como a participação no Tour de France e a Volta da Espanha.

O paranaense Luciano Pagliarini, 27 anos, está de equipe nova. Deixou a italiana Liquigas Bianchi para competir nos próximos dois anos pela espanhola Saunier Duval, mas a casa européia continuará a mesma, na bela Treviso, na região do Veneto, ao norte da Itália. Na nova equipe, ele terá como colegas ciclistas espanhóis, canadenses, suíços e italianos.

De volta ao Brasil, depois de um retiro na Espanha com todos os 26 ciclistas da Saunier Duval, Pagliarini conversou com exclusividade com o ativo.com. No bate-papo por telefone, de sua casa em Londrina, onde fica até a segunda semana de janeiro, ele falou um pouco sobre as expectativas para a temporada 2006 com a nova equipe, ciclismo no Brasil, provas, entre outros assuntos.

Quais são suas expectativas para a temporada 2006, seus objetivos já foram definidos?
Pagliarini – O cronograma principal de competições já foi definido e eu tenho 95 provas no calendário. Também já estabelecemos alguns objetivos. Eu tenho uma chance muito grande nesta equipe, como principal velocista das provas terei oito atletas ali para me darem apoio, ou seja, vou ter mais espaço, já acordado na mudança da equipe. Outra coisa importante é que tenho um contrato de dois anos, e isso dá uma segurança muito grande. E, claro, depois de seis anos competindo profissionalmente fazer parte de uma equipe com infra-estrutura grande me deixa muito feliz, e curioso também.

Quais as principais provas já definidas no seu calendário?
Pagliarini – Em fevereiro tem o clássico GP em Donoratico, na Itália, e espero iniciar o ano com um resultado legal (em 2005 foi o 2º colocado entre os 230 ciclistas desta prova), tem o GP da Filadélfia e uma série de provas do calendário Pro Tour, porém, eu vou sempre visar o Giro D-Italia (em maio). Volta da Espanha ainda falta decidir.

Tour de France?
Pagliarini – Vou pular, pois é muito puxado para um atleta de alto nível se programar para fazer duas provas no mesmo ano como a Tour de France e Giro D-Italia, e esta é meu objetivo em 2006.

Houve muita alteração na sua rotina por conta da nova equipe, que é espanhola?
Pagliarini – Não muita, vou continuar morando em Treviso, onde estou há sete anos, e treinando com minha equipe e meu treinador particular. Tenho que estar muito bem preparado porque tenho um compromisso com a equipe, mas, cada um tem seus objetivos e vamos nos encontrar nas provas.

Qual a infra-estrutura ideal para uma equipe de ciclismo competitiva?
Pagliarini – A Saunier Duval tem uma infra-estrutura muito grande, dois ônibus, com massagista a bordo, que servem para nos levar do hotel para a corrida, três caminhões com oficina, lavanderia, cozinha, e de 15 a 18 carros para levar as bicicletas. Como a equipe é dividida em duas e vamos correr em lugares diferentes ao mesmo tempo, é uma estrutura enorme para nos atender, alem dos 26 atletas, a equipe tem em torno de 60 pessoas, formada por assessores de tudo quanto é tipo (rs). Aqui no Brasil não precisaria nem da metade disto tudo, bastaria uns dois carros, um furgão com massagista e mecânico. Mas hoje já temos no país umas oito equipes com infra-estrutura muito boa.

Como você vê o ciclismo nacional hoje?
Pagliarini – O ciclismo no Brasil tem crescido muito e está sendo feito um trabalho muito legal por aqui. O ciclismo na Europa tem uma tradição de mais de cem anos, então não dá para comparar, mas acho que nos últimos cinco anos houve um desenvolvimento grande. Na verdade, toda vez que volto da Europa fico com a imagem de que melhorou mais.

Você comenta que o ciclismo é um dos esportes mais -limpos- que tem, porque em determinada época os organizadores fizeram um trabalho intenso para penalizar o doping, como está a questão hoje?
Pagliarini – O ciclismo teve a coragem de dar a cara para bater. Os cartolas tiveram a coragem de enfrentar o problema, pois foi isto que o ciclismo fez – nada mais que limpar o que estava abusivo e colocar regras rígidas. Foi uma ousadia danificar um pouco a imagem do esporte para limpar toda a estrutura.

Dê um exemplo de regra rígida.
Pagliarini – Hoje, por exemplo, posso estar tomando café da manhã na minha casa e aparecer alguém para fazer um teste antidoping em mim. Assinamos compromisso que permitimos que a qualquer momento possa vir alguém até a nossa casa ou outro local para fazer teste. É realmente um controle rigorosíssimo.

Que desafios específicos diferenciam grandes provas como Tour de France, Giro D-Italia, Volta da Espanha e Paris-Roubaix?
Pagliarini – A Tour de France, Giro D-Italia e Volta da Espanha são caracterizadas pela dificuldade em se obter um bom resultado, pois é uma guerra muito grande, está todo mundo fazendo a prova da sua vida, ou em busca do resultado da sua vida. Nessas três grandes provas a rivalidade é muito grande. Eu já participei duas vezes da Paris-Roubaix e esta é uma prova quase absurda (rs), mas muito conceituada e seletiva, pois temos que pedalar cerca de 60 quilômetros em paralelepípedo, o que é completamente fora das características do ciclismo clássico, em que temos bicicletas projetadas para correr sob asfalto.

No Campeonato Mundial em Verona uma fuga tornou-se uma boa história para você contar…
Pagliarini – Era uma prova muito dura, com muita subida, eu estava mal treinado por conta de um acidente pouco tempo antes, ou seja, não estava dentro das minhas características, e provavelmente eu seria um dos eliminados sem que muitos nem soubessem que eu estava competindo (rs). Aí me ocorreu, numa estratégia súbita, de atacar e ir para frente do pelotão, e não só me surpreendi como todos àqueles que estavam assistindo à prova, já que consegui dar umas nove voltas à frente do pelotão, com cobertura ao vivo pelas TVs do mundo todo…foi uma festa porque estava com uma cruz nas costas e por fim consegui fazer bem (rs).