Os benefícios da corrida de costas

Atualizado em 16 de outubro de 2019
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Por Odara Gallo

Esqueça todas as superstições que dizem que andar de costas atrasa a vida ou dá azar. Quem adotou essa prática como esporte dá o recado: “não corremos para trás, corremos para frente de costas”. A marcha reversiva, também conhecida como MR ou retrorunning, ganha cada vez mais adeptos e já conta com uma prova oficial que é realizada em Jundiaí, São Paulo, e chega em 2008 à sua quarta edição.

Pablo David Galletto Ramos era triatleta e, depois de um acidente durante um treino de bike, descobriu os benefícios da corrida de costas. “Iniciei um trabalho de reabilitação, estudando e aplicando técnicas em casa mesmo, pois não tinha condições de fazer fisioterapia”, lembrou. “Depois de duas semanas, comecei a caminhar e senti dificuldades. No dia em que me virei e comecei a descer as ruas de costas, percebi que meu joelho não doía mais”, completou.

Depois de provar os benefícios da corrida de costas, Pablo resolveu fazer um curso de educação física e, hoje, acumula especialização em atividade física adaptada e fisiologia do exercício. Além disso, organiza a corrida que é realizada em Jundiaí.

Se há público para a quarta edição de uma prova, significa que a modalidade atrai adeptos como a baiana Jane Lucia Santos Marcelino, 55, dentista. Ela já praticava corrida há dez anos quando descobriu a marcha reversiva. “Um dia estava no treino e, por volta do quilômetro 15, me senti cansada. Virei e comecei a correr de costas. Percebi que ganhei um condicionamento melhor na hora que voltei a correr de frente”, disse. Jane não parou por aí e acredita que a corrida de costas seja ainda mais prazerosa do que a convencional. “Existe até uma explicação científica para isso. Por trabalhar o lado do cérebro, que não usamos normalmente, há uma liberação maior de endorfina”, falou.

Assim como qualquer exercício físico, é preciso consultar um médico para saber se o seu corpo se adaptará à atividade, mas Pablo alerta que pessoas portadoras de protusão discal, hérnia de disco, problemas sérios de coluna e labirintite devem tomar maior cuidado.

Quem está liberado para praticar o retrorunning pode ter diversos benefícios. Confira alguns deles:

Estimulação e sincronização dos hemisférios cerebrais
O cérebro possui uma grande habilidade de adaptação e aprendizado, e os estímulos diferentes favorecem a criação novas ligações. “Isso faz com que o cérebro a organize e aumente sua utilização graças aos novos estímulos”, explicou o treinador. Isso porque o corpo foi adaptado para os movimentos para frente e a reversão força o organismo a reestruturar todo com conceito de padrões.

Além disso, a visão periférica também é favorecida. “Para quem está de fora parece que a dificuldade é muito grande, mas não é. Quando você vira a cabeça só um pouco já ganha visão lateral de quase dois terços. Com o tempo, nem é mais preciso olhar tanto para trás”, contou Jane Marcelino.

Abertura da caixa torácica
Ao andar ou correr para frente, o tronco tende a ficar projetado para frente, possibilitando uma melhor execução na corrida. Ao executar a marcha reversiva, o movimento é mesmo para o lado oposto, ou seja, os ombros se abrem para buscar equilíbrio. “Além de ganhos na postura, fortalece a musculatura e melhora a percepção corporal”, completou Pablo.

Reduz impactos
A cada passada da corrida convencional o pé toca o solo com o calcanhar e o joelho está em extensão, fazendo com que o impacto seja todo direcionando para o corpo.
“Ao executar a marcha reversiva, o contato com o solo aumenta e distribui o impacto inicial. Além disso, a articulação do joelho está semiflexionada, ou seja, aumenta e controla melhor o amortecimento”, explicou.

Livre-se da vergonha
Como em qualquer esporte, existem algumas dificuldades iniciais. Entre os praticantes da marcha reversiva, um dos empecilhos é a falta de ambientes controlados para treinar, como pistas de atletismo. “Precisa ser um lugar reto para não precisar olhar muito para trás. Nas competições, os atletas olham pouquíssimo”, falou Jane Marcelino.

Outro obstáculo é a vergonha. “A falta de atitude e a insegurança são duas grandes dificuldades de início”, falou Pablo. Jane afirmou não se importar com os comentários que ouve durante os treinos. “Alguns me chamam de maluca, outros acham curioso e querem saber mais sobre o esporte. O importante é levar tudo com bom-humor”, concluiu.