Obesidade infantil

Atualizado em 18 de julho de 2008
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Por Thays Biasetti

Nas últimas décadas, a quantidade de crianças com excesso de peso triplicou em países industrializados e tornou-se um problema de saúde pública. No Brasil, segundo um estudo do IBGE, aproximadamente 10% das crianças e adolescentes já apresentam problemas de sobrepeso e 7,3% estão classificadas como obesas. Isso quer dizer que mais de três milhões de jovens e crianças estão com o peso acima do normal.

Entre os fatores considerados as causas para o aumento do peso das crianças está a genética. Na maioria das vezes, pais obesos geram filhos obesos, mas isso não é certificado de obesidade. Segundo especialistas, a genética tem, sim, influencia sobre o peso das crianças, mas não é o principal fator que leva à obesidade. “Apenas 5% da obesidade infantil é decorrente de problemas de metabolismo ou endócrinos. Os outros 95% são causados por alimentação errada e sedentarismo”, disse Vanessa Maluzzo Pedro, licenciada em educação física e pós-graduada em obesidade e emagrecimento.

Comer, comer, comer
Mais do que o fator genético, a cultura alimentar que a criança recebe em casa é determinante. Se os pais estão acima do peso, provavelmente, têm uma alimentação não saudável, o que, na maioria das vezes, determina a maneira como os filhos comem. Como a alimentação fast-food e guloseimas possuem açúcar, gorduras e, conseqüentemente, calorias em excesso, os pequenos engordam e começam a passar por problemas que até há alguns anos eram exclusivos de adultos, como pressão alta e colesterol. “A obesidade infantil depende 90% da educação que os pais dão para seus filhos”, disse José Carlos Pareja, gastroenterologista, especialista em cirurgia da obesidade, professor doutor da Unicamp e diretor do Centro de Cirurgia da Obesidade de Campinas.

Não é apenas em casa que as crianças se alimentam mal. As cantinas de escolas e lanchonetes costumam oferecer alimentos fritos, doces, e outras opções sem os nutrientes essenciais para o crescimento saudável. O grande problema é que os lanches vendidos nas cantinas são extremamente atrativos ao paladar dos pequenos. Por conta disso, algumas capitais do país instituíram leis que proíbem as escolas de vender alimentos que engordem, substituindo por frutas e sucos. “Está havendo um esforço para diminuir a obesidade, mas é extremamente difícil controlar uma epidemia dessas em um país tão grande. O ideal seria que toda escola tivesse uma nutricionista, mas é quase impossível isso acontecer”, comentou o médico.

Calorias em excesso, exercícios a menos
O novo estilo de vida adotado pela maioria das pessoas também contribui para o aumento da obesidade infantil. “Antigamente, as cidades tinham espaço para as crianças correrem. Hoje não há nem espaço, nem tempo para que elas façam atividades físicas. Os pais também trabalham o dia todo e não conseguem levar os filhos para praticar um esporte”, disse José Carlos.

Com videogames, Internet e programas de televisão, os pequenos optam por não sair de casa para brincar ou correr. Algumas crianças chegam a ficar horas em frente dos jogos eletrônicos sem se mexer ou então levantando apenas o braço para levar uma guloseima à boca. “Uma criança que passa de três a quatro horas por dia em frente ao computador, provavelmente, vai ser obesa, pois não há gasto calórico nenhum”, completou o endocrinologista.

Doenças precoces
As conseqüências desses hábitos são crianças cada vez mais gordas, com colesterol e triglicérides altos e a pressão arterial fora de controle. A saúde das crianças se deteriora na mesma proporção em que as indústrias lançam novos produtos açucarados, hiper “gostosos” e de fácil acesso. “Os problemas que a obesidade causa são físicos e psicológicos. Físico é o desenvolvimento de doenças metabólicas, como diabetes e doenças vasculares e osteoarticulares, como desvios posturais. As conseqüências psicológicas são baixa auto-estima, exclusão social, depressão e distúrbios alimentares, como bulemia”, disse Vanessa.

Médicos endocrinologistas e cardiologistas têm registrado um aumento fora de proporção de pacientes com menos de 13 anos nos consultórios com problemas metabólicos e cardíacos. “Vários pacientes com menos de dez anos já estão tomando remédios para recuperar a saúde”, afirmou o médico. Os pais que têm possibilidade procuram os médicos e nutricionistas, mas uma grande maioria não chega nem a buscar ajuda. “A obesidade infantil atinge mais as classes mais baixas da população, pois essas pessoas geralmente não têm como socorrer os filhos”, comentou José Carlos.

Emagrecer com os filhos
Mas como reverter esse quadro? Mudando o estilo de vida. E a mudança precisa vir dos pais e não ser apenas imposta aos pequenos. Crianças costumam imitar os adultos em tudo, portanto, quanto mais guloseimas houver em casa, mais difícil fica de controlar as crianças. “Os pais não devem levar os filhos ao supermercado, não se deve ter pizza em casa e refrigerantes e guloseimas devem ser instituídos apenas nos fins de semana, como prêmio. Precisam também começar a acostumar as crianças a comer vegetais”, explicou o médico.

A prática de exercícios físicos também deve ser incentivada, mesmo que seja com brincadeiras de rua, como pega-pega. “O incentivo deve ocorrer de uma maneira que os exercícios sejam prazerosos, e a criança leve este hábito para a vida adulta. Existem atividades esportivas para cada faixa etária para que as crianças não percam o interesse”, finalizou Vanessa.