“O Mundial mais difícil dos últimos 10 anos”

Atualizado em 24 de agosto de 2007
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Por Daniel Balsa

Faltando pouco mais de um mês para o Mundial de Ciclismo – marcado para a cidade alemã de Stuttgart, entre os dias 25 e 30 de setembro –, o treinador da seleção brasileira de estrada, Mauro Ribeiro, conta ao Prólogo como está a preparação do time para a competição.

Mauro Ribeiro revela que ainda não tem a equipe masculina definida, pois está esperando o número de vagas que o Brasil terá na competição. Entretanto, entre as mulheres, a escalação já foi feita: Uênia, Clemilda e Janíldes Fernandes, além de Rosane Kirch representarão o país.

O treinador também fala sobre o percurso do Mundial, o classificando como o “mais difícil dos últimos 10 anos”, aponta os favoritos ao título e ainda opina sobre os recentes casos de doping no ciclismo. Confira a entrevista exclusiva com Mauro Ribeiro:

Prólogo: Mauro, o Mundial está se aproximando. Já imaginou qual será a equipe brasileira na competição?
Mauro Ribeiro:
Nós já temos uma idéia, mas ainda precisamos ver algumas coisas. Se o Brasil aparecer entre os dois primeiros do ranking latino-americano da UCI (União Internacional de Ciclismo) em setembro, poderemos levar seis ciclistas no masculino, mas se ficarmos em terceiro, só poderemos convocar três. Se forem três, Murilo Fischer, Renato Seabra, Otávio Bulgarelli e Luciano Pagliarini brigarão por estas vagas.

Prólogo: E se o Brasil ficar entre os dois primeiros? Estes quatro terão vaga garantida? E quem serão os outros dois?
MR:
Se conseguirmos ficar em primeiro ou segundo no ranking latino-americano, com certeza estes quatro estão dentro. Os outros dois eu prefiro não falar, para não criar uma expectativa desnecessária, que pode mais prejudicar do que ajudar. Mas todos os ciclistas que nós acreditamos que tenham condições de disputar o Mundial já foram avisados de uma pré-convocação.

Prólogo: E a convocação da equipe feminina e Sub-23 do Brasil?
MR:
No feminino está definido que serão quatro ciclistas. Então não tem muito mistério: irão a Uênia, a Clemilda e a Janíldes Fernandes, além da Rosane Kirch, que compete na Europa. No caso da Sub-23, ainda não temos uma definição. Parece que só os países que participaram Copa do Mundo este ano vão poder disputar o Mundial. Assim, estaríamos fora. Toda nossa verba foi para a preparação para os Jogos Pan-americanos e não competimos na Copa do Mundo.

Prólogo: Após analisar o circuito, o que você achou do percurso da competição?
MR:
Em julho, eu pude dar cinco voltas de carro pelo trajeto. Analisei muitas coisas e fiz algumas observações. Pude notar que tem um ponto muito técnico durante o percurso. Apesar de ser longe da chegada, vai ser de vital importância para a corrida. É uma avenida muita rápida, em descida, mas muito estreita, onde passa um carro como o Uno, por exemplo. O ciclista vai estar entre 70 e 80 km/h e ele vai entrar em uma série de “S”. Ele vai ter de se posicionar muito bem, além de prestar muita atenção para não errar nas curvas. Um desses “S” tem a última perna onde você gira para a esquerda, já entra em 90º graus para a direita e a freada é muito forte. Esta redução será muito grande.

Prólogo: Qual sua avaliação do percurso?
MR:
É um trajeto muito difícil, não só para o Brasil, mas para todo mundo. É muito seletivo, com partes em falso plano, com subidas fortes, com essa série de “S”, pista estreita… Vai ser duro. Conversando com os outros treinadores, eles também têm falado sobre isso. É o circuito mais difícil dos últimos dez anos.

Prólogo: Quem você apontaria como favorito para o Mundial?
MR:
O ciclista vai ter de estar muito em forma. Vai ser uma prova muito fácil de se abandonar se o corredor não estiver bem. Caso esteja frio e chovendo, ter 40 ciclistas no pelotão vai ser muito. Analisando como as coisas estão na Europa, este tipo de prova é favorável para o (Alessandro) Valverde, (Paolo) Bettini, o (Andreas) Klöden, por exemplo, que são ciclistas mais agressivos nas subidas. O Murilo (Fischer) poderia estar neste grupo de favoritos, mas será um percurso desgastante, mas pode pintar uma surpresa, como foi em Madri (2005, quando o brasileiro foi o quinto colocado). Só que os outros países estão à frente, já que eles competem em alto nível toda semana.

Prólogo: E como está a preparação do Brasil para a competição?
MR:
Tenho falado com o Murilo e ele tem me dito que está se sentindo bem, mas vamos ver como ele estará lá, já que disputou o Tour de France, sua primeira grande Volta, o que é muito desgastante. Ainda não sabemos como o corpo dele vai reagir. Quanto aos ciclistas que estão aqui no Brasil, nós pedimos um convite para disputar a Volta da Venezuela. Vamos ver se seremos aceitos.

Prólogo: Este Mundial quase foi cancelado, pois as autoridades alemãs não queriam um novo escândalo de doping em uma competição organizada com o dinheiro público. Como você viu isso?
MR:
Vai ser um Mundial polêmico. Isto aconteceu mais em decorrência dos recentes casos de doping dos ciclistas alemães, tanto que o (Erik) Zabel nem deve competir por suas declarações de que usou substâncias proibidas no passado. Tenho mantido contato com alguns diretores de equipes da ProTour e eles falaram que isso é algo que está dificultando a renovação de patrocinadores, até afugentando empresas que haviam manifestado o interesse de apoiar as equipes no futuro. É uma pena ligarem o ciclismo ao doping.

Prólogo: Como você vê estes casos recentes de doping?
MR:
É complicado. Houve um desgaste muito forte. Agora as coisas pesam, mas será algo positivo em médio ou longo prazo. O ciclismo está combatendo o doping visando a nova geração de competidores, que tem como ídolos os ciclistas atuais. Eu sugiro que seja feita uma comparação dos exames antidoping feitos no ciclismo com os realizados nas outras modalidades. As análises do nosso esporte são muito mais complexas, além das sentenças serem mais rígidas. No futebol brasileiro, por exemplo, dois atletas estão sendo absolvidos após terem sido flagrados em exames antidoping. Se fosse no ciclismo, não seria assim.