O imponderável pedala!

Atualizado em 22 de julho de 2007
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Por Leandro Bittar, Rio de Janeiro

Já são 48 anos desde que Anésio Argenton conquistou a única medalha do ciclismo brasileiro em Jogos Pan-Americanos. Argenton, que torcia pelo fim dessa hegemonia neste Pan, terá ao menos mais quatro anos de exclusividade. Apesar do belo trabalho realizado pelo time brasileiro neste sábado, o melhor resultado do time foi a medalha de bronze
conquistada por Luciano Pagliarini, que encerrou a participação do ciclismo no Pan 2007.

A irritação do brasileiro ao cruzar a linha de chegada deixou claro que poderíamos ter ido muito além. Em grande forma, Pagliarini lutou muito por uma medalha de ouro. Os companheiros de equipe também se esforçaram muito para isso. Renato Seabra e Otávio Bulgarelli trabalharam o tempo todo por uma fuga, mas foram muito marcados. O jovem Rafael Andriato também esteve bem e cumpriu a missão de embalar Pagliarini no sprint.

Ao contrário do que se imaginava, o pelotão não adotou um ritmo forte e chegou de forma massiva a meta. A torcida explodia em expectativa de uma vitória brasileira quando o esporte aplicou mais uma de suas surpresas.

O famoso “Imponderável de Almeida”, criado por Nelson Rodrigues se fez presente na pista do Aterro do Flamengo.

“Estava na ponta do pelotão e não acreditava. Cruzei a linha e continuei não acreditando. Só alguns segundos depois é que tinha me dado conta que tinha vencido o Pan-Americano”, disse Wendy Cruz, da República Dominicana.

Aproveitei as chances que surgiram. Acho que os adversários descuidaram-se de mim e quando viram era tarde”, completa o campeão.

A medalha de prata não foi menos surpreendente. Emile Abraham, de Trinidad e Tobago foi o segundo mais rápido no sprint. Ele, que competiu sozinho, tinha um pacto de mútua ajuda com outros ciclistas solitários, como o panamenho Guilhermo Miranda, o jamaicano Marloe Rodman e Tyler Butterfield, de Bermudas. “Combinamos de nos proteger contra as equipes de quatro atletas, mas nem foi necessário.

Para Luciano Pagliarini, o resultado apesar de frustrante foi positivo. “Senti-me muito bem. Fizemos um bom trabalho. Infelizmente fiquei muito preso nos metros finais e quando achei uma brecha os dois já estavam à frente. Se tivessem 50 m eu ficaria com a vitória”, explicou o atleta.

Cuba no caminho das mulheres
Na prova feminina, a cubana Yumari Gonzalez e sua equipe desabaram com o belo trabalho do time brasileiro. As três ciclistas da família Fernandes, Uênia, Clemilda e Janildes esforçaram-se demais em duas táticas: tentar uma fuga com Uênia ou Clemilda e preservar Janildes para os sprints. Os dois planos falharam e o time ficou sem medalhas. A prata foi para Belem Guerreiro, do México, e o bronze para a venezuelana Danielys Garcia.

Janildes afirmou que a queda na prova de pista foi um adversário a mais na disputa do sprint. “Foi uma chegada nervosa, com as atletas se tocando demais. O trauma do tombo ainda estava muito evidente e isso me impediu de
disputar a chegada com mais coragem”, explica.

Comentários finais
Lamentável a forma com a qual o ciclismo de estrada foi apresentado aos torcedores nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro. Apesar da entrada ser gratuita, não existia a menor estrutura para o público acompanhar a prova. A ausência de um telão, algo exclusivo da modalidade de ciclismo, deixou a prova monótona para quem estava presente e dificultou ainda mais o entendimento das circunstâncias.

Se no Mountain Bike, no ciclismo de pista, no triathlon e quase todos (digo isso pois não estive em todos) os esportes existia uma transmissão local, qual o motivo para que nesta prova isto não acontecesse? Justamente a prova na qual os atletas somem da área de visão!

Para um esporte que precisa ganhar popularidade, o fino trato com a população seria essencial. Todas as cerimônias de pódio, por exemplo, eram feitas para a transmissão de TV e para os fotógrafos. Deixando o público em dificuldades de visualizar os atletas.

Estes detalhes passarão despercebidos pela história do evento, que no geral, primou pela organização. Mas precisam ser citados para que não sejam repetidos.

Desempenho ilusório
Por fim, os números apontam este como o melhor desempenho brasileiro em Jogos Pan-Americanos em número de medalhas. Foram quatro: duas de prata, com Rubens Donizete (MTB) e Ana Flávia Sgobin (BMX), e duas de bronze, com
Clemilda Fernandes (CRI) e Luciano Pagliarini (Estrada). Mesmo assim, a sensação é de que o Brasil terminou o Pan do Rio devendo.

De volta a Sampa
Depois de quase dez dias curtindo o belo visual do Rio de Janeiro e todas as provas de ciclismo, retorno ao escritório da Editora Esfera BR, em São Paulo. Foram dias maravilhosos, convivendo com o melhor do ciclismo e do
esporte das Américas. Uma aula de desportismo e muita inspiração para continuar trabalhando com o esporte.

Que venham os próximos Jogos Pan-Americanos, em 2011, na cidade de Guadalajara, México.