O fenômeno Paul Tergat

Atualizado em 25 de maio de 2007
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Por Nanna Pretto

 

Das três Olímpíadas de que participou, o queniano Paul Tergat, 37, tem como relíquias duas medalhas de prata – em Atlanta (1996) e Sydney (2000) – e a recordação da décima colocação em Atenas, em 2004. Por causa de um problema estomacal, ele terminou a prova apenas trotando. O episódio já superado, segundo ele, ocorreu um ano depois de Tergat se tornar o homem mais rápido do mundo nos 42.195 km, com o tempo de 2h04min55s, em Berlim, em 2003.

 

“Estou muito feliz. Algumas pessoas disseram ‘você não consegue vencer uma corrida’, mas eu sabia que meu dia chegaria. Nada iria me impedir”, disse o atleta, na época com 34 anos, à agência de notícias Reuters.

 

De família pobre, o atleta queniano nascido em 17 de junho de 1969, em Baringo, no Quênia, começou a correr quando terminou o colégio, na época do exército. Hoje, morando em Nairobi, capital do país, ele sustenta a Fundação Paul Tergat, cujos principais objetivos são descobrir talentos esportivos na comunidade rural e desenvolver projetos na área de educação e saúde.

 

Em todo o mundo, admiradores de Tergat continuam na torcida pela participação dele na próxima Olimpíada, em 2008, em Pequim. Tergat, que terá quase 40 anos, no entanto, não confirma se estará nos próximos Jogos. Mas aquele ouro olímpico, ainda engasgado, continua sendo o sonho dele. “Seria uma vitória fundamental”, afirma, em entrevista exclusiva à O2.

 

Acompanhe a entrevista da lenda viva Paul Tergat.

 

O2 – Como e por que você começou a correr?

Paul Tergat – Foi no fim do ensino fundamental que iniciei minha carreira como amador. Comecei a me destacar quando terminei o colégio e entrei para o exército, em 1988. De fato, comecei tarde a minha carreira de corredor e, por isso, não foi nada fácil chegar ao topo.

 

O2 – A sua infância foi uma época difícil?

PT – Minha infância foi desafiante devido à pouca condição financeira da minha família. Era complicado até para comer e vestir. Por conta disso, a educação não era uma prioridade na minha família. Mas, com o sistema educacional do Programa Mundial de Combate à Fome (WFP, em inglês), eu tive acesso à escola.

 

O2 – A corrida é, de fato, tão popular no seu país como o futebol é aqui no Brasil?

PT – Sim, a corrida é muito popular no Quênia, e nós somos muito respeitados pelos nossos compatriotas. A maioria das crianças vai para a escola caminhando e, às vezes, decidem correr. Algumas escolas ficam muito longe das casas e a molecada chega a percorrer 10 km ou 20 km por dia. Eu tive muita sorte, pois a escola na qual eu estudava era muito perto da minha casa. Menos de um quilômetro de distância.

 

O2 – Ao tornar-se um campeão mundial, você teve a oportunidade de conhecer outros países e dar mais visibilidade ao Quênia. Você tem feito algum trabalho social em seu país?

PT – Tento fazer o máximo pelo meu país e também pelo mundo. Sou embaixador mundial do WFP da ONU (Organização das Nações Unidas) e estou muito orgulhoso e feliz de poder ajudar as pessoas. Quando eu era jovem, as coisas eram difíceis para minha família. Nós éramos muito pobres e algumas vezes a WFP nos sustentou. Sou muito grato por isso. Também criei a Fundação Paul Tergat, que arrecada dinheiro para crianças que não têm como estudar, comer e praticar esportes.

 

O2 – O que é Fundação Paul Tergat?

PT – É uma ONG internacional, fundada em 2005, com o propósito de desenvolver o potencial da comunidade rural do Quênia. Temos o princípio de melhorar a qualidade de vida dos habitantes para que sejam desenvolvidos novos talentos, estilo de vida e saúde. De maneira geral, os programas desenvolvidos pela fundação são na área de esportes, saúde educação e entretenimento. Existem muitos jovens atletas com grande potencial, e a fundação os ajuda com patrocínios para que eles possam expor esse talento (informações sobre o trabalho da fundação e formas de colaborar podem ser obtidas por intermédio do e-mail: info@paultergatfoundation.org).

 

O2 – Como é seu treinamento?

PT – Treino duas vezes por dia, seis vezes por semana, a não ser que haja alguma razão especial, como uma viagem, por exemplo. Normalmente, após a minha principal competição, faço um pequeno intervalo para um descanso pessoal. Antes de uma grande competição, eu treino pesado por, pelo menos, três meses. São trabalhos de velocidade ou circuitos em trilhas. A hora de acordar depende do tipo de corrida. Se for um treino longo, tenho que acordar cedo, entre 6h e 7h, assim evito a alta temperatura do meio da manhã. E ainda freqüento a academia duas vezes por semana.

 

O2 – Como é a sua alimentação? Que tipo de suplementação você usa antes, durante e depois de correr?

PT – Minha alimentação é simples e fácil: como carne, milho, arroz, macarrão, vegetais, frutas e muita água. Como açúcar e vitaminas especiais, antes e depois dos treinos.

 

Agradecimento à Nike do Brasil que intermediou a entrevista.

 

Edição 49 – Maio 2007