O comandante da Memorial

Atualizado em 14 de novembro de 2008
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Por Cesar Candido dos Santos

Atual líder dos rankings por equipe e individual da Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC), a Memorial-Prefeitura de Santos é, desde sua criação, em 2000, uma das maiores forças do pelotão nacional. Sempre entre as primeiras do país, a equipe do litoral paulista tem em seu currículo vitórias nas principais competições do Brasil, entre elas o tricampeonato (2004, 2005 e 2007) da Volta do Estado de São Paulo.

O grande responsável por esta história de sucesso é o técnico Cláudio Diegues, que comanda a Memorial desde seu surgimento. Nesta entrevista concedida ao Prólogo, ele conta como consegue manter o time sempre em alta, fala suas impressões sobre o ciclismo e não esconde o amor pelo esporte.

Prólogo – Quais são os diferencias que fazem a Memorial se manter tanto tempo no topo?
Cláudio Diegues –
Acredito que o nosso diferencial é um tripé composto por planejamento, um bom time de ciclistas e boa estrutura, não temos a melhor, mas temos uma boa estrutura. Isso é o principal para sempre nos mantermos entre os três primeiros times do Brasil.

Prólogo – Você disse que a Memorial não tem a melhor estrutura, qual time é o mais estruturado do Brasil?
CD –
Sem dúvida nenhuma é a Scott [/ Marcondes César/ São José dos Campos]. Mas mesmo assim conseguimos sempre brigar de igual para igual com eles.

Prólogo – O fato de ser a líder do ranking aumenta muito a responsabilidade da equipe nas competições?
CD –
Aumenta muito, pois o time é sempre o mais visado. Todos querem ocupar o nosso espaço. Quando se tem uma boa estrutura, chegar ao topo é fácil, o difícil é manter-se lá. Sempre digo isto aos meus atletas.

Prólogo – Qual é a importância do trabalho de base para o sucesso da equipe?
CD –
A base é fundamental. Temos uma estrutura boa, uma verba boa, mas não dá para ter apenas grandes atletas. Consigo fazer o trabalho que sempre quis, que é mesclar os mais experientes com os novos talentos. O ciclismo é um esporte individual que depende totalmente do coletivo. A molecada entra no time, trabalha para os demais e ganha experiência com isso.

Prólogo – O Rafael Andriato é um bom exemplo de que isto dá certo?
CD –
Sim, ele entrou na Memorial como terceiro sprinter e trabalhava para os outros. Com o tempo ele evoluiu, assumiu um papel mais importante na equipe e conquistou muitas vitórias. Hoje ele está na Itália, e o fato de ter tido a responsabilidade de trabalhar em uma das principais equipes do Brasil o ajuda muito. O Andriato foi para lá com a responsabilidade de decidir corridas para o time dele, e a experiência adquirida o ajudou bastante, tanto que ele já conquistou cinco vitórias na Europa.

Prólogo – Qual foi a vitória que mais te marcou como técnico da Memorial?
CD –
Foi o título conquistado pelo Antônio Nascimento na Volta de São Paulo de 2004, pelas circunstâncias que tudo aconteceu. O Márcio May liderava a competição desde o primeiro dia, mas sofreu uma queda no contra-relógio disputado na sexta etapa. Ele cruzou a linha de chegada com a cabeça sangrando e perdemos a camisa de líder. Até ali, nosso time era só alegria e, de repente, tudo mudou. Mas conseguimos nos superar e entramos na 7ª e penúltima etapa com tudo. Atacamos desde o começo e o Antônio reassumiu a liderança para nós. Nunca vi tanta dedicação em uma prova, todos os atletas foram fantásticos. O único quadro que tenho na minha casa de uma competição é a chegada desta etapa.

Prólogo – Por que as equipes do Brasil disputam poucas provas internacionais?
CD –
Aqui é o país do futebol e não temos a cultura do ciclismo. Não posso dizer que é por falta de apoio, pois vou ir contra nossos patrocinadores, que são muito importantes para todo este trabalho que vem sendo feito. Mas a verba é muito apertada para fazermos provas do calendário internacional. Prefiro investir o dinheiro nas provas daqui. Hoje a Memorial tem 12 atletas, para competir de igual para igual lá fora precisaríamos de pelo menos 18. Existe o projeto para fazermos isto um dia, mas é algo difícil e precisamos do apoio de uma marca multinacional.

Prólogo – Os casos de doping são muito comuns na Europa, mas aqui no Brasil dificilmente um ciclista é flagrado. O nosso pelotão é limpo ou falta controle?
CD –
Com certeza falta controle. Não ponho minha mão no fogo por ninguém. A Confederação Brasileira deveria fazer algo semelhante ao ProTour. Lá existem os exames da UCI dentro e fora da competição, e todas as equipes fazem seus próprios controles. As equipes daqui deveriam pelo menos apresentar alguns hemogramas de seus atletas, mas isto não acontece. Amo o ciclismo e acho injusto ele levar o rótulo de esporte mais drogado. Na verdade, ele é o mais controlado, por isso se descobrem tantos casos, mas o Brasil ainda precisa melhor muito seus controles.

Prólogo – Você era ciclista antes de virar técnico?
CD –
Era um atleta de mediano para ruim. Não tolerava muito a dor e isso é fundamental no ciclismo. É preciso saber sofrer.

Prólogo – E como foi que você resolveu virar treinador?
CD –
Meu amor pelo ciclismo vem de família, sou descendente de espanhóis e isto está no sangue. Meu pai foi presidente da Federação Paulista de Ciclismo, ele não sabia nem andar de bicicleta, mas aos poucos foi se envolvendo com o esporte. Vivo neste meio desde que nasci.

Prólogo – Quais são os principais objetivos da Memorial neste final de temporada?
CD –
Agora estamos totalmente focados nos Jogos Abertos do Interior. Na próxima semana, teremos o Campeonato Brasileiro de Pista. Mas o principal objetivo é a Volta de Santa Catarina, que será disputada no final do mês.

Prólogo – O objetivo na Volta de Santa Catarina será o título da classificação geral ou vocês vão brigar apenas por vitórias em etapas?
CD –
A Memorial nunca pode entrar em uma competição visando apenas vitórias por etapa, o dia que pensarmos nisso é melhor nem se apresentar para a largada. Sempre lutamos pelo título geral.

Prólogo – E qual ciclista da Memorial você aponta como favorito ao título da Volta de Santa Catarina?
CD –
O Tonho [Antônio Nascimento] já ganhou a Volta de Santa Catarina e a de São Paulo e vive um momento muito bom. O André Pullini e o Marcos Novello também estão bem, mas como não tem contra-relógio na competição, e está é a especialidade do Novello, acredito que as chances do Tonho aumentam, principalmente porque o fraco dele é o contra-relógio.