NY: vitória brasileira, corrida global

Atualizado em 02 de novembro de 2008
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:: Texto e fotos Fernanda Di Sciascio, de Nova York

A New York City Marathon, como é conhecida a Maratona de Nova York em todo o mundo, atrai corredores de todos os continentes. São 39 mil atletas, de cem países e dos 50 estados americanos, que enfrentam uma corrida técnica e difícil que passa por toda a Big Apple – os cinco borrows ou distritos governamentais: Staten Island, Brooklyn, Queens, Bronx e Manhattan.

“Esta é minha quarta maratona em NY e nem preciso dizer que acho a prova fantástica. É a mais bonita do mundo, a torcida é simplesmente perfeita e toda a cidade pára para receber os corredores. Já fiz Chicago, Disney, Boston, Amsterdã e São Paulo. Nenhuma se compara à Nova York”, disse entusiasmado Marcos Clemente Santini, 40, empresário santista, que falava com um amigo brasileiro no celular sobre a derrota de Felipe Massa na Fórmula 1, que foi realizada em São Paulo. “Em compensação, o Marilson ganhou aqui, em uma ultrapassagem na ‘reta’ final. É incrível vê-lo no pódio”, completou.

Já a australiana Penny Newuton, 40, advogada, destacou o cenário e a unânime torcida: “Corro há 12 anos e acho Nova York simplesmente adorável. Tudo é ótimo, em especial correr pelos cinco distritos e ter a torcida incentivando a cada rua, realmente envolvidos, emocionados. Já fiz cinco maratonas, duas delas aqui”.

Organização em cada detalhe
A logística da prova requer preparo e paciência. Isso porque a largada é em Staten Island e a maior parte dos corredores mora ou fica hospedada em Manhattan, o centro turístico e financeiro. Para isso, a organização dispõe de ônibus que saem da Midtown (no centro da ilha) para a linha de largada das 4h às 6h, a cada 15 minutos. O sistema funciona perfeitamente, mas requer o sacrifício de acordar cedo e aguardar a largada em uma arena bem estruturada, mas sob o frio de 6ºC, com vento.

“Adorei a corrida, a experiência, toda a possibilidade de estar aqui e vivenciar Nova York de uma maneira única. Mas achei um pouco sofrido ficar na arena desde às 4h30, já que de acordo com o meu número de peito eu estava nos primeiros ônibus. Mas entendo que a logística é extremamente profissional e que não há como trasladar 40 mil pessoas para outra ilha se não for assim. Acho eficiente e aprovei também a novidade da largada em ondas, muito mais organizada e sem tumultos”, destacou o etíope Han di Jure, 21, estudante.

Na dispersão, também eram muitos os idiomas ouvidos e a satisfação de todos em completar os duros 42 km era notável: “Escolhi Nova York porque a prova é clássica. Tinha de ser minha primeira maratona. E não poderia ter valido mais a pena. As bandas em todo o caminho, os postos de hidratação com água e bebida esportiva a cada milha, os diferentes bairros e culturas a cada esquina, toda a torcida gritando os nomes e os países dos corredores compensam as dificuldades da prova, as subidas e descidas”, pontuou Rodrigo Travassas, 36, médico carioca, que correu com a mulher, Maria Manoela Travassas, 31, designer, cada metro dos 42 km.

“Fiquei muito emocionada. Sorri o tempo inteiro, e chorei de alegria também. Nos preparamos muito bem e sabíamos que a prova é muito dura, mas cada passada aqui valeu o sacrifício dos treinos longos e as broncas dos amigos e familiares pela ausência em alguns momentos. Tudo é ótimo, da expo ao jantar de massas. Só tenho o que elogiar”, disse Maria Manoela.

Dia de campeões já conhecidos
Como em 2006, Marilson Gomes dos Santos venceu a Maratona de Nova York, continuando o feito de ser o único sul-americano a sagrar-se campeão da prova, garantindo o prêmio de US$ 600 mil (aproximadamente R$ 1,3 milhão).

Em disputa acirrada com o marroquino Abderrahim Goumri, a definição de quem seria o primeiro a cruzar a linha de chegada aconteceu próxima à 26ª milha, nos últimos quilômetros da corrida: “A prova é extremamente técnica e competitiva, não dá para saber o que pode acontecer. Só se sabe quem é o campeão no pórtico de chegada”, disse Marilson, em entrevista exclusiva a O2 Por Minuto, logo após concluir a maratona, complementando que foi emocionante ultrapassar o marroquino por volta da milha 16 e tenso ser ultrapassado por ele novamente na milha 20. Novos planos? “Agora vou tirar cinco dias de férias com minha mulher, na Disney, e, então, volto ao Brasil”.

Goumri, por sua vez, garantiu estar bem treinado para vencer e espera voltar em breve para levar o primeiro lugar no pódio: “Esta é a terceira vez que pego o segundo lugar em dois anos. Mas acontece. Tenho certeza que tenho treinado muito forte e que a vitória está próxima. Nesta maratona cometi o erro de não dosar muito bem meu ritmo e, após a milha 20, não tive como reagir à investida de Marilson. Mas estou feliz com minha colocação”, ponderou.

O ex-recordista mundial da distância, o queniano Paul Tergat, terminou em quarto: “Esta é uma das melhores maratonas. É desafiadora. Senti-me muito bem até a milha 18, quando meu joelho doeu, e foi difícil manter o pace. Ainda assim, estou muito feliz em tê-la finalizado em 4º lugar, forte, e, provavelmente, volto a participar de outras provas em um futuro próximo”.

No feminino, como era esperado, Paula Radcliffe puxou o ritmo e não olhou para trás. “Fui focada e determinada, me senti confortável durante todo o percurso e foi ótimo vencer novamente aqui em Nova York”, disse a atleta inglesa, em entrevista coletiva após a vitória. “Fui em meu ritmo habitual até a 22ª milha e, então, imprimi uma passada mais forte, até a linha de chegada”, completou.
Após garantir o primeiro lugar, feitos em 2h23min56s, Paula pegou a filha Islã nos braços e saudou a torcida, já envolvida com a bandeira da Grã-Bretanha: “Minha filha é o que tenho de mais precioso. Corro por ela e é ótimo encontrá-la aqui, logo após os 42 km”.

:: Serviço
Maratona de Nova York (EUA)
Data:
2 de novembro de 2008
Horário: 9h40, 10h e 10h20 (três ondas)
Distância: 42 km
Clima: Frio e ensolarado
Temperatura: 12ºC (média)
Umidade: 43% (média)
Postos de hidratação: 26 (água e bebidas esportivas) + 1 com gel de carboidrato
Inscrição: US$ 45 (10 km) e US$ 88 (42 km)
Premiação: US$ 880 mil, entre os primeiros masculino e feminino, incluindo cadeirantes
Pódio:
Masculino:
Marilson Gomes dos Santos (BRA), 2h08min43s; Abderrahim Goumri (MAR), 2h09min07s; Daniel Rono (QUE), 2h11min22s
Feminino: Paula Radcliffe (GBR), 2h23min56s; Ludmila Petrova (RUS), 2h25m43s; Kara Goucher (EUA), 2h25min53s
Cadeirantes
Masculino: Kurt Fearnley (EUA), 1h44min50s
Feminino: Edith Hunkeler (CHE), 2h06min46s