Miguel Sarkis: corrida sem dor e sem culpa

Atualizado em 14 de julho de 2011
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Conceitual ou Consentimento?

Correr com problemas é normal para a grande maioria das pessoas no mundo. Devemos perceber os detalhes. Certa vez, acreditei que a corrida a pé poderia ser uma grande causadora de lesões. Por tal motivo, acreditei que deveria comprar certos produtos e remédios, que se não fossem os mais importantes dos ingredientes para se manter em dia a grande alquimia do correr, seriam o segundo maior de todos.

E, por um momento, acreditei em aulas que assisti em 1978, durante um grande evento esportivo em São Paulo, e todos nós passamos a acreditar que tudo que por lá se apresentasse seria a eterna solução mágica para dores e lesões corriqueiras da corrida a pé.

A moda pega se, de fato, permitirmos. Lesões e exercícios podem ser intensos coadjuvantes, dada a perfeita relação entre crer e viver os fatos que de fato lesam.

Viver experiências dolorosas tem sido uma porta a se transpor para a obtenção dos intuitos dos corredores. Há muito, as dores são descritas como necessárias e as lesões, por consequência da crença, podem firmar esta relação.

Igualdade de ideais? Não, circunstância previsível e possível dada a casualidade dos fatos. Para entendermos tanta “filosofia”, veremos cada evidência de dores e lesões atreladas ao “consentimento” das pessoas que praticam esta modalidade.

Imagine que ao correr com um calçado apertado você sentirá uma dorzinha num ou nos dois pés. É fato que esta pode ser uma dor momentânea e poderá sumir ao haver a acomodação dos pés ou do tecido do calçado, com o alargamento possível e circunstancial.

Ao se sentir melhor passa-se o medo e a insegurança, pelo conforto sentido. Caso a dor não passe, ai virá o segundo passo que, ao perceber que está se machucando, os pés do nosso teimoso corredor passarão a se contorcer para caber dentro do apertado e incômodo calçado.

Dores antálgicas e dores por esfolamento são possíveis. Em contra partida a esse fato há remédios contra calos, bandagens especiais para os pés, geléias especificas para bolhas, e um sem fim de fármacos tão úteis quanto necessários, porém, se o conceito parasse antes da dor, não compraríamos calçados apertados e mal planejados para nossos pés. Muitos atletas não teriam sofrido dolorosos quilômetros de suas maratonas, diante das lesões que sentiram em anos passados.

O que você diria de alguém que na iminente perda de seu dedão do pé descobrisse que o ocorrido dava-se por simples desajuste de aproximadamente três números de calçados a menos e que seu dedo estaria vitimado pelo aperto e pelo inchaço, pela intensa e obstruída circulação sanguínea, além do local pouco arejado e de pouca atitude dos pés? Dedo roxo, inchado e anestesiado, marcava o iminente final de suas atividades naquele corpo e, o mais incrível, com o consentimento de seu dono, despercebido e com o forte intuito de correr, custando o que custasse.

Para variar um pouco de situação, partimos um pouco acima, com as dores dos músculos tibiais anteriores, e poderemos sentir uma dor tão universal quanto cronológica. É iniciar-se em uma caminhada saudável e, pronto! Lá vem a tal e famosa. Incomodado, interrompe os treinos, e não parece que vai passar tão cedo. O que faremos? Paramos os treinos, esperamos que ela se vá e logo voltamos aos treinamentos, como se nada tivesse ocorrido. Lesões deste tipo podem ocorrer pelo simples fato de acreditarmos num determinado ritmo “quase obrigatório” de passadas, que no mais das vezes deixam suas marcas em contraturas fortes e impotência funcional dos referidos músculos.

O descanso? Necessário. Medicação? Provável, dependendo de orientação médica. O ritmo de deslocamento deverá sofrer variações de acordo com a avaliação do tempo de condicionamento e peso corporal, que poderão ser indispensáveis. Enquanto se tenta maquiar a dor ocasionada a tal musculatura, consequentemente, lesamos antalgicamente o outro lado que até então não doía.

As tão famosas dores nas costas, que muitas vezes são decorrentes de esforço desmedido, vêm à tona, principalmente depois de intensas corridas e treinos em rampas, com pesos, com acelerações demasiadas para o momento e para o praticante assíduo, que mais uma vez acredita que sem o grande esforço, não há resultado provável.

Migramos para as dores de ombros e braços, que se transformam para seus praticantes em um “inferno de Dante”, dado o momento de trabalho intenso, estresse costumeiro e, a contragosto, dobrando o esforço para se manter treinando em uma postura adequada e na intensidade pretendida.

Dores na região pélvica tem sido uma tortura para muitos corredores que são obrigados a passar horas sentados em uma mesa de escritório e sem tempo para alongar, respirar ou, simplesmente, variar a posição. Consequência do fato: Tratamentos fisioterápicos contra possíveis lesões, fármacos para eliminar as dores, exercícios de postura, troca da cadeira e a mais distante de todas as providências: consciência postural. Sem alarmar, todos os itens podem ser uma forte justificativa para o surgimento das dores neste momento.

Por estas simples análises podemos conferir algumas das pequenas, porém necessárias, modificações de postura, quando do início de nossas aventuradas corridas a pé.

E falando em aventuradas corridas a pé, podemos lançar mão do antigo verso que dizia e diz até os dias atuais: “O Sofrimento é Momentâneo, o Prazer é Eterno”. Puxa vida, será necessário sofrer para se divertir ou podemos aproveitar uma linha de duplo prazer?

Treinar com prazer e sofrimento mínimo deve ser para o homem moderno, acostumado a sofrer bastante em outras tarefas diárias. Poderia realizar treinamentos mais calmos e adaptativos, de forma que o sofrimento fosse mínimo ou nulo. Podemos treinar sem os referidos sofrimentos que se cultivaram durante décadas e que fizeram suas vítimas.

Pessoas paradas de suas atividades físicas, mortas e ou com lembranças descabidas do que deveria ter sido uma enorme e eterna fonte de prazer de suas conquistas atléticas. Eu conheço alguns que se vangloriam pelos feitos, enquanto outros sofrem pelos males conquistados.

E então, depois de ler todas estas situações você se vê numa delas? Viu-se em algumas ou ainda vive as referidas situações?

Falemos sobre este assunto que pode não trazer a culpa para os quilômetros rodados, mas sim, a falta de conexão adequada para os treinos, seu corpo e o seu dia a dia.

Até mais.

Você tem dúvida sobre seus treinos de Corrida, equipamentos ou provas? Mande sua pergunta para ativoresponde@ativo.com que Miguel Sarkis poderá respondê-la!

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