Meditação no trânsito

Atualizado em 05 de agosto de 2008
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Por Thays Biasetti

A cada dia, novos recordes de congestionamento têm sido quebrados em São Paulo. Para quem mora na capital paulista, ou em outras metrópoles, é comum perder, pelo menos, uma hora ou mais no trânsito todos os dias. Para quem não mora em cidades grandes, sempre existe um dia em que há um congestionamento, alguém que corta a preferencial ou falta de vagas para estacionar. Isso pode ser um fator que gera nervosismo e raiva, além de aumentar o cansaço e o estresse causados pelo dia-a-dia.

“A causa da irritação é porque o ser humano está sendo bloqueado na manifestação de um desejo seu. No caso, o desejo de sair do congestionamento, de chegar em casa ou de estacionar. Esses bloqueios das vontades é que o faz o ser humano perder a calma”, comentou Vitor Caruso Jr., do Ciência Meditativa, em Curitiba, no Paraná. A repressão dos desejos a um estado de consciência alterado, fazendo com que as emoções fiquem fora de controle.

O sofrimento também pode vir da expectativa de um futuro próximo. O professor de Yoga e meditação Dada Diipa, do Centro de Yoga e Meditação Ananda Marga, em São Paulo, disse que o homem não consegue viver o momento. “As pessoas ficam estressadas no trânsito porque não vivem o presente, sempre pensam em estar em outro lugar, em um tempo futuro bem próximo”, falou.

A professora e fonoaudióloga Simone Rosana Fracisco Saldo, de Curitiba, era uma sofredora no trânsito. “Eu ficava estressada com o trânsito. Se demorava demais para chegar a algum lugar, principalmente, quando estava atrasada para buscar alguém, ficava muito nervosa”.

Mente calma com mantras
A meditação é uma ótima saída para conseguir enfrentar o trânsito ou qualquer estresse que possa tirar a pessoa do eixo. A prática pode ser feita durante um congestionamento, mas para conseguir melhores resultados, é melhor que se medite todos os dias.“Você deve olhar a meditação como um instrumento de conhecimento interior. Depois de um tempo, você começa a conhecer seus sentimentos e pensamentos e consegue lidar melhor com os próprios desejos, que são a causa da raiva”, afirmou Vitor.

Simone aplica as técnicas de meditação na vida e no trânsito. “Eu faço prática de meditação diariamente e também medito sempre que dirijo. Depois que comecei a meditar, a situação mudou completamente. Eu estou mais tranqüila, aprendi a respirar quando alguma coisa dá errado no trânsito e até ter compaixão do outro que corta sua frente na rua”.

Quem acha que não consegue tirar os pensamentos da mente, especialmente enquanto está no carro, há outras maneiras de se concentrar. “Esse tempo que seria desperdiçado pode ser usado para rever um determinado tema, ouvir uma palestra, um CD de poesias. Desse modo, a pessoa torna essa condição de suposta prisão em condição de liberdade, usando o tempo para evoluir o espírito, o que não deixa de ser, também, uma prática de Yoga”, disse Vitor Caruso.

Dada Diipa também sugere se concentrar em outros fatores. “Faça uma meditação e aceite a situação que está vivendo no momento. Use o tempo para buscar o conhecimento, entoar ou escutar um CD de mantras. Respire, conecte-se com sua consciência interior e experimente a calma”, falou Dada.

A meditação em si
Para aqueles que querem se aprofundar na interiorização ou já têm o costume de aquietar a mente, há técnicas mais complexas de meditação que podem ser realizadas dentro do carro. “A pessoa deve desenvolver a respiração. Segundo o Satipatthana Sutta (Fundamentos da Atenção Plena) do Buda, a meditação é feita em quatro aspectos: a meditação das perspectivas do corpo, dos sentimentos, do fluxo mental e dos objetos da mente. O Sutta usa a respiração para que a pessoa possa perceber o que acontece em cada um desses aspectos. Você trabalha a atenção naquilo que você está produzindo, no caso, dirigindo”, comentou Vitor.

Mas muito cuidado. A meditação no trânsito não deve ser feita como é realizada normalmente, para não causar acidentes. “É preciso estar atento ao trânsito, ao mesmo tempo em que busca a tranqüilidade. Viver no presente, aceitar que não tem controle sobre a situação e desfrutar de um estado mais calmo dentro de nós é o fundamental. Nós temos muito potencial de buscarmos o nosso conhecimento”, comentou Dada Diipa. “Não feche os olhos, nem faça relaxamento, nem visualizações. Não precisa estar com as mãos fora do volante para recitar mantras. Apenas foque na plena consciência. Realize os atos simples com outro nível de consciência. Dessa forma, vai conseguir se acalmar ou nem mesmo chegar às raízes da irritação”, finalizou Vitor Caruso.