Marily dos Santos

Atualizado em 06 de junho de 2008
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Por Odara Gallo

Fosse para dar um recado, comprar um produto na venda ou levar sabão para a irmã lavar roupa no rio: tudo ela fazia correndo. Marily dos Santos, ainda criança, já usava a corrida para encurtar distâncias na pequena cidade de Joaquim Gomes, em Alagoas, onde ajudava os pais na roça. Mais tarde, o esporte tomou mais espaço na vida de Marily e, a convite do primo José Carlos Santana, três vezes campeão da Maratona do Rio de Janeiro e detentor de uma medalha de prata no Pan de Cuba, em 1981, começou a treinar.

Os resultados apareceram em corridas de 10 km em Alagoas e na Bahia e, mais tarde, as meias-maratonas passaram a ser o foco. Mas foi em 2008 que o nome de Marily, 30, entrou definitivamente para a lista das grandes atletas de longa distância do país. Ela venceu a Maratona de Florianópolis e foi a única brasileira a conquistar o índice A para os Jogos Olímpicos de Pequim.

Em entrevista à O2 Por Minuto, a atleta conta como está o treinamento para o desafio na China, as dificuldades da infância e o que mudou depois do índice olímpico.

O2 Por Minuto – Como foi o seu primeiro contato com a corrida?
Marily
– Eu morava na roça e tudo o que tinha que fazer era correndo. Minha mãe me dava dinheiro para comprar alguma coisa na venda, e eu ia correndo. Se precisasse dar algum recado para o meu pai, ia correndo. Quando tinha que levar sabão em pó para minha irmã lavar roupa no rio, também ia correndo.

O2 Por Minuto – Quando você percebeu que poderia competir?
Marily
– Meu primo era atleta e sempre ia passar férias onde eu morava. Quando fiz 18 anos, ele me levou para Maceió para correr. Ele também estava sem treinador e fomos para a Bahia para procurar um. Nós encontramos um treinador para ele que também me passava os treinos por fax e telefone, porque eu ainda morava na roça.

O2 Por Minuto – E os resultados começaram a aparecer rapidamente?
Marily
– Foi em um circuito de corridas de 10 km em Salvador no qual comecei a me destacar. Então, fui morar na capital baiana para ficar mais fácil de ir às competições.

O2 Por Minuto – Por que você e seu técnico resolveram partir para distâncias maiores?
Marily
– Como a maioria das meias-maratonas estava dando boas premiações, resolvemos treinar para essa distância. Hoje, posso dizer que gosto mais de correr os 10 km, mas estou pegando amor pela maratona.

O2 Por Minuto – Qual é a parte mais difícil de correr uma maratona?
Marily
– Do quilômetro 35 em diante fica muito difícil. O corpo sente mais o impacto, o chão parece estar mais duro e as passadas ficam mais doloridas. Nessa hora, procuro pensar que já passei por coisas mais difíceis. Se quando eu era criança, às vezes, tinha que dar um recado para o meu pai em um lugar muito longe e fazia isso todos os dias, por que não ia agüentar correr agora que tenho que fazer isso uma vez por mês? Além disso, não sou de parar nada pela metade. Se começo, termino.

O2 Por Minuto – Você já está colhendo bons frutos pelo bom desempenho na carreira?
Marily
– Consegui dar um conforto melhor para a minha mãe. Ela foi a pessoa que falava pra mim: “Você vai ser corredora igual ao seu primo. Só precisa ter coragem que você vai conseguir”. Ela sofreu muito de saudade, mas sempre dizia que mesmo que eu não conseguisse dar um conforto para ela, tinha que fazer o que gosto.

O2 Por Minuto – Já é possível sentir mudanças desde que você conseguiu o índice?
Marily
– O mais legal de ter conseguido o índice é ver o olhar das crianças que vêm me perguntar como elas devem fazer para correr, se interessam pelo esporte. Em qualquer lugar que eu esteja, as crianças me procuram. Isso é muito bom.

O2 Por Minuto – Como está seu treinamento para os 42 km de Pequim?
Marily
– Estou treinando em turnos ao nível do mar, aqui em Salvador. Ainda não sabemos a data certa, mas vamos em breve para a Colômbia com o Comitê Olímpico Brasileiro para fazer os treinos em altitude. A principal dificuldade que esperamos encontrar é a poluição. Mas o problema que atinge um atleta, atinge todos.

O2 Por Minuto – Você já sonha com o ouro olímpico?
Marily
– Qualquer atleta pensa em conquistar um ouro olímpico. A gente sabe que é difícil, mas não é custo nenhum sonhar, né? O meu principal objetivo é representar bem o nosso país. A gente não corre só com as pernas, corre com a cabeça também. Quem estiver com o psicológico melhor tem a vantagem.