Marco Antônio Oliveira: de Xangai ao Brasil

Atualizado em 14 de novembro de 2008
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Por Fátima Martin

Marco Antônio Oliveira, 50, teve participação significativa como treinador de atletas que participaram de quatro Olimpíadas e 53 mundiais de atletismo. Especialista em recuperação de atletas, em especial quando o assunto é overtraining, ele também é fundador da assessoria esportiva Infinitum, em São Paulo, e sócio-investidor da Infinitum de Xangai, na China.

Treinador de corredores de renome, como Fabiana Cristine da Silva, campeã do Troféu Brasil de Atletismo em 2002 (1.500 m e 5.000 m), e Leandro Prates de Oliveira, atual vice-campeão sul-americano (1.500m), Marco Antônio ajusta o fuso horário de quase 11 horas de diferença para atender, da cidade de Xangai, na China, os seus 67 atletas no Brasil e em outras partes do mundo por meio de tecnologias de comunicação à distância.

Após quatro anos de negociação com investidores estrangeiros, Marco Antônio conseguiu fechar uma parceria com investidores de Xangai e, além de intensificar o seu trabalho como empresário, também teve a oportunidade de expandir sua assessoria esportiva, a Infinitum, e levar novos conceitos de treinamento e qualidade de vida para a população do Oriente.

Ao site O2 Por Minuto, Marco Antônio contou mais sobre o trabalho de recuperação de atletas com overtraining e listou ainda algumas das principais tecnologias usadas para o treinamento à distância de seus atletas.

O2 Por Minuto – Há quanto tempo você trabalha como treinador?
Marco Antônio Oliveira –
Corria desde 1979, mas foi em 1981 que comecei a trabalhar como treinador, depois de orientar um amigo para uma prova de triathlon. A partir daí, comecei a freqüentar o Parque do Ibirapuera para treinar corredores executivos e profissionais liberais. No ano seguinte, comecei a atuar como o treinador da primeira equipe de corredores do Parque do Ibirapuera, que se chamava Ibirapuera Meio Dia.

O2 Por Minuto – Quais foram suas grandes conquistas?
Marco A. Oliveira –
Nunca fui convocado pela Seleção Brasileira de Atletismo para os Jogos Olímpicos, apesar de ter conseguido índices olímpicos para cinco atletas em cinco olimpíadas. Em campeonatos mundiais, ultramaratona, meia-maratona, maratona de revezamento e marcha atlética, já fui convocado 11 vezes. Como técnico e atleta também fui selecionado para 12 maratonas internacionais, todas na Ásia (Japão, China,Taiwan e Coréia do Sul). Desde 1988, os atletas de elite do meu grupo já tiveram participações em 55 mundiais, enquanto os corredores amadores participaram de maratonas, desde 1981, em 635 cidades de 47 países.

O2 Por Minuto – Você é especialista em recuperação de atletas, em especial quando o assunto é overtraining. A partir de que momento ou de qual grau de lesão, o atleta busca o treino de recuperação? Qual é a média de atletas (profissionais e amadores) que buscam o treino de recuperação?
Marco A. Oliveira –
Geralmente, eles procuram depois de vários meses ou anos, quando não conseguem respostas satisfatórias de recuperação. O treinamento de overtraining é o mais complexo, pois o diagnóstico diferencial (problema clínico x overtrainig) é fundamental para a solução conjunta.

O2 Por Minuto Como é preparado o treino de recuperação para um corredor amador?
Marco A. Oliveira –
A partir da avaliação de todo o seu histórico anual de treinamento, buscamos a origem do problema. O tratamento das lesões e do overtraining deve ter acompanhamento periódico no consultório médico ou no laboratório para facilitar o tempo de recuperação do corredor. Além de gerenciar o comportamento da FC basal e de recuperação do atleta, a adaptação da nutrição do corredor para a nova realidade, lesão e overtraining, também é sugerida. A entidade médica também faz consultoria para a escolha do corpo multidisciplinar que irá orientar o atleta no período de recuperação.

O2 Por Minuto – Quais as dicas que você daria para um atleta amador evitar o overtraining?
Marco A. Oliveira –
Os principais pontos a serem trabalhados são: manter a interatividade multidisciplinar nos treinamentos, auscultar o organismo e escutar o treinador; evitar competir em maratonas sem lastro de treinamento no calendário anual, apresentando-se em poucas competições; incluir mais treinamento regenerativo e menos treinamento pesado; equilibrar as atividades profissionais e de corrida; fazer avaliação clínica periódica, utilizar a FC Máx para controle do treinamento; optar por treinamento individualizado; administrar o uso de carboidratos; fazer do treino um estilo saudável e preventivo de vida.

O2 Por Minuto – Você está na China desde o começo deste ano. Qual é o projeto que você está desenvolvendo com a Infinitum? A sua permanência no país é definitiva?
Marco A. Oliveira –
Após a abertura da Infinitum em São Paulo, em 2002, e dos 27 anos de trabalho com atletas de elite e amadores, houve uma negociação de quatro anos com investidores estrangeiros. Nesses últimos oito meses, estou na China aprendendo um pouco da cultura local, principalmente o lado urbano de Xangai. Após o aval do governo chinês estaremos prontos para implementar nossa proposta de qualidade de vida e sustentabilidade na busca da saúde preventiva por meio da atividade física orientada e de eventos. Por isso, não tenho previsão de retorno ao Brasil.

O2 Por Minuto – Apesar desse tempo distante do Brasil, você ainda presta consultoria para vários atletas brasileiros. Qual é o tipo de tecnologia que você utiliza para monitorar o treino dos seus alunos? Qual é o total de alunos (Brasil e outros países) que treinam com essa tecnologia?
Marco A. Oliveira –
Na medida em que cresce o grupo de corredores à distância em diversas regiões e continentes, o fuso horário vai ficando mais estreito para ser administrado. Como atendo 67 clientes, sendo 16 só no Brasil, as ferramentas de portabilidade de treinamento são importantes aliadas na otimização do meu tempo. Basicamente, trabalho com internet móvel, SMS, Garmin, GPS 405, VoIP, Google Mapps, Mobile me.

O2 Por Minuto – Atualmente, quais são as tecnologias disponíveis para a consultoria à distância?
Marco A. Oliveira –
Nem todos os países utilizam a mesma tecnologia. As sms, rádio, conferência telefônicas, internet móvel e o chat on-line full time são ferramentas simples e poderosas para a proposta de monitoramente à distância. Alguns países ainda disponibilizam a Telemedicina, que inclui o monitoramento integrado cardiovascular, pressão arterial e nutrição.

O2 Por Minuto – Apesar de a tecnologia contribuir para a continuidade do seu trabalho no Brasil, como você ajusta o treinamento com o fuso horário de 11 horas de diferença?
Marco A. Oliveira –
Agendo os dias exatos de atendimento para cada corredor amador ou atleta de elite em conferências pelo telefone/ internet e delimito o tempo de conversação. Os atendimentos ocorrem nos horários entre 5h30 e 8h ou 21h e 23h, no horário de Xangai.

O2 Por Minuto – Há quanto tempo você é o treinador da atleta Fabiana Cristine da Silva? Como é o treino dela?
Marco A. Oliveira –
Há 12 anos. Fabiana busca provas de 1.500m e também tem uma boa resposta em provas de 5.000m. A periodização anual é preparada a partir de um ciclo mensal de 3 x 1 (três semanas progressivas e uma light). Geralmente, trabalhamos com dois picos de competição no ano. Para a recuperação otimizada, apresentamos um dia fixo para descanso semanal e mais um ou dois dias de pausas flutuante mensal. Em época de Troféu Brasil, em que a atleta corre as duas provas 1.500m e 5.000m, trabalhamos duas vezes na semana com cargas de qualidade na pista de atletismo. Uma sessão visa os 1.500m e a outra sessão, os 5.000m.

O2 Por Minuto – Além de Fabiana, quais os corredores de destaque que você já treinou? E quais são os atuais?
Marco A. Oliveira –
Na área de alto rendimento, a primeira atleta de elite que treinei foi a maratonista Angélica de Almeida que, em 1988, conseguiu índice A na maratona para os Jogos Olímpicos de Seul do mesmo ano. Atualmente, sou diretor técnico da ONG Sylvio de Magalhães Padilha e treino Leandro Prates de Oliveira (1.500m), atual vice-campeão sul-americano. Tenho como atleta também os gêmeos Paulo Roberto de Almeida Paula e Luis Fernando de Almeida Paula, o casal de corredores Fábio Nascimento e Beatriz, a atleta Débora Ferraz, além das maratonistas Dione D´Agostine, Maria das Graças e Adriana Sutil.