Maratona real

Atualizado em 30 de junho de 2010
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Muitos estudos tentam desmistificar as diferenças fisiológicas entre homens e mulheres quanto ao desempenho na corrida. Porém, um fator pouco levado em consideração na hora da comparação da performance é a jornada tripla das mulheres: casa, trabalho e corrida. Afinal, não é fácil conciliar os filhos, os problemas profissionais e a agenda de treinos.

Para a psicóloga do esporte Sâmia Hallage, a maior dificuldade encontrada pelas mulheres para conciliar várias atividades na agenda é o próprio pensamento. “Se elas mentalizarem que o tempo que destinam à prática de atividade física é perdido, que deixam de dedicar aos filhos, família e trabalho, dificilmente vão conseguir manter uma rotina de prática de atividade física”, exemplifica.

“A mulher pode sentir culpa e ansiedade por não conseguir realizar cada tarefa como acha que deveria, e isso acarreta um alto nível de estresse pelo acúmulo de atividades com alta prioridade”, complementa a também psicóloga do esporte Carla Di Pierro.

Para não perder o foco
Com tantas atividades diárias, a mulher pode, sem perceber, deixar a corrida de lado por conta de outras prioridades. “É preciso pensar que a atividade física é um ganho. Com essa rotina, estarão mais saudáveis e dispostas, e assim serão melhores mães, esposas e profissionais. Além disso, é preciso se organizar para garantir que, enquanto correm, seus filhos estão sendo cuidados e tudo está bem”, indica Sâmia.

Segundo Carla, a mulher atleta deve equilibrar todas as atividades do dia-a-dia. “A mulher não pode deixar de ser mãe para ser apenas corredora, por exemplo. Ela precisa saber administrar cada um desses papéis e equilibrar investimento emocional e de tempo”, disse. Para continuar com bons resultados na corrida, a especialista ainda diz que “o melhor a fazer é estabelecer prioridades e metas de curto, médio e longo prazos. Com essas prioridades será mais fácil decidir o grau de investimento em cada tarefa: ser mãe, profissional, esposa ou corredora”.

“Outra dica é justamente pensar em todos os benefícios que a prática regular da atividade física produz. Como ela vai ficar mais bonita, isso aumenta a auto-estima e reflete positivamente em vários aspectos da vida, garantindo o pique necessário para as tarefas do dia”, continua Sâmia. “Quanto mais a mulher alimentar a auto-estima, mais disposta ficará para se manter praticando esportes e dar conta das tarefas diárias. Mas para isso é fundamental que ela se organize e obtenha ajuda e incentivo de pessoas próximas”, conclui.

O importante é correr
Àquelas que são iniciantes na corrida, o fisiologista e treinador Paulo Correia explica que o tempo gasto nos treinos não é tão importante quanto a freqüência. “Uma atleta que possui baixa freqüência em treinos e mesmo assim resolve participar de corridas de rua pode sofrer de diversos problemas, como um desempenho ruim — que a deixa desmotivada —, dores articulares e musculares, além dos sintomas de fadiga, como dores abdominais e gastrointestinais.”

O especialista continua: “O tempo de treinamento dependerá de que provas essa pessoa pretende participar”, diz, e complementa contando que, para as que possuem a agenda cheia, é possível participar de provas de 10 km treinando apenas três vezes por semana.

Corra da fadiga
As nutricionistas Mariana Klopfer e Patrícia Bertolucci dão dicas para a mulher atleta enfrentar o dia-a-dia atribulado e ainda manter energia para a prática da corrida:

:: “O carboidrato é a nossa principal fonte de energia, e nunca deve ser cortado. Ele deve estar presente sim, mas em menores quantidades, em caso de dietas para perda de peso”, afirma Patrícia, que cita como exemplos os pães, cereais, grãos e batata.

:: Mariana indica alimentos que associem carboidratos com fibras, vitaminas e minerais, como arroz integral, quinua, aveia, macarrão integral, frutas, damasco, banana e uva-passa. Eles ajudam a mulher a manter o ânimo e combater a fadiga.

:: “As carnes bovinas, farinhas enriquecidas e o feijão são excelentes fontes de ferro. O ferro é um mineral que transporta o oxigênio dos pulmões até as células, auxiliando no combate à fadiga”, diz Patrícia. Além disso, a nutricionista aconselha o consumo de vegetais folhosos verde-escuros e alimentos fontes de vitamina C, que auxiliam na absorção do ferro presente nesses vegetais.

:: Outra dica de Mariana para diminuir a fadiga são alimentos com proteínas de boa qualidade e baixa quantidade de gordura: queijos magros, peixes (atum, salmão, pescada, anchova, tainha), carne vermelha com baixo teor de gordura (patinho, maminha, coxão duro) e partes magras de aves, como peitos de peru e de frango.

:: Patrícia afirma que também é importante o consumo de leite e derivados. O motivo é a presença do cálcio, um mineral essencial para que os ossos estejam sempre fortes.

:: Sobre os alimentos a evitar, Patrícia é enfática: “As frituras, assim como qualquer tipo de refeição gordurosa, são lentamente digeridas, causando sensação de distensão abdominal, cansaço e indisposição”. Cafés e chá em excesso também não são bem-vindos, diz a especialista. Eles prejudicam a absorção de ferro. A exceção são os chás naturais de frutas, menos agressivos.

*Por Marina Oliveira e Monique Penteado