Mais do que a primeira garota a correr Boston

Atualizado em 15 de maio de 2008
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Por Rodolfo Lucena

Na edição do aniversário de cinco anos da O2, há a história da pioneira nas maratonas, Kathrine Switzer, 61, em Fatos Históricos. A corredora, pioneira, desbravadora e ainda empreendedora foi a primeira mulher a correr uma maratona regularmente inscrita, com número de peito e tudo, em uma época em que os 42 km eram exclusivamente masculinos.

Confira outros aspectos da vida de Kathrine.

Amores tempestuosos
Aberta a mostrar seus tropeços e medalhas de atleta, Kathrine Switzer não se esquiva de abrir velhas feridas amorosas.

Ao longo de sua carreira, desde os tempos do time universitário de cross-country, teve sempre um companheiro de campanha. Às vezes incentivando, às vezes desafiando, em cenários idílicos ou em apertados e pobres apartamentos, os amores e desamores perpassaram a trajetória da corredora-empresária.

O primeiro namorado sério deixou de sê-lo quando ela decidiu que pretendia correr. O segundo amor, mais tarde seu primeiro marido, está impresso nas páginas da história do atletismo: foi o sujeito que impediu Jock Semple de tirar Kathrine das ruas de Boston, em 1967.

Mas, já naqueles dias, a relação era complicada e, ao longo dos anos, com o progresso da moça, acabou terminando em doloroso divórcio. Também terminou em separação o segundo casamento, com um homem bem mais velho, que compreendeu melhor e participou mais da vida da atleta. Foi ele quem montou o programa de treinamento que acabou redundando no recorde pessoal de Kathrine. Mas, quando ela se tornou executiva, ainda mais independente que uma maratonista, a relação foi para o ralo.

Hoje, aos 61 anos e correndo 10 km por dia, ela vive uma vida “maravilhosa”, como diz, com Roger Robinson. O primeiro encontro com ele, por sinal, é relatado na parte final do livro. Kathrine conheceu o corredor, escritor e professor universitário da Nova Zelândia em uma das viagens que fez para divulgar o circuito Avon de corridas. Os dois foram palestrantes em um evento, acabaram se apaixonando e hoje vivem, nas palavras do livro, uma vida “delirantemente feliz”.

Jogada de marketing
Garota-propaganda, executiva e um dos cérebros por trás do avanço das mulheres nas corridas, Switzer guarda no currículo a criação de algumas jogadas publicitárias até hoje usadas nas competições.

No final da década de 1970, por exemplo, o Circuito Avon de Corridas descobriu que poderia usar a massa de corredores como outdoor, fazendo de cada atleta um propagandista da marca.

Em Marathon Woman, ela conta que o circuito já oferecia camisetas coloridas para as participantes. Na etapa japonesa, a agência local de publicidade decidiu entregar as pecinhas já com o número de peito afixado, tornando praticamente obrigatório o uso da camiseta pelas centenas de japonesas que correram o evento, a primeira corrida só para mulheres no país.

“O rio de camisetas laranja correndo pelas ruas de Tóquio e ao longo dos jardins do palácio do imperador foi um espetáculo, a cobertura da mídia foi enorme e a exposição da marca — no peito de 800 mulheres corredoras — foi excepcional”, diz Kathrine.

Rodolfo Lucena, 51, é editor de Informática da Folha e do blog +Corrida (www.folha.com.br/rodolfolucena), na Folha Online; é autor de Maratonando – Desafios e Descobertas nos Cinco Continentes.