Lesões musculares

Atualizado em 13 de dezembro de 2007
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Por André Pedrinelli e André Paranzini Faria A prática esportiva habitual ou ocasional, no evoluir das últimas décadas, tem atraído cada vez maior número de praticantes. Os cuidados com a saúde e a busca de um melhor padrão corporal estético estimulam um crescente número de indivíduos ao exercício físico, das mais variadas maneiras: academias, parques, ambientes de trabalho e locais próprios para a realização de esportes mais radicais, como trilhas, corridas de aventura, escalada entre outros. Ou seja, a prática de atividade física tem se difundido ao longo dos anos, acumulando interessados e, portanto, pessoas com lesões na musculatura. Como não poderia ser diferente, esse direcionamento à prática esportiva leva à necessidade também crescente por parte dos profissionais de saúde em prestar atendimento específico a essas pessoas. Saber reconhecer suas necessidades, auxiliar no planejamento de suas atividades e proporcionar adequado tratamento e uma correta reabilitação de suas eventuais lesões são conhecimentos vitais para a condução segura e eficaz destes, sendo muito valorizadas no atual contexto da medicina. Neste universo, as lesões musculares respondem por aproximadamente metade das lesões esportivas, justificando a grande quantidade de estudos realizados e terapêuticas novas. Algumas condições próprias do exercício favorecem ou facilitam as lesões musculares, como: Um músculo realizando um trabalho com exercício excêntrico (aquele onde há o alongamento com desenvolvimento de força) apresenta maior chance de ocorrência de uma lesão. Isso se deve à maior produção de força ativa por parte do músculo (cerca de seis vezes maior que um exercício concêntrico), que é então vencido por uma carga mais potente do que a da sua contração, culminando no aparecimento de dor ou lesão na transição músculotendínea (responsável por boa parte da localização anatômica das lesões). Outro fator reconhecido são os músculos com função biarticular, como os ísquiotibiais. A principal explicação para tal é que esta classe de músculos usualmente está submetida à contração e ao alongamento simultâneos em duas articulações em vez de uma apenas, o que gera uma dificuldade de controle motor. Isto corrobora a necessidade de treinamento específico para cada esporte com ênfase na coordenação. Mais um fator epidemiológico a ser ressaltado é a associação das lesões musculares com os atletas envolvidos em atividades de velocidade (quando comparados aos de resistência); sabidamente pela exigência instantânea de um grande volume muscular em contração com maior carga e alongamento rápido das fibras, tudo isto num curtíssimo espaço de tempo. Usualmente, lesões musculares agudas, como os estiramentos, são reconhecidas pelo paciente no momento em que ocorrem. Durante a realização de atividade (principalmente preenchendo as condições supracitadas), sente-se uma dor aguda em determinado grupamento muscular, cursando com impotência funcional de algum grau. Tratamento O tratamento das lesões musculares agudas não é uniforme. Na fase imediata, recomenda-se primordialmente repouso relativo (permitindo deambulação, evitando atividades agressivas) e gelo local. Os medicamentos a serem empregados englobam os antiinflamatórios não-hormonais, relaxantes musculares e analgésicos, especialmente na primeira semana pós-lesão. A reabilitação fisioterápica deve ser iniciada assim que possível, desde que a mesma não produza grande desconforto. Assim, a primeira fase consiste em exercícios de alongamento e ativação sem carga; evoluindo paulatinamente para exercícios com carga progressiva desde que o paciente se sinta confortável. O manejo deste tempo de reabilitação e o momento adequado para retorno às atividades esportivas é bastante sutil e deve ser feito criteriosamente baseado em cada caso. Outra consideração importante é a prevenção das lesões. Fadiga muscular e lesões parciais prévias devem ser identificadas assim que possível e o programa de exercícios readequado. Por isso, não queime etapas do seu treinamento, isto pode sobrecarregar o seu músculo e levar a lesões piores. O alongamento rotineiro dos músculos ainda divide a maior parte dos estudos; e, embora alguns acreditem que um músculo sempre bem alongado diminui a chance de lesão (já que o alongamento repentino está diretamente envolvido no mecanismo desta), outros não provaram esta eficácia. O aquecimento apresenta boas propriedades preventivas, pois aumenta extensibilidade muscular, temperatura por atividade metabólica e auxilia no alongamento de músculos e tendões por produção de força muscular ativa. Caso decida-se por utilizar tanto o aquecimento quanto alongamento, é interessante realizar o aquecimento primeiro, pois a temperatura aumenta a extensibilidade do tecido conjuntivo, acrescendo a efetividade do alongamento. Observe seus limites sempre. O treinamento é uma atividade que requer esforço e perseverança. Estabeleça objetivos palpáveis de curto, médio e longo prazo. Mantenha-se sempre informado sobre métodos de treinos e sistemas de avaliação. Não deixe de conversar com seu médico sobre quaisquer dores que tiver. Às vezes, elas escondem um problema mais grave. * Dr. André Pedrinelli é Ortopedista, Traumatologista, Médico do Esporte, Assistente do Grupo de Medicina do Esporte do Instituto de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Diretor do Comitê de Trauma do Esporte da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e Médico da Confederação Brasileira de Futebol de Salão (CBFS).