Ladeira abaixo

Atualizado em 20 de julho de 2010
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Por Maurício Belfante

Muitas vezes durante uma corrida o atleta se depara com descidas, o que, para muitos, significa um momento de alívio, pela força que o corpo não terá que fazer para realizar cada passada. Entretanto, esta situação pode fazer com que surja o perigo de alguma lesão, já que é nos aclives que o corpo mais se sobrecarrega.

Segundo o fisiologista Raúl Santos de Oliveira, o corpo humano não foi criado para correr em descidas e por isso acaba sofrendo tanto. “Nascemos para andar no plano e a descida tem a sensação de queda livre para os músculos das pernas, fazendo-os sobrecarregarem muito mais”, afirma Oliveira, que ainda faz uma comparação entre os tipos de corrida. “Andar em uma descida sobrecarrega os músculos mais do que correr 12 km/h em uma pista plana”.

A maioria das lesões causadas em declives acontece no músculo tibial anterior, que é responsável por frear o movimento, seja a velocidade que estiver. Contudo, outras partes das pernas podem sofrer com as descidas, como tendões, meniscos, ligamentos cruzados e até o periósteo, membrana que envolve os ossos.

Contudo, há cuidados que permitem que a descida não seja um bicho de sete cabeças, e que possa fazer parte da planilha de treinamento. “É importante diminuir bem o ritmo nos declives, fazendo os músculos não se sobrecarregarem tanto. Além disso, é importante que o corredor faça um aquecimento e alongamento correto antes do exercício”, explica o fisiologista.

A importância da descida
Mesmo com a informação de que a descida pode ser um perigo para quem nela corre, os declives são essenciais para um planejamento bem feito, já que elas existem em todos os lugares e são fundamentais para preencher um circuito completo.

Contudo, não são apenas estes atributos que fazem da descida uma boa opção de treino. O mesmo corpo que reflete mal aos declives também necessita deles para conseguir uma alta potência muscular, realizando trabalhos em lugares que o circuito plano não consegue ter tanto acesso quanto nas descidas.

“As descidas conseguem realizar adaptações físicas em geral, na qual o corpo estará preparado para uma prova, treino, ou onde necessitar algum esforço. Com os músculos bem trabalhados, a parte mecânica do nosso corpo não terá que se sobrecarregar demasiadamente”, afirma Paulo Rennó, diretor-técnico da assessoria esportiva que leva o seu nome.

Além da parte física, as descidas também ajudam os corredores na questão psicológica, como explica Rennó. “É comum se deparar com alguns declives em provas, e muitos corredores ficam assustados e não conseguem tirar algum proveito da situação. Colocando todas as semanas as descidas em sua planilha, o corredor tomará coragem e enfrentar declives quando necessário”, afirma o profissional, que ainda alerta.

“Quando não há uma devida preparação, o atleta perde sua motivação quando se depara com uma rampa ou uma ladeira durante a prova, comprometendo todo o trabalho”, finaliza.