José Telles: rumo a Pequim

Atualizado em 30 de maio de 2008
Mais em

Por Odara Gallo

Aos 37 anos, José Telles de Souza, nascido em Rio Grande, no Piauí, chega ao patamar que muitos atletas lutam para alcançar: representar o país nas Olimpíadas. O corredor, que deu suas primeiras passadas correndo atrás de gado para ajudar seu avô no sítio da família, tem como principal conquista a Maratona de São Paulo, de 2005, quando já treinava com o objetivo de participar dos Jogos Olímpicos desse ano. Confira a entrevista.

O2 Por Minuto – Como está o seu treino depois de conquistar o índice para as Olimpíadas?
José Telles
– Já iniciei a preparação visando os Jogos. Estou fazendo trabalho de força, musculação e percursos com bastante morro. No mês que vem, começo o treinamento mais específico. Eu e o meu técnico queríamos alguma cidade de maior altitude, mas que também tivesse um clima quente, para fazer adaptação da temperatura. Como é muito difícil encontrar locais com essas características, acho que o destino será Paipa, na Colômbia.

O2 Por Minuto – O que você espera encontrar na China, com relação ao percurso e ao clima ?
José Telles
– O percurso de Pequim não parece muito pesado, acho que é quase todo plano. O que mais preocupa é o calor e a poluição da cidade. Mas, como treino em São Paulo, esse é um fator que não deve atrapalhar muito. Acho que quem treina na capital paulistana corre em qualquer lugar. A minha maior expectativa é chegar na China bem fisicamente e mentalmente. A prova deve ser um pouco mais lenta por causa do clima.

O2 Por Minuto – Quando você iniciou na corrida, já tinha o sonho de representar o Brasil em uma Olimpíada?
José Telles
– No início da carreira, nem pensava que pudesse um dia disputar uma Olimpíada. Apenas de 2000 para cá que comecei a achar que tinha essa possibilidade. Cheguei a tentar a marca para as últimas olimpíadas na Maratona de Paris, mas não fiz um trabalho muito voltado para esse resultado e não consegui.

O2 Por Minuto – E como foi a escolha para a tentativa do índice em 2007?
José Telles
– No ano passado, estudamos uma maratona rápida e tentei Turim, mas não deu. Foi em dezembro, na Maratona de Milão, na Itália, que consegui o meu objetivo.

O2 Por Minuto – Você já soube na hora que a tinha conseguido o índice?
José Telles
– Na hora que olhei no relógio e vi que tinha conseguido o índice, dei até uma choradinha, né? Sentei sozinho e lembrei de tudo na hora, passa pela cabeça toda a dificuldade do começo. É uma felicidade muito grande.

O2 Por Minuto – O que você acha que um maratonista precisa ter para ser um campeão?
José Telles
– Um bom maratonista precisa ter um projeto bem planejado, apoio técnico e dos patrocinadores, além de disposição. Tem dias que o corpo está preguiçoso, não dá vontade de treinar, mas tem que pensar no objetivo e seguir em frente.

O2 Por Minuto – E quando você sente preguiça, como faz para se motivar?
José Telles
– Penso em todo o trabalho que foi feito e no objetivo. Um maratonista também precisa ter uma cabeça muito boa. Na prova, costumo pensar que cada 10 km é só 1 km. Então, divido a prova em quatro partes e vou embora.

O2 Por Minuto – Qual é a parte pior da prova para você?
José Telles
– A partir do quilômetro 30 é a pior parte. É a hora que dói tudo e tenho que superar para conseguir completar. Se não tiver a cabeça muito boa, dá vontade de desistir.

O2 Por Minuto – Como foi que você começou a correr?
José Telles
– Quando era pequeno, corria atrás de gado para ajudar meu avô, mas nem imaginava que isso ia me ajudar a ser atleta. Alguns anos depois, meu irmão mais velho que já praticava corrida sempre tentava me convencer a correr também, mas eu queria só assistir as provas mesmo. Quando fiquei sabendo que teria uma corrida na minha cidade, resolvi participar e comecei a trotar sozinho para me preparar. Fiquei em terceiro lugar. Em 1997, tive que deixar a firma na qual eu trabalhava como operador de empilhadeira para me dedicar aos treinos. Comecei a levar a sério e focar na Maratona de São Paulo e, depois, no Campeonato Mundial e nas Olimpíadas.

O2 Por Minuto – Quais seus próximos objetivos depois de Pequim?
José Telles
– Depois das Olimpíadas, vou participar do Mundial no ano que vem, em Berlim, para o qual eu já tenho índice.

O2 Por Minuto – E se a vitória da maratona olímpica vier?
José Telles
– Olha, não vai ser nada fácil, mas também não é impossível, né? Estou com boas expectativas.