Incomodada ficava a sua avó

Atualizado em 19 de janeiro de 2009
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Por Maíta Poli de Araujo*

Minha avó dizia que durante a menstruação as mulheres não podiam molhar o cabelo, tomar sorvete e comer manga. Dizia ela também, que praticar atividade física “no período da regra” era risco de morte! Mal sabe a minha avó que muitos recordes mundiais e olímpicos já foram quebrados durante “aqueles dias”.

O ciclo menstrual dura em média 28 dias (figura). Ele apresenta duas fases: na primeira, (fase folicular) predomina um hormônio chamado estrogênio, na segunda (fase lútea) predomina o hormônio chamado progesterona. No meio deste ciclo ocorre o fenômeno da ovulação, em que é liberado um óvulo para ser fecundado pelo espermatozóide. Caso não ocorra a fecundação, 14 dias após a ovulação, o tecido que foi preparado pelo útero para receber o embrião descama (menstruação).

A maioria das corredoras diz que a fase do ciclo menstrual não atrapalha o desempenho. Contudo, cerca de 8% delas, referem mal estar, dor de cabeça, irritabilidade e inchaço, dias antes da menstruação. O principal culpado por estes sintomas é a progesterona! Estas atletas podem ser beneficiadas por alguns medicamentos usados dias antes da menstruação ou de forma contínua.

Outro grupo de corredoras refere cansaço durante o período menstrual. Neste caso, o cansaço está associado à quantidade de sangue perdida. O normal é perder ao redor de 80 ml de sangue por ciclo; perdas superiores a este valor podem levar a anemia o que explica o cansaço nos treinos. Mais uma vez, o médico é capaz de diagnosticar a causa do sangramento excessivo e instituir tratamento adequado que não atrapalhe os treinos.

Alguns técnicos e preparadores físicos organizam o treinamento de suas atletas de acordo com a fase do ciclo menstrual. Isto porque logo após a menstruação, devido ao aumento do estrogênio, algumas mulheres treinam melhor. Por outro lado, dias antes da menstruação, devido ao aumento da progesterona, o desempenho piora. Assim, os técnicos instituem volume de treinamentos mais altos após a menstruação e mais baixos antes da menstruação. Em mulheres que tomam anticoncepcional hormonal (pílula, injeção, implante, adesivo ou anel vaginal), este esquema de treinos não se aplica, pois não ocorre flutuação dos hormônios.

Nos dias de hoje, é inaceitável que “aqueles dias” atrapalhem os treinos de uma corredora! Os técnicos devem questionar às suas atletas como elas se sentem ao longo do ciclo menstrual e orientá-las acerca da necessidade de procurar um ginecologista.

Você deve se preocupar com os treinos e não com a sua menstruação. Afinal, incomodada ficava a sua avó!

* Maíta Poli de Araujo é ginecologista, doutora em medicina pela UNIFESP e
médica do Ambulatório de Ginecologia do Esporte da UNIFESP.