Finalmente Kubiak conta como foram os 70k no Rio Paraná

Atualizado em 29 de abril de 2008
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No último artigo, o colunista do ativo.com Romulado Kubiak, veterano triatleta e ironman sexagenário, contou muitas boas histórias sobre suas aventuras aquáticas, o que deixou o tema inicial do artigo – o relato dos 70 km pelo rio Paraná – para outra oportunidade, ou melhor, para este artigo logo abaixo.

Os treinos para a mais longa prova de nossas vidas, realizados à noite na Represa Billings, chamaram a atenção da TV Cultura que enviou um de seus repórteres para nos filmar e, devido ao nosso sistema de “rastreamento”, com as pequenas luzes “piscando” ao afundar e aflorar na água durante as braçadas, deu à reportagem o título “OS VAGALUMES DA BILLINGS”…era o nosso esforço já no início sendo valorizado, coisa incomum na época para um esporte tão pouco divulgado!

Depois de incansáveis treinos, finalmente estávamos em Castilho, bela cidade às margens do Rio Paraná, um rio imenso, muito limpo, com até quilômetros de largura e que divide os Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul e que na época estava com suas mangueiras em plena produção, o que causaria transtornos em muitos nadadores que pretendiam participar da prova.

Explicando melhor: com tanta fruta madura caindo das árvores e sujando seus quintais, os moradores consideravam um favor quando alguém lhes pedia as frutas e alguns atletas exageraram na dose e comeram tanta manga que no dia da competição tiveram desarranjo estomacal e muitos nem puderam competir, enquanto que outros desistiram no meio da prova devido à desidratação causada pelas fortes diarréias.

Houve o caso de um amigo (não citarei o nome, pois correria risco de vida!) que de tanto tirar a sunga para satisfazer suas necessidades resolveu continuar nadando sem seu traje para não perder mais tempo, só voltando a vesti-lo na chegada…um verdadeiro herói nu, pois terminar uma prova com esse grau de dificuldade nas suas circunstâncias foi uma conquista realmente heróica…parabéns, amigão anônimo!

Além do “efeito manga”, muitas outras dificuldades nos foram impostas pelo portentoso Rio Paraná: alternância de chuva forte e sol muito quente; o “portão de ferro”, estreita passagem entre pedras que afloravam e exigiam muita perícia, conhecimento do local e orientação do barqueiro que nos acompanhava para não colidirmos com as rochas, tendo sido fator determinante no resultado de muitos atletas, além dos “remansos”, redemoinhos formados nas curvas do rio que fizeram muitos nadadores desistirem por não poderem deles livrar-se!

Além do seu condutor, acompanhavam-me no barco um juiz da Fedração Paulista de Natação e um alimentador, meu grande amigo Silvestro Tury a quem muito devo ter concluído a prova, apesar do nosso total desconhecimento e até ausência de alimentos apropriados, na época, para serem consumidos em uma prova com esse nível de exigência física… nosso alimento era preparado sem o mínimo conhecimento nutricional o que, acredito, dignifica ainda mais o fato de termos terminado uma porfia de tal magnitude! Minha eterna gratidão a todos eles!

A cada curva vinha a pergunta: quanto falta para terminar? A resposta invariavelmente era: depois daquela outra curva lááááá adiante…e assim, apesar do cansaço, as esperanças se renovavam até que, finalmente, a visão das bóias e do “funil” de chegada nos deram alento para concluir mais um desafio que só a dedicação e o amor ao esporte que elegemos pode nos proporcionar.

Aos 44 anos, fui o mais velho participante a completar essa prova, em 10 horas e 28 minutos, apenas 3 minutos depois de um dos maiores nadadores veteranos da época, o saudoso Jorge Luiz Piotto, falecido há poucos anos em conseqüência de um câncer de pulmão adquirido durante o trabalho, pois era fumante passivo enquanto trabalhava em um ambiente onde todos os outros colegas tinham o funesto hábito tabagista…Piotto, você nos deixou muita saudade e os melhores exemplos de atleta e ser humano.

No próximo artigo: como conhecemos e iniciamos no triathlon…essa dádiva Divina!