Filé, técnico da Márcia Narloch

Atualizado em 17 de outubro de 2008
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Por Fátima Martin

Aos 51 anos de idade e muita disposição para praticar e acompanhar jogos nas areias das praias cariocas, Filé, treinador da atleta Márcia Narloch, uma das grandes maratonistas brasileiras, já conheceu 49 países por conta da carreira como técnico, e, apesar de ter vivido nove anos na Alemanha, em Hamburgo, disse que não trocaria nenhum desses lugares pela beleza e descontração que desfruta diariamente na cidade do Rio de Janeiro.

Jorge de Augustinis Oliveira, conhecido como “Filé da asa da borboleta” desde os 17 anos, por medir 1,81 metros e pesar somente 58 quilos, foi corredor dos 13 aos 23 anos numa época em que não havia tantas corridas de rua no Brasil.

Treinador por nove anos de atletas no Clube Flamengo, Filé treina há quase 20 anos a corredora Márcia Narloch. O técnico afirma que o Brasil não verá tão cedo uma atleta tão bem preparada por um período tão longo, durante 26 anos seguidos, como tem sido Márcia.

Para os atletas amadores, ele avisa: “o descanso é essencial para evitar lesões e a procura por profissionais especializados em fisiologia, bioquímica, nutrição e em treinamento antes de iniciar na corrida são essenciais para o equilíbrio do corpo e a qualidade de vida”.

Confira abaixo a entrevista exclusiva da O2 Por Minuto com o técnico carioca Filé.

O2 Por Minuto – Qual foi o seu primeiro contato com a corrida?
Filé –
Sou ex-atleta. Dos 13 aos 23 anos fui maratonista e corria de 3 mil a 10 mil metros em provas como a Corrida das Paineiras, a Volta da Lagoa e a Corrida Internacional Leblon-Leme, todas no Rio de Janeiro. Nos anos de 1980, meu treinamento não era focado para provas longas, como a maratona. Fui vencedor carioca por 12 vezes pelo Campeonato de Corrida Carioca, evento que acontecia na rua e na pista. Dos aos 13 aos 18 anos, fui campeão invicto. As provas eram organizadas no Maracanã e na Urca.

O2 Por Minuto – Por que você parou de correr?
Filé –
Quando participava da Mini-maratona da Barra, no final dos anos de 1970, fui atropelado por um carro. Fiquei três meses sem correr por conta de costelas e nariz quebrados, além do rosto muito machucado. Engordei sete quilos. Ao voltar a praticar, percebi que não tinha mais a agilidade de antes. Depois disso, parei de correr e comecei a trabalhar como treinador de corridas de longa distância no Clube Flamengo, onde permaneci por nove anos.

O2 Por Minuto – O que o levou a fazer intercâmbio na Alemanha?
Filé –
Comecei a treinar três atletas, Nivaldo Batista, conhecido como Careca, Osmiro da Silva e o Lauriene Alves Bezerra. Os três foram para a Alemanha e se destacaram lá. Como o país não tinha boas equipes de triathlon na época, eles me chamaram. Passei nove anos vivendo lá e no Rio de Janeiro, ao mesmo tempo. Nunca consegui deixar o Rio. Adoro essa cidade. Hoje, não moraria em nenhum outro lugar.

O2 Por Minuto – Quando você começou a treinar a Márcia Narloch, ela já disputava maratonas?
Filé –
Não. Ela só corria provas de 5 km a 10 km para emagrecer. Um amigo meu, o Passarinho, me pediu para treiná-la. Fui assisti-la no Campeonato Brasileiro Cross, em 1989, no Rio, e percebi na hora o talento que ela tinha. Apesar de ser amadora, ela já tinha coragem, pois corria no pelotão da frente, mas não agüentou manter o ritmo e ficou em 8º lugar.

O2 Por Minuto – Qual foi o desafio na elaboração do treino ideal para a Márcia?
Filé –
Como a Márcia tinha anemia, fizemos um trabalho de bioquímica muito importante com ela, eu e toda a equipe da Aeronáutica. O método, criado pelo bioquímico Alexandre Cosendei, idealizado também para monitorar a preparação de nossos astronautas, monitorou durante 14 anos também as condições físicas e biológicas dela. O trabalho da equipe, que acompanhava a evolução física do atleta e dosava as atividades para evitar lesões, foi fundamental para todas as vitórias que ela conquistou. Outro ponto importante foi o trabalho de fortalecimento muscular. A Márcia sempre foi muito elétrica, por isso velocidade nunca foi problema, mas as atividades de fortalecimento melhoraram seu desempenho.

O2 Por Minuto – Qual foi o melhor tempo da Márcia?
Filé
– Ela fez o melhor tempo após 14 anos de trabalho profissional, com 2h29min59s, na Maratona de Hamburgo, em 2004. Ela ficou em 5ª na geral.

O2 Por Minuto – Como você planeja o treinamento da Márcia?
Filé –
Como ela só consegue um bom rendimento se treinar forte, ela preparava treino de corrida de 180 km em duas semanas, e em uma velocidade muito alta, de 3min33s a 3min34s por quilômetro. A velocidade sempre a deixou na frente em maratonas internacionais. O Brasil não terá outra atleta tão bem preparada por um período tão longo, durante 26 anos seguidos, como tem sido a Márcia.

O2 Por Minuto – Você já treinou atleta amador?
Filé –
Treinei por pouco tempo, porque prefiro treino pesado. E, no treino do amador, deve prevalecer o trabalho saudável. Aconselho os atletas amadores a procurarem um médico antes de iniciar a corrida. Se estiver tudo certo com a saúde, o passo a seguir é procurar um professor ou treinador e ter acompanhamento também de nutricionista. Recomendo treinamento de corrida de duas a três vezes por semana, pois geralmente o amador tem outra profissão e não deve preencher todos os seus dias com treinamentos e se esquecer do descanso. É imprescindível também exercício de musculação, natação ou yoga.

O2 Por Minuto – Quais são os próximos projetos?
Filé –
Como nas Olimpíadas a Márcia treinou muito forte e teve nova contusão atrás da coxa, conseqüência de anos de desgaste, estou ensinando técnicas para ela ser treinadora. Ela já está preparando alguns atletas. Estamos fazendo trabalho social com 300 crianças, entre 11 a 18 anos. Márcia também pretende voltar a fazer faculdade de Educação Física, a qual ela teve que trancar para se preparar para os Jogos Pan-americanos, de 2007.