Eterna disputa

Atualizado em 19 de novembro de 2010
Mais em

Seja nas notas do colégio, nas brincadeiras da aula de educação física ou nas competições para descobrir quem é o mais forte, veloz e esperto, é desde cedo que se aprende que o mundo é dividido em uma batalha entre homens e mulheres. Essa competição sadia também chega no território dos esportes: é comum que nas recreações da escola as crianças sejam divididas entre meninos e meninas.

Segundo Ana Paula Vilar, coordenadora de educação física do Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), quem ganha a “guerra dos sexos” da corrida, desde pequenos, são os garotos. Isso porque, antes da puberdade, meninos e meninas possuem a mesma capacidade para condicionamento físico na hora de praticar esportes.

Porém, a partir dos oito anos, as diferenças fisiológicas começam a aparecer e os meninos saem na frente (ver quadro a baixo).

A pediatra especializada em medicina do esporte Ana Lúcia de Sá Pinto, especialista em Medicina Infantil do HCor (Hospital do Coração), de São Paulo, lista as principais diferenças que aparecem entre garotos e garotas após a puberdade.

“Depois que os dois passam pela puberdade, os meninos passam a ter um maior VO2 Máx., ou seja, maior capacidade de utilização de oxigênio pelo sistema cardiorrespiratório, mais músculos e maior quantidade de hemoglobinas no sangue, o que facilita o transporte de oxigênio pelo corpo.” A pediatra explica que para o sexo feminino a história é outra: “As meninas tendem a ganhar mais gordura do que músculo, o que impede um desempenho tão bom quanto o dos meninos na corrida”.

Coisa de menina
Mesmo com a situação um pouco mais complicada, a corrida permite à futura mulher benefícios em relação àquela que não pratica exercícios. “Ela deixa a menina mais sociável, responsável e mais magra. Além disso, deposita mais cálcio nos ossos, prevenindo uma possível osteoporose futura”, diz Maita Poli de Araújo, ginecologista do ambulatório de ginecologia do esporte do Hospital São Paulo.

Porém, a especialista faz um alerta: “Às garotas que treinam em um ritmo forte, todos os dias e buscando resultados, a corrida pode ser maléfica: nessa carga, o esporte pode atrasar a menarca (primeira menstruação) das meninas mais novas, além de diminuir o crescimento”, diz Maita. A ginecologista ainda lembra que esse problema não é único da corrida: qualquer esporte – como a ginástica artística, por exemplo –, praticado em carga exagerada por meninas pode causar esse distúrbio.

Outro caso a prestar atenção, segundo Maita, é o das meninas que menstruam muito cedo (por volta dos oito anos). Elas amadurecem mais rápido e correm o risco de não crescerem mais, além de ganhar peso. Nesse caso, a corrida pode causar malefícios à futura mulher.

Sobre qual momento é o melhor para a garota começar a treinar seriamente e seguir uma planilha de treinos, Maita afirma que, depois da menarca e com treinamentos normais (não para resultados), a menina já pode seguir um treinamento mais específico.

“O grande segredo está na quantidade de exercícios, na frequência com que eles são feitos e na forma como essa energia toda é equilibrada. Se a criança ou adolescente souber manter a carga de treinos em um nível normal, ela não terá problemas, só benefícios”, conclui.

Esta é a primeira de uma série de reportagens sobre esporte para crianças que o site O2 Por Minuto publicará todas as sextas-feiras. Para saber como deve ser feito o treinamento na infância clique aqui.

*Por Marina Oliveira