Eliana Reinert

Atualizado em 07 de fevereiro de 2008
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Por Carolina Botelho

Como você descobriu a paixão pela corrida?
A minha paixão pela corrida iniciou-se no ginásio (atual ensino fundamental), com o incentivo de minha professora de Educação Física e da participação na competição entre as Escolas da Cidade de Joinville, em Santa Catarina. Conquistei a primeira medalha da carreira nos 100 m. A alegria e a sensação de superação encheu meu coração. Isso aconteceu quando eu tinha 14 anos – e não me largou mais. Prova disso é que um ano após esta vivência, fui convocada para fazer parte da equipe de atletismo da cidade de Joinville, passando a ter um treinador de primeira linha, responsável pela construção de minha base atlética e mentalidade competitiva.

Quais são as vantagens e desvantagens de se tornar uma atleta profissional?
As vantagens são grandiosas e não é possível dimensioná-las de imediato. Quando me decidi pela carreira profissional, abri mão de qualquer conforto, fui em busca de meus sonhos e ideais como corredora. Não medi esforços para alcançá-los: sempre me desafiei, saí de minha cidade, enfrentei tudo que fosse necessário para amadurecer, melhorar meus resultados, até ser convidada p/ fazer parte da Equipe de Atletismo do E.C.Pinheiros em 1.979. Com isso, passei a vencer as principais provas de médias e longas distâncias do Brasil. A corredora profissional precisa ser paciente, queimar etapas, ter mobilidade, se motivar com pequenos incentivos, estar ciente que as dificuldades são parte integrante para que ela se fortaleça, e corra na frente, assumindo riscos. As desvantagens são inerentes à profissão. A estrutura não é favorável, você é cobrada o tempo todo, e precisa ter claro seus objetivos, e não se deixar abater. A corrida.

Quais são os títulos e tempos dos quais mais se orgulha? Por quê?
Atualmente, quando confiro meus resultados, me orgulho de inúmeros, mas, claro, alguns foram mais marcantes e importantes. Fui uma corredora com bons resultados na pista: recordista brasileira dos 3 mil metros (9min43s), recordista paulista dos 1.500m (4min35s), campeã Brasileira do 10 mil metros na pista (35min18s), terceira colocada na São Silvestre em 1978, pentacampeã da Meia-maratona Gazeta Esportiva (1h17min22s). Além disso, vencer a Maratona Internacional do Rio de Janeiro, em 1987, foi gratificante, uma verdadeira alegria, pois treinei muito duro e conquistei a marca de 2h50min47s, e ter reapresentado a América do Sul na Corrida Mundial pela Paz foi extraordinário, pois realizei o sonho de conhecer parte do mundo correndo. Ainda carreguei a tocha da Paz em prol das crianças e da paz entre os povos, um evento patrocinado pela UNICEF em 1986. Percorri Japão, Indonésia, Austrália, América do Sul. Para finalizar o evento, corri a distância de 220 milhas entre Washington e Nova York, com chegada na sede da ONU. Na verdade, é muito gratificante já ter realizado mais de 30 maratonas, sendo 10 Maratonas Nova York. Atualmente, continuo em atividade realizando uma maratona por ano e competindo nas provas de 10 km e revezamentos, sempre acompanhando meus atletas e alunos.

Como foi a transição de atleta profissional para treinadora de corrida?
A transição foi muito difícil. Foram muitos anos (dos 15 aos 35 anos) neste círculo, treinando e competindo. Era a minha vida e passei a rever minhas prioridades a partir de 1987, quando não fui convocada para correr o Pan-Americano e representar o Brasil na Maratona em 1987 em Indianápolis, nos Estados Unidos. Isso me frustrou muito. Iniciei minha carreira de treinadora em 1986 no Clube Pinheiros, desenvolvendo uma filosofia de trabalho, já ciente da importância em personalizar os treinos para os atletas e praticantes. A partir de uma avaliação prática, sempre tive um olho clínico, me aperfeiçoei embasando os treinamentos com mais conhecimentos, especializando-me como técnica de atletismo, e em corrida de medias e longas distâncias. Hoje, reconheço que o momento desta mudança de foco ocorreu na hora certa, pois fiz uma reavaliação e voltei a competir.

Como surgiu o Projeto Correr? E o Projeto Correr/ Mulher? Por que o interesse especial pelo universo feminino?
O Projeto Correr surgiu por volta de 1992, como uma maneira de eu atuar como técnica de corrida. Observei a necessidade de conscientizar o aluno que a pratica da corrida pode proporcionar mais do que o condicionamento físico. O Projeto Correr/ Mulher foi inspirado na busca das minhas atletas em se superarem e nas minhas vivências de corredora profissional. A corrida me proporciona alegria e renovação, e procuro transmitir isso às minhas alunas. As motivações que fazem as mulheres buscarem a corrida como referencial são bem diferentes das dos homens, pois a maneira como assimilam os treinos orgânica e fisiologicamente é outra. Ou seja, o desenvolvimento de um uma abordagem global e multidisciplinar é essencial.

Na sua opinião, quais são os maiores desafios que as mulheres enfrentam no treino de corrida? Elas têm mais dificuldades ou facilidades que os homens?
Os maiores desafios que as mulheres enfrentam são: dar o primeiro passo, realizar uma avaliação clínica e prática, manter-se treinando e conciliar, filhos, obrigações domésticas, trabalho e cobranças. Recomendo sempre que três vezes por semana ela reserve para correr, realizar seus exercícios complementares, o relaxamento pós-treinos e os alongamentos. Outra preocupação é cuidar e melhorar a alimentação.

Quais os ganhos que a mulher tem ao correr?
Os ganhos que a mulher tem ao praticar a corrida são imensos. Por ser uma atividade aeróbica, favorece o metabolismo da mulher. Um exemplo é que a partir dos 30 anos a mulher sente que não emagrece com tanta facilidade, e o treinamento da corrida proporciona um resgate muito promissor, equilibra o ciclo menstrual, dá disposição, atitude positiva e fortalecimento do tônus muscular e da resistência, da beleza e da confiança pessoal. Em cada etapa de sua vida, a corrida pode dar à mulher ferramentas para o aperfeiçoamento.

Como é o seu treino específico para mulheres?
O treino específico para a mulher deve ser estruturado, levando em consideração peso, altura, idade, se já realiza alguma atividade física, as motivações e os objetivos. Uma avaliação clínica cardiológica é importante, com um hemograma completo. Sempre realizo uma avaliação prática básica, observando postura, mecânica de respiração, adaptação ao esforço, estilo de corrida, batimentos cardíacos, recuperação e flexibilidade. A partir destes dados, elaboro a primeira seqüência de treinos personalizada, que é renovada a cada mês. Além disso, converso com a aluna três vezes por semana para saber se ela está assimilando os treinos e quais as facilidades e dificuldades.

Dê três dicas para a mulher que quer começar a correr.
Buscar suporte técnico ou orientação especializada, realizar exames, como hemograma e eletrocardiograma, ser perseverante, e ter na corrida objetivos a médio e longo prazos.

Dê três dicas para a mulher que busca melhorar a performance na corrida.
Para a mulher corredora que busca melhorar a performance, é importante se dedicar, construir uma base de treinamentos que possa levá-la ao aperfeiçoamento. A técnica na corrida é essencial, o volume de treinos e a intensidade devem ser adquiridos gradualmente, o gosto e a paixão pela corrida, bem como a performance, são estabelecidos a cada treino, dia após dia. A mulher que compete deve se cuidar, ter a corrida como aliada, e estar sempre atenta às reações de seu corpo, sempre focada e motivada no fortalecimento da mente.