Domínio santista

Atualizado em 17 de março de 2008
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Por Bruno Romano

Os cinco melhores atletas no pódio masculino da primeira etapa do Troféu Brasil deste ano, disputado no domingo, dia 16 de março, têm algo em comum: escolheram a cidade de Santos para viver e treinar triathlon. Sorte dos mais jovens Marcus Fernandes e Bruno Matheus, 4º e 5º colocados na prova, que ficaram atrás apenas de Fábio Carvalho, Paulo Miyasiro e Fred Monteiro, na ordem de chegada.

“O trabalho em equipe ajuda e dá resultado. Em vez de um querer competir com o outro, nós nos ajudamos e, assim, o grupo melhora como um todo”, explicou Carvalho, que fez o melhor tempo no domingo: 1h48min01s.

“Nadei bem e sai perto do Shiro [Miyasiro] e do Benjamin. Quando tive a chance de abrir na bike, forcei. Aí, saí para correr mais tranqüilo”, disse sobre a prova, definida principalmente no pedal. “Na bike, tinha de ter muita atenção. Na região portuária, como tem muito caminhão, tem de tomar cuidado com óleo na pista. Mas fiz um tempo que normalmente faço no seco. Então, está muito bom”, conclui já na dispersão após uma chegada de muita vibração.

“O Fabinho [Carvalho] é o que me incentiva mais. Ele que me ensinou a pedalar e a correr. Vou tentar seguir os passos dele agora”, disse o pupilo Marcus Fernandes, de 21 anos, que repetiu o 4º lugar da primeira etapa no ano passado, mas melhorou seu tempo de corrida, fechando a prova em 1h52min12s.

“Já venho batalhando muito para encaixar minha corrida, e consegui fazer isso hoje. Nadei mal e saí em quinto da água, mas segurei bem no pedal”, completou. Marquinhos, como é conhecido, mudou de Avaré (interior de São Paulo) há três anos para Santos, para estudar na Unimonte, treinar e competir triathlon profissional.

Sobre a natação, ele explica: “O Shiro, o francês [Benjamin Sanzon] e o Fabinho nadaram muito forte. Perdi a esteira deles, pois eles nadaram em zigue-zague e fiz muita força sozinho. Achei que tinha perdido a prova ali, mas o fim me deu mais ânimo para buscar”.

No quintal de casa

Quem também aproveitou a proximidade de casa com o circuito para participar foi o ciclista de longa distância Cláudio Clarindo. Voltando às suas origens de triatleta – já competiu em Ironman e participou de provas no profissional –, o santista deu as caras na prova. “Aqui a gente respira esporte. Mesmo que eu não goste pedalar da chuva, e estava chovendo, decidi fazer a prova”, disse, enquanto assistia à transição dos profissionais e aproveitava para encontrar alguns amigos.

“Só pedalar longo cansa, amanhã levanto cedo pra pedalar 200 km, por exemplo. Fazer Raam é loucura, você tem que fazer tudo seis meses antes”, explicou o atleta que deve acertar a parte financeira para sua participação na Race Across America 2008 ainda essa semana e já treina duro para a disputa.

Assim como Clarindo, os mais de 800 triatletas que competiram como amadores encontraram um bom circuito de triathlon, atrapalhado apenas pelo tempo nublado e chuvoso. Enquanto na etapa de corrida a chuva podia ser refrescante, no pedal era preciso estar atento, principalmente, ao passar pelas faixas brancas no asfalto. No mar, a atenção com a correnteza e com as ondas – além do momento em que atletas largando (e fugindo da correnteza) se misturaram com atletas saindo da água (puxados pela correnteza). O problema foi logo resolvido pela organização, com ajuda dos caiaques de apoio na água.

Poucas, mas valentes triatletas

Quando as mulheres do profissional entraram na água, na última largada do dia, a chuva estava ainda mais forte. “Treino um dia por semana na água com os meninos [atletas do pódio masculino]. Consegui ainda pegar uns jacarés, e a água não estava tão fria assim”, disse Carla Moreno, sobre as estratégias na natação.

Mas a principal preocupação da atleta, que levou a prova com 2h01min02s, estava no pedal. “Estou investindo muito no meu ciclismo. Toda a diferença na melhora do meu tempo veio dessa etapa da prova”, afirmou. Certamente isso aconteceu pelo fato de Carla estar passando muito mais tempo em cima da bike nos treinos para provas de meio-Ironman e, futuramente, Ironman.

Ela que competiu pela última vez com uma Giant (não contará mais com o patrocínio). Agora, testará novos modelos e está atrás de um quadro menor. “Hoje acordei em um dia muito inspirado e estou satisfeita. De sete batalhas, eu venci uma”, completou a novamente favorita ao título, que venceu todas as etapas que disputou no ano passado.

Sobre a falta de competitividade no Brasil e motivação a atleta foi direta: “Minha motivação é relógio, me vencer a cada dia. Quando acordo cansada, lembro dos momentos duros na prova, pois o triathlon nada mais é do que superação de si mesmo. Significativo para mim, mais do que a vitória, é melhorar a cada dia”.