Desça do salto

Atualizado em 26 de outubro de 2009
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Por Mariana Romão

É quase um consenso entre as mulheres que usar salto alto valoriza as pernas. Visualmente é bonito e faz efeito: os homens gostam. Mas, o que é invisível é a série de problemas à saúde da musculatura e das articulações da mulher. O correto, o ideal, alertam os ortopedistas, seria nem usar esse tipo de calçado.

“Mas o trabalho e algumas ocasiões exigem”, retrucam as mulheres. Para não jogar fora o salto alto, o tênis pode ajudar. É que os efeitos da corrida aliviam e combatem os prejuízos na saúde das mulheres que precisam viver nas alturas.

E não precisa ser muita altura não. Se a mulher se submete constantemente a saltos acima de três centímetros, vai provocar o encurtamento do tendão de Aquiles –ligamento que reveste o calcanhar – e da musculatura isquiotibial –que vai da coluna lombar ao pé –, aparecimento de joanetes e dedos em garras e maior incidência de entorses no tornozelo.

Segundo a ortopedista especialista em pé e tornozelo Cibele Réssio, mestre em ortopedia e traumatologia pela Unifesp, quem pratica atividades físicas de impacto constantemente tem tendões, ligamentos e ossos muito mais resistentes a eventuais lesões. Isso porque exercícios dessa natureza, como a corrida:

• induzem a produção de massa óssea;
• aumentam a resistência do arcabouço do esqueleto;
• aumenta a vascularização nos tendões e no periósteo (membrana que recobre o osso),
• alimentam e oxigenam esses órgãos

Além disso, uma corredora que cuida da preparação física e mantém uma rotina de alongamentos tem vantagem sobre as sedentárias, já que alongamento é o tipo de exercício mais indicado pelos ortopedistas para evitar crises de dor e relaxar a musculatura. “Em especial no músculo posterior da coxa e nos músculos isquiotibiais da perna e do pé”, ensina Cibele.

Em 1999, ela defendeu sua tese de mestrado, sobre os efeitos do salto alto no corpo feminino. Com um aparelho chamado baropodômetro F-Scan, um computador que mede a pressão na ponta dos pés, a médica analisou 400 passos de 10 mulheres. Cada uma delas foi avaliada descalça e com saltos de 3 cm, 6 cm e 9,6 cm. O objetivo era descobrir quais as alterações que o salto causa na marcha da mulher. A conclusão? “Todos os saltos são maléficos. Acima dos 3 cm trazem os mesmos problemas que os de 9 ou 10 cm.”

Ari Zekcer, ortopedista, cirurgião de joelho e médico do esporte pela Unifesp, também alerta para os problemas que o uso constante de salto pode trazer aos joelhos. “O calcanhar, elevado pelo salto, automaticamente faz com que a mulher ande com os joelhos mais dobrados. Essa mudança traz uma sobrecarga na região logo abaixo da patela, o que pode causar uma rachadura na cartilagem, chamada condromalácia, ou até mesmo tendinite patelar, uma inflamação dos tendões dessa região.”

O ortopedista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, Ricardo Munir Nahas, ensina a escolher o tipo de salto:

“Quando os sapatos são mais baixos na frente e altos atrás, esse desnível não deve passar dos dois ou três centímetros. Se mulher usa salto diariamente, deve preferir os chamados anabela.” E a ortopedista Cibele completa. “Até mesmo as plataformas, que distribuem melhor a pressão na planta do pé, devem ser aquelas que o deixam paralelo ao solo.”

Outro conselho de Nahas é que a mulher use o salto apenas nos dias em que passará mais tempo sentada. “As americanas tem como costume trocar de sapato durante o dia. Levam consigo um par para trocar quando a ocasião é mais formal, mas não passam o dia inteiro de salto. Aqui deveria funcionar assim também”, alerta.

Por motivos profissionais, Juliana Guerra, 33, não pode seguir as recomendações dos especialistas. Ela é administradora de empresas, há dez anos, e precisa passar no mínimo oito horas diárias, de segunda a sexta, sobre o salto. “Na primeira empresa em que trabalhei, esse tipo de sapato era obrigatório”, conta. “E sempre que eu não estava de salto sentia dores, um repuxo.” A saída, então, foi praticar exercícios. “Há dois anos e meio eu comecei a correr. As dores foram diminuindo e hoje meu corpo responde bem melhor aos problemas que o salto traz”, comenta.

Agulha matador
Com mais de 3 cm, o salto pode causar:

• Dores
• Encurtamento do tendão de Aquiles
• Encurtamento da musculatura do pé e da perna
• Aparecimento de joanetes
• Dedos em garra, com calos
• Entorses de tornozelo
• Condromalácia (rachadura na cartilagem do joelho)
• Tendinite patelar

Tire os pés do sufoco

• compre o calçado no final da tarde ou à noite, porque os pés incham um pouco durante o dia.
• experimente sempre os dois pés do calçado, pois um pé nunca é exatamente igual ao outro.
• compre um número que deixe 1,5 cm entre o último dedo e a ponta do sapato, para movimentar os dedos durante a marcha.
• o sapato deve estar confortável já na hora da compra, não acredite que ele vai lassear.
• meça o tamanho do seu pé frequentemente. Após os 20 anos, os pés costumam aumentar de um a dois números.
• não repita o mesmo calçado todos os dias, varie o modelo, para não machucar o pé sempre no mesmo lugar. Se possível, troque duas vezes por dia.

Dicas de alongamento
Manter os exercícios por 30 segundos e repetir três vezes

1) Para toda a região posterior da perna, deitada e com uma das pernas para cima, com uma toalha ou faixa presa à ponta do pé, a mulher deve puxá-la em direção ao peito; alternar a perna;

2) Para a panturrilha, apoiar as duas mãos na parede e afastar os pés, como se fosse dar um passo longo. Semiflexionar a perna da frente, manter a de trás esticada com o calcanhar apoiado no chão e empurrar a parede.