Corrida para menores

Atualizado em 06 de junho de 2007
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Por Odara Gallo

É só passar alguns minutos no pátio de uma escola para ter a sensação de que as crianças são incansáveis. A corrida já faz parte da vida da maioria delas. Essa atividade é benéfica por auxiliar na coordenação de movimentos e, como qualquer exercício físico, combate a obesidade, diminui os riscos de diabetes e os sintomas da asma, melhora o sono, aumenta o sistema imunológico, acelera o crescimento e ajuda o sistema cardiovascular. Mas estimular a prática da corrida em crianças é uma tarefa que exige alguns cuidados.

Fisiologicamente, o desempenho das crianças apresenta uma particularidade principal: ela é capaz de executar o esforço por muitas horas, mas em pequenos períodos de grande intensidade com intervalos de descanso maiores. A criança leva mais tempo para se recuperar.

O exemplo dos pais exerce influência muito forte na escolha dos pequenos. Quando o filho vê o pai preparando as roupas e acessórios para uma prova ou treino, ou mesmo vê a medalha conquistada, é normal que ele queira seguir pelo mesmo caminho, mas é preciso ficar atento à carga da atividade. “Os exercícios devem ser comedidos e oferecidos de forma recreativa, lúdica e variada para proporcionar um bom desenvolvimento”, explica o dr. Marcelo Acherboim, ortopedista, cirurgião, especializado em Traumatologia do Esporte, Ortopedia Geral e Infantil, formado pela Faculdade de Medicina da USP.

O treino da criança deve ter uma proporção diferente entre tiro e resistência, porque elas produzem dez vezes mais hormônios estressantes do que o adulto. “Ela precisa do dobro de tempo para se recuperar, ou seja, o exercício deve ser 80% de intensidade e 20% aeróbico”, ensina o treinador Alexandre Maximiliano, da EquipeStart do Rio de Janeiro.

Perigo de lesões
A repetição também não costuma fazer muito sucesso com os pequenos. Além de eles odiarem rotina, esse tipo de exercício aumenta o risco de lesões. Prefira treinos-surpresa, que são mais seguros e estimulam a coordenação motora.

“A prática organizada de esportes com treinos regulares pode causar lesões muito difíceis de tratar. Isso porque a estrutura músculo-esquelética ainda está em formação e isso precisa ser respeitado”, alerta Acherboim.

Entre as lesões mais comuns em pequenos atletas estão as epifisites, que são inflamações na região em que a cartilagem de crescimento ainda está aberta. Isso acontece porque é um ponto fraco do osso e a inserção muscular sobrecarrega a região, que pode até resultar no fechamento precoce dessa cartilagem e prejudicar o crescimento.

Ele será sempre um campeão
Obviamente, a cobrança por resultados em competições não é aconselhada antes da puberdade, pois a criança ainda não está preparada física e psicologicamente para lidar com esse tipo de pressão. Mas estimular a participação em competições de maneira natural pode ser divertido por causa dos benefícios da convivência social que o esporte proporciona. Não poupe elogios depois de uma prova e procure exaltar o esforço e a participação.

A prática esportiva ajuda também a firmar outros valores que são importantes aprendizados nessa fase. “Pode-se estimular o gosto pela vitória, mas ao mesmo tempo ensinar que a derrota também faz parte e não deve ser vista com aspecto negativo. Estes fatores ajudam na formação da personalidade da criança”, afirma Acherboim.

Se o seu filho optou pela corrida, deixe que a vontade dite os próximos passos. Essa é a fase de ele experimentar diversas atividades sem pressões e responsabilidades e uma rotina saudável cultivada de maneira natural pode determinar se ele será ou não um adulto sedentário.