Corrida e enxaqueca

Atualizado em 14 de agosto de 2009
Mais em

Por Fausto Fagioli Fonseca

Segundo uma pesquisa da Organização Mundial de Saúde, realizada em 2003, cerca de 303 milhões de pessoas no mundo sofriam de enxaqueca. Diferente da dor de cabeça comum, que pode ser esporádica, a enxaqueca é uma enfermidade genética, como explica o Doutor em Neurologia pela Universidade de São Paulo, autor do livro Cefaléias na Infância e Adolescência e diretor da Sociedade Brasileira de Cefaléia, Marco Antônio Arruda.

“A enxaqueca é uma doença determinada por genes, que provoca alterações químicas em áreas cerebrais que gerenciam a nossa percepção de dor. Trata-se de uma doença benigna, e acomete em torno de 12% das crianças e 17% dos adultos em todo o mundo”, explica o médico, que completa.

“Porém, apesar da causa ser genética, existem numerosos fatores que desencadeiam as crises, entre os principais: emoções (negativas ou positivas), odores, alimentos (chocolate, queijos, derivados do leite em geral e embutidos), luminosidade em excesso, privação ou excesso de sono e a menstruação”.

A enxaqueca e a mulher
As estatísticas novamente não mentem. A mulher é a que mais sofre com esta doença no mundo. Segundo pesquisa feita pelo site www.everydayhealth.com, cerca de 75% das pessoas que têm a doença são mulheres. Para o neurologista Marcelo Calderaro, do Hospital Albert Einstein, os hormônios são os maiores culpados.

“Os fatores hormonais têm um papel importante nesta questão. Na infância, em uma idade pré-púbere, a prevalência da enxaqueca é muito semelhante entre meninos e meninas, tendendo até mesmo a uma pequena vantagem dos meninos. Após os 10 anos de idade, as mulheres progressivamente são mais acometidas pela enxaqueca. Na idade adulta temos praticamente uma razão de três mulheres para homem”, diz.

“Por causa das variações hormonais pelas quais passa ao longo do seu ciclo menstrual, sobretudo à queda na produção dos estrógenos que ocorre às vésperas da menstruação, a mulher tem mais chance de sofrer dessa doença. Prova disso é que a enxaqueca tende a ´dar uma folga´ na gestação, quando a produção desse hormônio é estável, ou desaparecer por ocasião da menopausa, quando cessam sua produção”, completa Arruda.

Correr, um ótimo remédio
Você pode estar se perguntando, “Tudo bem, mas o que a corrida tem a ver com tudo isso”. Simples. Aliada ao uso correto dos remédios, essa atividade física pode ajudar a diminuir os sintomas, como explica a psicóloga com mestrado em neurociências e maratonista Luciana Campaner.

“A corrida, praticada com constância, ajuda muito a diminuir os sintomas da doença. Na minha tese de Mestrado, entrevistei 1230 pessoas e aquelas que praticavam atividade física aeróbica regular (pelo menos 3 vezes por semana) tinham menos crises de cefaléia (termo médico usado para designar dor de cabeça)”, diz Luciana, que completa.

”Outro fator muito interessante da corrida é que ela é um excelente modo de aprender a lidar com o estresse e a frustração do dia-a-dia.Ter um treinamento regular, um objetivo a ser cumprido ajuda no nosso preparo para as dificuldades da nossa vida. Quando conseguimos completar uma corrida que planejamos, temos uma enorme satisfação interna e, consequentemente, a valorização do nosso esforço pessoal”.

Para Marco Antônio Arruda, o hábito saudável, aliado à prática do esporte, é um remédio natural para o combate da enfermidade. “A atividade física regular é recomendada para todos que têm enxaqueca, pois as evidências científicas indicam que estimula a produção de endorfina, analgésico natural produzido pelo nosso cérebro, que combate a enxaqueca. As pesquisas mostram que pessoas sedentárias e que abusam de analgésicos tendem a sofrer mais com a doença, pois o cérebro, além de produzir pouca ou nenhuma endorfina, percebe que o indivíduo já está exagerando no uso do medicamento e, com isso, para de produzir seu analgésico natural”.

Porém, Marcelo Calderaro alerta que, durante as crises de enxaqueca, o melhor mesmo é o repouso. “A corrida serve mais como prevenção às dores decorrentes da enxaqueca. Na hora da crise, ao contrário, o indivíduo deve optar pelo mínimo esforço, já que, por se tratar de uma dor de caráter vascular, qualquer atividade pode agravar o incômodo”.

Há cura?
“Enxaqueca tem cura, haja visto que na maioria das mulheres ela desaparece com a menopausa. Se acompanharmos crianças com enxaqueca ao longo da adolescência e vida adulta, nos meninos observaremos uma tendência a cura e nas meninas uma tendência de piora e de surgimento de novos casos, especialmente a partir da primeira menstruação”, diz Arruda.

Para Luciana, a cura da doença está aliada a uma mudança no estilo de vida. “O tratamento mais eficiente ainda é o medicamentoso aliado às mudanças comportamentais. Ter horários fixos para comer, dormir, praticar um exercício físico regularmente ajudam muito, além de saber controlar o estresse e a ansiedade. Estados emocionais alterados tendem a desencadear mais crises e torná-las mais intensas”.