Correr contra a balança

Atualizado em 25 de junho de 2007
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Por Marina Oliveira

As brigas com a balança e com a quantidade de calorias ingeridas por dia agem como uma tortura diária para as mulheres. Menos pela ditadura da magreza ou dos padrões impostos pela mídia, perder peso é necessário por causa da saúde. O excesso de gordura predispõe mais as mulheres a problemas cardiovasculares, como infartos e derrames, e a doenças crônicas como o diabetes e a hipertensão arterial.

Segundo Mara Sallas, psicóloga e pesquisadora do Núcleo de Psicologia Clínica da PUC-SP, o que a mulher procura ao querer emagrecer é atender a um imaginário que ela mesma cria a respeito da opinião dos homens sobre beleza. “Acima do peso, muitas deixam de se sentir atraentes aos olhos alheios, perdem criatividade, ficam ansiosas e depressivas. Acham-se sozinhas e desinteressantes.”

Para a psicóloga, isso torna-se um círculo vicioso. “Aí, ela se isola e come mais. Se ela já se encontra tão mal, maltratar o corpo com dietas malucas piora ainda mais a saúde mental e emocional. O que a mulher precisa não são dessas dietas, e sim procurar qualidade de vida, para que ela sinta-se bem com ela mesma, ainda que fora dos padrões de estética.”

Cuidados ao começar a correr
A mulher sedentária e acima do peso deve começar devagar e aumentar o ritmo do treinamento aos poucos. Antes de tudo, fazer uma consulta médica, um check-up geral. “Os exames irão diagnosticar se essa mulher possui problemas no coração, diabetes –muitas vezes ligada à obesidade– e outros fatores considerados de risco, como o tabagismo e antecedentes de problemas cardiovasculares na família”, explica o fisiologista e cardiologista do esporte Antônio Sérgio Tebexreni, professor da USP.

Dores no início serão normais, explica Tebexreni: “Principalmente nos músculos mais exigidos pela corrida, como nas pernas e costas. É normal que, nos primeiros dias, a pessoa se sinta ‘sem posição’ e não se sinta confortável, mas o costume e os benefícios do exercício facilitarão o processo. O ideal é fazer um alongamento mais rigoroso antes e após a corrida nessas semanas iniciais.”

A nutricionista Heloísa Guarita alerta, no entanto, que a mulher não deve se esquecer de complementar o processo com uma alimentação saudável: “Quando ela começar a correr, não pode cortar tudo e só passar a comer salada. Mas também não pode exagerar só porque começou a correr.”

“Antes do treino ela pode comer uma fruta ou tomar um iogurte. Depois, algo mais forte: uma ou duas porções de carboidratos –pães integrais, cereais e grãos– e uma porção de proteína –derivados de carne, leite e ovos. A porcentagem de ingestão diária de carboidratos deve ser, em média, de 55% a 60%. De proteínas, de 10% a 15%; e, de gordura, entre 20% a 25%.”

Treinamento
O treinador Ricardo Arap, diretor técnico da Race Consultoria Esportiva, explica que o começo deve ser leve: “A atividade deve ser progressiva, aumentando o ritmo aos poucos, para não exigir muito dos músculos e das articulações. Se a mulher não for sedentária e já tiver feito algum outro esporte antes, é possível já começar com uma corrida leve. Se não, o certo é iniciar pela caminhada mesmo.”

“Quando se fazem exercícios em baixa intensidade, queima-se gordura em vez de carboidratos, então, no início, essa gordura é utilizada a favor dos treinamentos”, diz.

Rosângela Avancine já chegou a pesar 102 quilos. Em 1994, com 39 anos e pesando 98, resolveu começar a correr, influenciada pela família de atletas. “O começo foi difícil, doía joelho, calcanhar, costas, e era complicado acordar cedo para correr. Eu tinha muita vergonha do meu peso, e, nos primeiros dias de treinamento, tinha vergonha de usar shorts, por causa das minhas pernas grossas”, conta.

Caminhando no início, Rosângela participou de provas de 5 km e 10 km, e, um ano depois, correu a sua primeira maratona, em Nova York. Usando shorts, como ela gosta de lembrar.

“As pernas afinaram, a celulite foi embora, e eu passei a gostar de mim do jeito que eu sou. Hoje, divido minha vida em antes e depois de ter começado a correr.”

Rosângela é acompanhada por um endocrinologista e por um cardiologista, e hoje pesa 75 quilos. “Tenho uma família com histórico de diabetes. Eu não desenvolvi, mas faço exames regularmente.”

Veja a planilha para as primeiras seis semanas de corrida, elaborada pelo treinador Ricardo Arap.

Para enfrentar os quilinhos a mais

Semana
Segunda 8 x (4´ – CA/1´- LE) 5 x (5´ – CA/5´ – LE) 3 x (12´ – LE/8´ – CA) 2 x (20´ – LE/10´ – CA) 25´ – LE
5´ – CA
25´ – LE
40´ – LE
10´ – CA
10´ – LE
Terça Descanso Descanso Descanso Descanso Descanso Descanso
Quarta 7 x (4´ – CA/2´ – LE) 3 x (8´ – CA/7´ – LE) 3 x (12´ – LE/8´ – CA) 2 x (20´ – LE/10´ – CA) 30´ – LE
10´ – CA
10´ – LE
40´ – LE
10´ – CA
10´ – LE
Quinta Descanso Descanso Descanso Descanso Descanso Descanso
Sexta 5 x (5´ – CA/3´ – LE) 3 x (7´ – CA/8´ – LE) 2 x (15´ – LE/10´ – CA) 25´ – LE
10´ – CA
20´ – LE
30´ – LE
10´ – CA
25´ – LE
45´ – LE
5´ – CA
10´ – LE
Sábado 4 x (6´ – CA/2´ – LE) 2 x (10´ – LE/10´ – CA) 2 x (15´ – LE/10´ – CA 20´ – LE
5´ – CA
20´ – LE
30´ – LE
10´ – CA
20´ – LE
45´ – LE
5´ – CA
5´ – LE
Domingo 4 x (5´ – CA/5´ – LE) 2 x (10´ – LE/10´ – CA) 2 x (18´ – LE/12´ – CA) 20´ – LE
5´ – CA
20´ – LE
30´ – LE
5´ – CA
20´ – LE
50´ – LE

Legenda:
CA = caminhada (até 50% FC máx)
LE = corrida leve (65% – 70% FC máx)
(´) = tempo em minutos