Contador de histórias

Atualizado em 22 de julho de 2008
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Por Thays Biasetti

Você sabia que ler histórias para as crianças antes de dormir ajuda no aprendizado e pode ter influência por toda a vida? Um estudo feito na Boston University School of Medicine, dos EUA, demonstrou que a leitura em voz alta para crianças em idade pré-escolar melhora o desenvolvimento da linguagem e aumenta a bagagem lingüística. “As histórias trabalham a parte cognitiva e emocional da criança, pois passam mensagens subliminares que pregam atitudes positivas, além de mostrarem noção de tempo e espaço, desenvolvendo o lado matemático”, explicou a professora de literatura Patrícia Lane, do programa “Vivendo EU Conto” e especializada em educação infantil, de Salvador.

A pesquisa americana foi feita pelo pediatra Barry Zuckerman e publicada nos Archives of Disease in Childhood (Arquivos de Doenças Infantis) para comprovar que ler para os pequenos realmente é um ato benéfico para a comunicação da criança. Isso acontece porque o ser humano aprende a falar por imitação dos sons. Quando uma mãe lê uma história para seu filho, essa criança vai assimilar os sons das palavras que estão sendo lidas e, como essas palavras são diferentes daquelas normalmente utilizadas pelos adultos, a criança aumenta a quantidade de combinações lingüísticas na mente. “As histórias aumentam o repertório das crianças, além de resgatar fatos da vida, o que vai desenvolver melhor a capacidade de raciocínio”, comentou Camila Quino, psicóloga da Associação Viva e Deixe Viver.

A bagagem lingüística é o que vai definir o desenvolvimento da linguagem na criança. Isso pode determinar se ela vai aumentar o vocabulário ou vai ficar limitada em algumas palavras básicas. Como a linguagem verbal é uma das partes mais importantes da comunicação, a criança com uma bagagem lingüística maior vai ter mais chances de aprimorar o convívio social. A Associação Viva e Deixe Viver realiza um trabalho social que consiste em contar histórias para crianças internadas e os resultados costumam ser satisfatórios. “Algumas crianças que têm dificuldade em tomar remédios e fazer exames acabam deixando que os enfermeiros façam o trabalho normalmente por causa das histórias”, disse Camila. Os contos também incentivam o aprendizado, pois as crianças ficam interessadas em conhecer novas histórias. “As crianças que têm contato com os livros querem aprender a ler e têm uma alfabetização muito mais rápida, pois já conhecem as palavras”, disse Vivianne Wickmann França, pedagoga do Vivart Cursos, em Curitiba.

Criatividade a toda
Mas não é apenas o aprendizado que a leitura de história desenvolve. Ela ajuda também na criatividade dos pequenos, que são estimulados a imaginar as situações contadas. Durante o I Simpósio Regional de Processo de Aprendizagem, em Brasília, a pedagoga Gicelene Valim destacou a importância dos contos e fábulas no aprendizado infantil. “As histórias alimentam o imaginário, e as vivências por meio dos livros possibilitam a acomodação do conhecimento”, afirmou.

Além disso, o fato de ouvir as histórias estimula a criança a inventar outras, com personagens e lugares diferentes. “Elas ouvem as histórias e, ao mesmo tempo, viajam, criam uma outra história só delas, imagina qual o desfecho do que está sendo contado”, comentou Vivianne. A criança também é capaz de resolver assuntos desconfortáveis, por meio da imaginação e da identificação com o personagem, equilibrando o espaço interno. “As histórias estimulam a imaginação e têm a capacidade de tirar a criança do ambiente onde está e transportá-la para um mundo complemente diferente, de fantasia e sem sofrimento”, explicou Camila.

Outro benefício das histórias infantis é que elas são capazes de mudar hábitos das crianças, fazendo com que elas se sintam mais seguras em relação à vida. “Eu tenho um conhecido que contava histórias de aventura para a filha que sempre terminavam com o príncipe salvando a mocinha. Um dia a casa dele foi assaltada e prenderam a filha e a diarista no banheiro. Quando eles chegaram, a diarista estava desesperada, mas a menina disse ´Está vendo? Não disse que meu pai vinha me salvar?´. Isso mostra que a imaginação alimentada de bons exemplos se reproduz no comportamento das crianças”, disse Patrícia.

Conte um conto
Os pais e educadores que não sabem como entreter uma criança com histórias podem começar sem medo. “Não é necessário fazer vozes de imitação, nem nada. Apenas dê entonação e obedeça a pontuação. Precisa haver intimidade com a história e com o ambiente para que fique mais intrigante, inclusive pode-se esconder atrás de um elemento mágico, como um chapéu, para marcar aquele momento”, orientou Patrícia. Também é possível utilizar truques de efeitos para prender a atenção das crianças, como uma luz mais fraca se é uma história de mistério.

A escolha das histórias depende do gosto dos pais e das crianças e, principalmente, das circunstâncias em que estão inseridos. “Os livros com ilustrações são muito adorados. Dependendo da faixa etária, não é recomendado ler um livro muito longo para não perder a atenção”, comentou Camila. As melhores histórias são aquelas que remetem ao lado positivo e que são entendidas facilmente pelos pequenos. “Eu gosto dos contos de fada, pois existe o bem e o mal, além do final feliz. As fábulas também são muito boas e possuem sempre uma moral no final. Também pode usar temas folclóricos brasileiros, além dos clássicos de Monteiro Lobato, Ana Maria Machado e Ruth Rocha e vários outros autores”, finalizou Vivianne.