Choque nacional

Atualizado em 05 de agosto de 2009
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Por Fausto Fagioli Fonseca

Às vésperas do Campeonato Mundial de Atletismo, que será realizado entre os dias 15 e 23 de agosto, em Berlim, uma notícia abalou o esporte brasileiro. Cinco atletas que compunham a delegação do País para a disputa do torneio foram flagrados no exame antidoping realizado pela CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo).

Bruno Tenório, Jorge Célio Sena (4x100m e 200m), Josiane Tito (4x400m), Luciana França (400m com barreiras) e Lucimara Silvestre (Heptatlo) já estavam na Alemanha, em processo de aclimatação, quando receberam a notícia nesta terça-feira, dia 4 de agosto, e embarcaram para o Brasil para fazerem suas defesas junto dos técnicos Jayme Netto e Inaldo Sena.

Após uma reunião com a diretoria do clube Rede de Atletismo, do qual fazem parte os treinadores e os atletas, Netto deu uma entrevista coletiva em que assumiu a culpa pelo conteúdo encontrado no corpo dos esportistas, a substância “Recombinant – EPO isoforms”, um hormônio que ajuda na produção de energia aeróbica.

No pronunciamento, o técnico explicou que resolveu dar a injeção nos atletas após conversa com o colega Pedro Balikian Jr, supervisor do departamento de fisiologia da Unesp, que disse que a substância serviria para acelerar a recuperação física.

“Como estudioso, sei que o treinamento é importante, mas tem substâncias que podem favorecer, e outras que servem para dar um upgrade. Ele me falou que essa ajudaria na recuperação, e eu acreditei”, disse.

O presidente da CBAt, Roberto Gesta de Melo, também conversou com os acusados e explicou que não tinham intenção de se favorecerem ilicitamente. “Eles não tinham noção de que era uma substância proibida. Achavam que era um aminoácido e receberam injeções na barriga”.

Arrependimento e fim de carreira
Desolado com o ocorrido, o treinador anunciou para a imprensa que, depois deste caso, não tem mais condições de continuar a carreira. “O atletismo acabou para mim. Não tenho mais condições de enfrentar esse esporte. Não consigo encarar as pessoas. Eu acreditei no Pedro Balikian e prefiro não acreditar que ele me enganou, mas que nós dois fomos enganados. A decepção é muito grande, mas todo mundo tem o direito de errar”.

O presidente do clube, Jorge Queiroz de Moraes, também isentou de culpa os atletas. “Tenho a absoluta certeza que os atletas são vítimas. Eles não sabiam o que estavam tomando. Mas os dois técnicos, o Jayme e o Inaldo, sabiam. Isso é lamentável. Foi um choque brutal”, afirmou.

Apesar da participação de Inaldo na aplicação das substâncias, Netto resolveu assumir toda a responsabilidade por ter sido ele quem indicou Pedro Balikian para o cargo de fisiologista.