Cenário de desespero em Buenos Aires

Atualizado em 10 de setembro de 2007
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Polêmica e revolta marcaram a Meia-maratona da cidade, que contou com muitos problemas e pouquíssima água

 

Por Juliana Saporito

 

A falta de água na Meia-maratona de Buenos Aires foi o assunto mais comentado entre os atletas que participaram da competição, tanto os brasileiros quanto os estrangeiros. Com mais de 5 mil inscritos e a previsão de que mais 4 mil pessoas tenham corrido a prova “na pipoca”, os postos de hidratação ficaram vazios.

 

A brasileira Neiva Maria Comin Vigolo, 45, secretária, foi a Buenos Aires só para correr a prova e descreveu o cenário como desesperador. “Corri 21 km sem água. Os postos existiam, mas estavam vazios. Os primeiros corredores conseguiram água, mas quando chegamos só havia copos espalhados pelo chão. A elite conseguiu água, mas, nós, pobres mortais, não”, contou Neiva. Os copos a que ela se refere, aliás, não eram embalagens fechadas, mas copos descartáveis abertos, que deveriam ser reabastecidos a cada vez.

 

A água e os isotônicos prometidos pela organização não duraram nem durante a primeira metade da prova. Quem corria, suplicava por um gole. E somente quem pôde levar dinheiro para a prova conseguiu se hidratar. “Implorávamos e ninguém tinha uma resposta sequer para dar. Os corredores que levaram dinheiro paravam no meio do caminho para comprar água”, relembra a curitibana Neiva.

 

Os argentinos que passavam pelos postos de hidratação também estavam incrédulos e xingavam muito. “Nunca ouvi tantos gritos nervosos. Os argentinos pareciam não acreditar na falta de água, assim como nós”, relembrou a atleta. 

 

O portenho German Cornalejo confirmou a ira dos corredores locais. “Muita gente se revoltou e passou a chutar os postos de hidratação ao ver que estavam vazios. Havia muita gente cansada”, afirmou o argentino. Alejandro Haim fez coro e parabenizou, ironicamente, os que venceram o desafio. “Felicito os que mantiveram o ânimo com o clima e a falta de água, e alcançaram sua meta”, comentou.

 

Segundo Neiva, no final da prova, muitas pessoas passaram mal. “Havia muita gente caída no chão e nem os postos médicos tinham água. Foi horrível”, contou.

 

Foi a solidariedade entre os corredores que “salvou a pátria” de brasileiros, argentinos e tantos outros estrangeiros. “Evitávamos pedir água, porque sabíamos que todos tínhamos as mesmas necessidades. Mas no limite e no desespero, eu pedia. E conseguia”, contou Neiva, que finalizou em Buenos Aires sua segunda meia-maratona. “Se não fosse o problema da água, a prova seria excelente. Espero nunca mais passar por algo parecido”, finalizou a corredora.