Casa ecológica

Atualizado em 25 de maio de 2007
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Por Sara Puerta

 

O escapamento dos carros, a geração de energia e o desmatamento de florestas causam grandes problemas para o meio ambiente. Mas o segmento que traz mais impactos maléficos no mundo é o da construção civil.

 

De acordo com pesquisa realizada pela ASCE (American Society Civil of Engineers), dos Estados Unidos, até 50% dos recursos naturais consumidos anualmente são devorados nas construções.

 

Só de madeira natural, a construção civil consome dois terços do que é extraído. Na produção de materiais de construção, ocorre emissão de poeira e muito, mas muito CO2. Para cada tonelada de cimento fabricado, são emitidos 600 kg de carbono.

 

Além disso, em uma cidade como São Paulo, a construção civil gera 2.500 caminhões de entulho por dia, que muitas vezes são depositados em aterros clandestinos, provocando enchentes e proliferação de insetos.

 

Como opções, surgem projetos arquitetônicos que utilizam materiais reaproveitados e fazem uso de elementos naturais como o vento e o sol.

 

Para Márcio Araújo, diretor do IDHEA (Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica), a chamada casa ecológica já não é mais considerada uma instalação futurista ou voltada apenas para edifícios de empresas. “Atualmente, identificamos que algumas adaptações na construção reduzem bastante o impacto ambiental”, afirma Araújo. Essa é a chamada reforma sustentável.

 

Passos simples

Cristina Engel de Alvarez, arquiteta e coordenadora responsável dos projetos do laboratório de arquitetura da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo), aponta detalhes simples – e baratos – no projeto que tornam a construção sustentável. “O ideal é optar por grandes janelas em todos os cômodos; fazer uso passivo de recursos naturais, aproveitando ventilação natural e luz solar. Além disso, utilizar materiais de construção reaproveitados; restos de materiais de demolição, vidros reciclados, telhas feitas a partir de garrafas PET ou madeiras de reflorestamento evitam a extração de recursos naturais e reduzem a emissão de CO2”, afirmou Cristina Alvarez.

 

Segundo o IDHEA, o uso de sucata de aço, por exemplo, reduz em 90% os resíduos minerais e ainda permite a produção de um novo aço, consumindo apenas 70% da energia. O uso de entulhos de construção também pode substituir os recursos naturais dos processos primários na produção de concreto, blocos e base de pavimentação. Além disso, resíduo que é reciclado não ocupa espaço em aterros sanitários.

 

Outra boa saída é utilizar matéria-prima da região, preferindo produtos e materiais de construção comuns à região. Isso diminui os gastos com transportes, respeita o ecossistema e evita a degradação de outro local.

 

Mais economia para o bolso

A estrutura de uma casa sustentável degrada menos o meio ambiente e é uma grande contribuição para a preservação dos recursos naturais. E as vantagens não ficam apenas na sustentabilidade. Para Alexandra Lichtenberg, arquiteta, mestre em conforto ambiental e eficiência energética pela FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), os investimentos a mais na transformação da casa logo retornam com a diminuição das contas mensais.

 

Em um projeto modelo que ela elaborou no Rio, conhecido como Ecohouse, Alexandra colocou um sistema que separa água pluvial da potável. Com isso, o consumo de água na rede de abastecimento caiu para 20% do total.

 

Como na casa foram colocadas grandes janelas, paredes com cores claras, e “telhado-verde”, Alexandra não utiliza ar-condicionado e só acende as luzes à noite. “Além da economia nas contas, o ambiente da casa é mais agradável por conta da luminosidade e da ventilação. E a temperatura é mais amena”, acrescenta.

 

DETALHES DA CASA ECOLÓGICA

 

:: Telhas

Os “telhados verdes” feitos de vegetação de plantas e pequenos arbustos no lugar das telhas, garantem temperatura mais amena para a construção, já que a terra e a grama são isolantes térmicos. Assim, diminuem os gastos com aquecedores ou aparelhos de ar-condicionado. O telhado verde de vegetação é colocado sobre o concreto. Evitar: telhas de barro e de cerâmica, pois são produzidas em fornos que emitem gás carbônico.

 

:: Sistemas de energia solar

Placas de alumínio pretas, instaladas pela casa, captam a luz do sol que aquecerá a água dos boilers (cilindros que armazenam a água). De acordo com a canalização, a água aquecida pode ser usada em qualquer cômodo. A quantidade de sistemas de coletores de energia solar em uma construção varia conforme o número de pessoas que vivem na residência ou prédio.

 

:: Fotovoltaica

São colocadas placas de alumínio que captam a luz do sol e geram energia durante o dia e ficam armazenadas em baterias para fornecer eletricidade durante a noite.

 

:: Janelas

Para privilegiar a iluminação e ventilação naturais, o ideal é ter grandes janelas em todos os cômodos. Isso resulta em menos uso de ventilador, ar-condicionado e energia elétrica.

 

:: Paredes

Podem ser de um tipo de tijolo chamado de solo-cimento, que é feito da mistura da terra da obra com cimento. Com isso, não há necessidade de queima em olarias e são reduzidas as emissões de CO2.

 

:: Piso

Com madeira de demolição reciclável. Em alguns locais, podem ser usados pisos antiderrapantes feitos de borracha reaproveitada. Piso intervalado com grama pode ser usado na calçada ou quintal e é uma alternativa para a drenagem de água (mais solo permeável), assim, ajuda contra as enchentes, além de melhorar a qualidade do ar.

 

:: Sistema de água

Água da chuva é coletada por calhas do telhado para um reservatório, depois será canalizada para as descargas e torneiras externas (jardim, lavagem do carro). O uso da água da chuva nas residências também ajuda a evitar enchentes, já que não sobrecarrega o sistema de águas pluviais da cidade e em ambientes urbanizados existe pouco solo permeável.

 

:: Tinta ecológica

Proveniente de rochas transformadas, é mais vantajosa, pois não utiliza derivados de petróleo.

 

:: Banheiros

As válvulas de descarga (que escoam cerca de 20 litros de água cada vez que são acionadas) precisam ser substituídas pelo sistema de caixa acoplada ao vaso sanitário. Em média, ele só libera seis litros por vez e ainda pode estar associado com a canalização de águas pluviais. Utilizar caixa de descarga com duplo acionamento evita o desperdício, pois

controla o fluxo de água para líquidos (com um botão) e sólidos (com outro botão).

 

:: Esgoto

Pode sofrer tratamento biológico que elimina resíduos orgânicos da água. Com isso, ela poderá ser reutilizada em alguns lugares, como no quintal (irrigar o jardim ou usá-la na mangueira) ou novamente para a descarga.

 

:: Uso do bambu

Considerado um material nobre para construção, tem crescimento rápido em qualquer tipo de solo e é encontrado com facilidade no Brasil. Pode ser utilizado como colunas, vigas e telhas e forro para o telhado.

 

OUTRAS DICAS

 

:: Posição da casa

Antes de escolher a posição da casa, deve-se avaliar a região em que será construída: a incidência de ventos, sol e odores próximos do local. Em locais onde há muita incidência de sol, o projeto deve prever o aumento de sombras.

 

:: Menos transporte

Dar preferência por materiais de construção e móveis comprados próximo ao local da construção da casa. Isso evita o transporte, portanto, diminui a emissão de gases.

 

:: Plantio de árvores

Além de ajudar a melhorar a qualidade do ar, são eficientes para fazer sombras e diminuir a necessidade de ligar o ar-condicionado.

 

:: Móveis

Existem alternativas sustentáveis de fabricação com madeira de demolição (provenientes de entulhos que seriam jogados fora) e madeiras de reflorestamento (restos de madeira vindos de indústrias madeireiras).

 

Fonte: Cristina Engel e Alexandra Lichtenberg

 

Edição 49 – Maio 2007