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Por Cesar Candido dos Santos
Foto Antônio Ponzini
Enquanto as atenções do Desafio 24 de Fortaleza, disputado nos dias 15 e 16 de novembro, estavam voltadas para as feras do ciclismo brasileiro Murilo Fischer (Liquigas) e Luciano Pagliarini (H20), o mineiro Rogério Pacheco pedalava forte para conquistar o bicampeonato da competição e, de quebra, bater o próprio recorde no circuito, que agora é de 51 voltas (663 km).
Campeão brasileiro Máster e um dos principais destaques do país em provas de ultra-ciclismo, o atleta começou a carreira no Mountain Bike e depois passou a se dedicar às competições longas de estrada. Ao longo de sua carreira, além de encarar os adversários e os limites do corpo, ele sempre teve que lutar contra a falta de apoios e patrocínios, mas nunca deixou de ser um vencedor.
Prólogo – O que despertou seu interesse por disputas de longa distância?
Rogério Pacheco – Esse tipo de prova tem tudo a ver comigo, e o que mais gosto nelas é o desafio com meus próprios limites. Quando fazia mountain bike, sempre me saia bem nas competições de um ou dois dias. Fiz o Desafio 12 Horas e aí surgiram vários convites para disputar o 24 Horas, fui e conquistei o título.
Prólogo – E o que lhe fez trocar o MTB pelo ciclismo de estrada?
RP – Tudo começou com uma certa frustração pelo mountain bike. Sempre me sai bem nas competições, mas nunca consegui patrocínio. Cansei de ouvir promessas todo início de ano, e aí passei a me dedicar às provas de estrada. Mas até hoje também não ganhei nada além de reconhecimento nas disputas de longa distância.
Prólogo –Você ainda sofre com a falta de apoio?
RP – Sim, não pude disputar a RAAM (Race Across América) e o Campeonato Mundial por falta da patrocínio. Isto foi uma frustração muito grande para mim.
Prólogo – Você tem novamente vaga garantida na RAAM por ter sido campeão do Desafio 24 Horas. Já conseguiu patrocínio para disputar a prova?
RP – Ainda estou conversando com algumas empresas, e as expectativas são boas. A RAAM é a prova mais dura do planeta e exige uma logística muito grande. Tenho muita vontade de disputá-la, e os apoiadores são essenciais para isso. Acredito que os parceiros irão aparecer.
Prólogo – Já passou pela sua cabeça deixar o ciclismo devido à falta de incentivos?
RP – O ciclismo é uma coisa que está no sangue e não dá para pensar em parar. São onze anos no esporte e sempre precisei ter muita persistência. Mesmo sem patrocínio, sempre competi com atletas profissionais e os venci. Diversas vezes me decepcionei por acreditar que conseguiria um apoio e depois ele não vinha, hoje, não penso mais nisso. Mas nunca deixei de pedalar e isso não passa pela minha cabeça.
Prólogo –Como é sua preparação para as provas de longa distância?
RP – No início do ano, faço algumas provas mais curtas, para manter o ritmo, a motivação e o espírito competitivo, já que as competições longas geralmente são no fim da temporada. Os treinos nem sempre são como quero, pois preciso trabalhar e não tenho tempo para me dedicar tanto ao pedal.
Prólogo –O que é mais importante em uma prova de longa distância?
RP – É preciso conhecer muito bem os próprios limites, saber o que acontece em relação aos adversários, o clima do local, cuidar da alimentação e hidratação, tudo isso faz a diferença. Mas a concentração e o fator psicológico são fundamentais. É preciso estar preparado para todas as situações e não desistir na primeira dificuldade encontrada.
Prólogo –Em que competição você enfrentou maiores dificuldades?
RP – O Desafio 24 Horas deste ano. Foi uma prova de pura superação. Larguei muito forte e sempre alternei entre as três primeiras posições, mas não estava me sentindo muito bem, sofri muito durante a parte do dia devido ao calor. A pressão foi muito grande porque os outros adversários sempre andaram muito perto de mim. Mas não baixei a cabeça, porque sabia que meu forte é a parte noturna. Durante muito tempo, senti que estava pedalando quadrado, só quando parei para jantar passei a me sentir bem. Tive que ditar um ritmo forte para me recuperar. Este ano, o calor, o vento e a pressão dos rivais dificultaram muito as coisas.
Prólogo –Quais são seus planos para a próxima temporada?
RP – A minha prioridade é fazer a RAAM, o Mundial de ultra-ciclismo e o Desafio 24 Horas de Fortaleza, mas tudo isso depende dos apoios que conseguirei. Além disso, vou defender meu título do Campeonato Brasileiro e disputar algumas provas em Minas Gerais, como forma de preparação. Também existe a possibilidade de correr a Volta de São Paulo, mas ainda não está nada certo.
Prólogo –A Volta de São Paulo é uma competição completamente diferente das que você está acostumado. Como seria participar dela?
RP – Ainda não tenho nada certo. Existem algumas conversas e esta idéia está apenas no início. Caso dispute a RAAM, não competirei a Volta de São Paulo. Tudo depende de como as coisas acontecerão. Mas realmente é uma competição diferente, que exige outro tipo de treinamento e trabalho em equipe.
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