Cabeça em forma

Atualizado em 09 de maio de 2007
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Por Odara Gallo

As pernas ficam pesadas, os braços travam e a dor no baço aparece. A causa desses desconfortos pode não estar na falta de preparação física ou na tática errada adotada na prova. O problema pode estar na cabeça do corredor. Portanto, para correr bem e alcançar os objetivos pré-estabelecidos, é importante visualizar o processo da corrida e não se estressar com o que está por vir.

James Bauman, psicólogo do esporte e membro do Comitê Olímpico dos Estados Unidos, acredita na necessidade de focar tanto no treino físico quanto na preparação da mente para corridas profissionais e amadoras. “Você tem diversos potenciais de corrida. Mas, sem o treinamento da mente, é impossível chegar lá”, afirmou.

A ansiedade antes ou durante uma prova pode fazer com que o atleta tenha um desempenho abaixo do planejado nos treinos ou até sinta dores que normalmente não teria. É nesse momento que a preparação psicológica ganha maior importância e pode demarcar a linha entre o sucesso e o fracasso.

“Existem várias técnicas de treinar a mente. Elas devem acompanhar os treinos técnicos e táticos”, afirma Maurício Pires de Albuquerque, psicólogo do esporte formado pela UERJ e mestrando do Instituto de Psicologia da UFRJ.

Preparação pré-corrida
Examinar as performances passadas é o primeiro passo para alcançar o sucesso em uma prova. O técnico de treinamento da mente do departamento de atletismo da Duke University, Greg Dale, sempre pede aos corredores para eles descreverem o melhor e o pior de cada disputa. “Quero saber o que fizeram nas provas que correram bem e nas que tiveram péssimo desempenho para ajudar cada atleta da melhor maneira”, contou Greg.

A segunda atitude a ser tomada para ter a mente tranqüila é fazer um plano de corrida. Uma dica interessante é conhecer o percurso, usar os pontos de referência a seu favor e simular mentalmente toda a prova. “A concentração é muito importante e, por isso, penso sempre positivo e mentalizo antes o que vou fazer. Preparo meu cérebro para receber determinada carga de exercícios por determinado tempo para que nada seja surpresa na hora”, conta Andrea Carloni, corredora e gerente bancária, do Rio de Janeiro.

Na fase de preparação, também é importante entender as próprias emoções e pensar positivo. “O autoconhecimento é fundamental para saber se certa dor é mesmo um problema físico”, alerta Maurício Pires de Albuquerque.

Para completar, os treinadores recomendam exercícios que tencionem e relaxem cada grupo muscular, dos pés à cabeça. Uma boa dica é, antes de dormir, passar dez segundos tencionando cada músculo e outros dez relaxando-o. Afinal, saber como eles se comportam em cada estado ajuda a reconhecer e a liberar a tensão no dia da prova.

A vilã do descontrole
O psicólogo do esporte Maurício de Albuquerque acredita que a cobrança excessiva é a maior vilã. A alternativa é, portanto, focar na meta estabelecida e evitar a comparação com outros atletas. Outra dica é ficar de olho nas classificações por faixa etária ou de algum grupo que esteja mais próximo da sua realidade. O corredor deve levar em consideração que aquela atividade é exercida apenas por lazer e que a comparação com atletas de alta performance, por exemplo, é completamente descabida.

Depois da preparação da mente nos treinos, a melhor saída é colocar em prática tudo o que foi exercitado para deixar a cabeça em forma.

A idéia principal é manter a mente ocupada. O monólogo mental é um aliado na hora em que bate aquela vontade de desistir. Pensar no tempo de preparação e em todos os quilômetros que já foram vencidos pode manter longe as idéias pessimistas.

“No momento das grandes dificuldades em uma prova, lembro dos treinos e o quanto me dediquei para vencer meus próprios desafios. Penso sempre no que já fiz e que está faltando pouco para terminar”, contou a atleta Andrea Carloni.

Final feliz
Se para manter o corpo bem-preparado para o próximo desafio é necessário continuar com a rotina de treinos, para que a cabeça fique em forma é fundamental avaliar o quanto você se saiu bem na última empreitada. “Caso não tenha corrido sua melhor prova, dê-se dez minutos de baixo-astral e, então, siga em frente. Afinal, a corrida melhora sua qualidade de vida e não tem o objetivo de trazer aspectos negativos ao dia-a-dia”, acredita Aimee Kimball, Ph.D. e diretora de treinamento da mente do Centro de Medicina Esportiva da University of Pittsburgh, nos Estados Unidos.