Aplicação de gelo

Atualizado em 09 de outubro de 2019
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Por Fausto Fagioli Fonseca

A utilização de gelo para curar inflamações e problemas médicos no geral é uma prática milenar, e já era adotada por gregos e romanos, que aproveitavam o gelo natural para tratar os pacientes. Nos dias de hoje, o processo evoluiu, e a técnica conhecida como crioterapia ganha cada vez mais espaço no processo de recuperação do atleta.

A crioterapia pode ser definida como aplicação geral ou local de baixas temperaturas ao corpo que resulte na retirada do calor corporal, diminuindo assim a temperatura tecidual. Essa redução de temperatura pode ser feita nas formas líquida (por meio da água), gasosa (em aplicação de gases e sprays a temperaturas baixas) ou sólida (com gelo).

“A aplicação de gelo para recuperação vem de muito antigamente, mas o uso para recuperação de atletas começou a ser mais difundida na Europa e nos Estados Unidos. No Brasil, a utilização da crioterapia ainda está no início e tem muito a evoluir”, afirma Raul Santo de Oliveira, fisiologista e médico do esporte.

“Essa técnica é utilizada principalmente no atletismo, e tem como função a recuperação do corredor após o treino ou uma prova intensa. Após o desgaste físico grande, o atleta sofre algumas minilesões e, com a aplicação de gelo, essa recuperação é muito mais rápida e o atleta recobra o ritmo com mais velocidade”, completa Oliveira.

“Corro há seis anos, comecei na São Silvestre, mas desde moleque, quando jogava bola na rua, já usava gelo depois das partidas, para aliviar as dores musculares ou de alguma pancada. Dessa forma, trouxe isso para a corrida”, conta Fábio Brandão, 33, publicitário.

“Sempre uso dessa técnica com meus atletas, pois sei que ajuda na prevenção de lesões. A aplicação do gelo produz uma anestesia, o que diminui os espasmos musculares e ainda ajuda no relaxamento dos músculos”, diz o treinador Luís Eduardo Tavares, diretor técnico da E.C. Tavares.

Benefícios
Os benefícios do uso adequado da crioterapia são muitos, como a ação preventiva antiinflamatória de rápido resultado, a diminuição de fadiga e espasmos musculares e a rápida ativação circulatória. “A crioterapia é muito usada em casos de lesão. Na recuperação do atleta após o treino e provas, ela ajuda bastante na recuperação do processo antiinflamatório, pois aumenta a pressão nos vasos, aumentando também a circulação de oxigênio”, destaca Paulo Correia, mestre em fisiologia do exercício pela Unifesp.

“Corro há mais de quatro anos, e, há uns dois anos, sofri uma lesão no joelho e tanto meu médico quanto meu treinador indicaram o uso dessa técnica após os treinamentos e corridas. Senti uma melhora significativa nas dores, ajudou bastante nessa recuperação”, conta Roberta Lobato, 29, psicóloga.

“O uso do gelo pós-exercícios ajuda bastante na prevenção de dores no atleta, além de prevenir lesões. Ela faz também com que o corpo volte ao normal, já que o organismo sofre uma espécie de agressão, uma sobrecarga. A recuperação é mais rápida”, explica Tavares. “Acredito que essa técnica seja principalmente preventiva. Uso bastante para dores no joelho. Mas no sentido de recuperar o corpo ela também ajuda muito. Depois de provas muito longas, a utilização do gelo faz a recuperação ser bem mais rápida, ajudando assim a preparação para a próxima prova”, afirma Brandão.

Cuidados
O uso do gelo pode ser feito com bolsas térmicas ou o “banho de imersão”, em que o atleta entra com o corpo até a cintura em uma banheira ou tanque cheio de água com gelo. Nos dois casos, é muito importante atentar para o tempo do tratamento.

“O processo não pode levar muito mais que alguns minutos. No caso de imersão, o tempo de contato com o gelo deve ser de quatro a seis minutos. Se aplicado em áreas isoladas, com o auxílio de bolsas de gelo, o tempo ideal são 20 minutos”, explica Raul Santo de Oliveira. “Se a exposição ao gelo ou a temperaturas for muito longa, pode causar algumas lesões. As células podem morrer, com a baixa circulação de sangue. Por isso, logo que o atleta achar que não está aguentando mais o frio, deve parar a aplicação”, alerta o fisiologista.

As partes mais delicadas do corpo exigem cuidados ainda maiores. “O corredor deve tomar cuidado com a aplicação do gelo em locais como o rosto, costas ou peitoral, já que ficam próximos de alguns órgãos vitais, e a exposição deles a uma temperatura baixa não é muito boa”, orienta Correia. “Outro ponto que o atleta deve tomar cuidado é com a aplicação nas articulações. Se ela for feita no joelho, por exemplo, não pode passar de dez minutos e, após isso, o corredor não deve mexer a perna, senão pode causar uma lesão grave”, conclui o médico.