Amor próprio para ser feliz

Atualizado em 08 de julho de 2008
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Por Thays Biasetti

O mundo acordou cinza. Fora da janela, uma neblina cobre a cidade. E dentro do quarto, uma nuvem paira sobre a sua cabeça. Você olha no guarda-roupa lotado e não consegue encontrar uma roupa que caia bem. Você se sente o ser mais desprezível da face da terra. Essa é uma situação que pode até acontecer às vezes, quando brigou com alguém ou está estressado, mas se esse sentimento é freqüente, é melhor ficar atento. A sua auto-estima deve estar em baixa, o que provavelmente está prejudicando sua qualidade de vida e os relacionamentos sociais.

A auto-estima é o modo como vemos a nós mesmos, o nosso amor próprio, o sentimento que cultivamos pelo nosso “eu”. A psicóloga e psicodramista de São Paulo, Sylvia Sabbato, disse que as pessoas têm o costume de associar a auto-estima com algo negativo. “É o conceito que alguém tem sobre si mesmo e pode ser tanto positivo quanto negativo. Se a pessoa se vê de uma maneira boa, essa auto-estima é positiva, alta”, comentou. O amor próprio não está ligado apenas à beleza, mas também a outros aspectos da vida. “A pessoa pode ter a auto-estima profissional ruim, mas a pessoal boa. Não há necessariamente uma ligação. Mas quando não estamos bem conosco em um âmbito qualquer, isso afeta toda nossa vida”, disse Sylvia.

A professora de Yoga Juliana Camargo, da Oficina do Ser, acredita que o problema está nos falsos valores. “O número de pessoas com auto-estima baixa é grande por causa da educação errada. As pessoas aprendem que devem ser bonitas, saradas e se relacionar com os outros com apego, ciúmes e sentimentos negativos. Isso leva a uma depreciação do próprio ser”, comentou.

O modo como alguém se enxerga é formado na mente durante a infância. Por meio da educação dos pais e dos estímulos que recebe, a pessoa cria no cérebro o jeito que vai enxergar o mundo. “A personalidade de alguém é formada na infância, e isso inclui a auto-estima. A criança cria o seu amor próprio do exemplo que ela vê nos pais. É importante que os adultos estimulem os filhos e sempre os incentivem e dêem apoio em suas realizações, para que essa criança tenha uma auto-estima positiva quando crescer”, explicou a psicóloga de São Paulo. O fortalecimento do caráter vai fazer com que o adulto consiga enfrentar os problemas de uma forma mais positiva. “Se a pessoa cresce insegura, sem confiança nas coisas que faz, quando bate qualquer dificuldade na vida, a auto-estima abaixa e isso pode até levar à depressão”, alertou Sylvia.

Beleza de novela
Os problemas neste âmbito acontecem quando a pessoa não consegue se aceitar como é. A falta de tempo para entrar em contato com os próprios desejos faz com que o ser humano perca o foco. “Como as pessoas não se conhecem mais, elas acabam seguindo modelos e, quando não alcançam esses modelos, sentem-se frustradas e inferiorizadas”, comentou Rosângela Bassoli, psicóloga e professora de Yoga do Instituto de Yogaterapia, de Campinas.

Padrões estabelecidos pela mídia fazem com que, cada vez mais, homens e mulheres sintam que não são bonitos, bem vestidos ou magros o bastante para conseguirem ser bem-sucedidos. As revistas, jornais e programas de TV mostram pessoas magras, bonitas e praticamente perfeitas que se deram bem no trabalho e na vida pessoal. “Todos estão voltados para o externo e não conseguem se perceber como alguém único que tem necessidades únicas”, completou Rosângela. O resultado é visto nas clínicas de cirurgias plásticas lotadas e em meninas que sofrem de distúrbios alimentares ainda na pré-adolescência. “O ser humano é um ser biopsicossocial, isto é, vive inserido em um mundo que influencia biologicamente, psicologicamente e socialmente. É impossível não sermos afetados pela mídia, mas é importante encontrarmos o equilíbrio”, comentou Sylvia.

Mas as pessoas se esquecem que a beleza midiática é fabricada às custas de muita dieta, exercícios, cabeleireiros, maquiagem e até efeitos tecnológicos. Ninguém é perfeito assim na vida real. “Devemos sempre lembrar que os símbolos de sucesso também comentem erros. Às vezes, erros bem maiores do que os que nós cometemos. Nós somos humanos e como humanos não conseguimos acertar sempre”, lembrou Sylvia. Também é preciso recordar que mesmo as pessoas mais bonitas têm defeitos. A diferença é que elas escondem as partes negativas e sabem valorizar os pontos fortes. “Seja crítico com você mesmo, mas de uma maneira positiva, para melhorar. Não tente apenas achar defeitos em você e acreditar que um estado transitório seja permanente”, disse Juliana.

Um problema comum
A baixa auto-estima é uma característica comum, até em pessoas que são consideradas padrões de beleza. Uma pesquisa feita pela City University de Londres com 109 pessoas mostrou que modelos sofrem mais com a baixa auto-estima do que as pessoas que não trabalham no mundo da moda. O estudo entrevistou 56 modelos e 53 pessoas de outras profissões (entre homens e mulheres) sobre como se sentiam em relação a eles mesmos. De acordo com a pesquisa, modelos são mais insatisfeitos consigo mesmo do que as outras pessoas.

Isso mostra que a tentativa de se enquadrar em um padrão estético pré-estabelecido é o que gera a infelicidade e a não aceitação do próprio corpo. Ninguém vai ser a Gisele Bündchen se não tiver um tipo físico para isso. Cada pessoa tem algumas características genéticas que estabelecem como vai ser. Não adianta querer ser o que não é. “Respeite seus limites e seus desejos. Se quiser seguir algum modelo, siga algum que seja plausível à sua vida e ao seu biótipo. Não tente ser algo totalmente impossível”, explicou Rosângela.

É importante tentar descobrir quais são os pontos (internos e externos) que mais gosta para conseguir valorizá-los e deixar de viver infeliz. “Olhe para trás e faça um balanço de sucessos e fracassos. Vai perceber que a vida tem muito mais vitórias”, orientou Sylvia.

Cada pessoa é perfeita da sua maneira. Talvez você não tenha os olhos claros como aquela atriz de cinema, mas consegue mostrar sua essência através deles de um jeito que só você sabe.

Sylvia também lembrou que o contato com outras pessoas vai mudar o jeito de ver a si mesmo e ser eternamente feliz. “Desenvolva trabalhos em grupo para ter um retorno. A auto-estima é algo interno, por isso é difícil verificar sozinho como está se saindo”, disse. Tente se conhecer e melhorar os relacionamentos, principalmente com você mesmo. Siga a sua vontade e o seu coração para não entrar em atrito com os sentimentos. O Yoga é uma boa maneira de ajudar a entrar em contato com o interior. “A prática traz autoconhecimento e confiança. Praticar meditação, asanas, danças e fazer parte de grupos de estudo vão ajudar a melhorar a auto-estima”, finalizou Juliana.

Mas se a sua falta de motivação e de amor próprio estiverem muito baixos, a ponto de impedirem você de realizar coisas que gosta, é melhor procurar um especialista para um tratamento individual e aprofundado.